31 de dezembro de 2015

Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus



Neste dia, a liturgia coloca-nos diante de evocações diversas, ainda que todas importantes.
Celebra-se, em primeiro lugar, a Solenidade da Mãe de Deus: somos convidados a olhar a figura de Maria, aquela que, com o seu sim ao projecto de Deus, nos ofereceu a figura de Jesus, o nosso libertador. Celebra-se, em segundo lugar, o Dia Mundial da Paz: em 1968, o Papa Paulo VI quis que, neste dia, os cristãos rezassem pela paz. Celebra-se, finalmente, o primeiro dia do ano civil: é o início de uma caminhada percorrida de mãos dadas com esse Deus que nunca nos deixa, mas que em cada dia nos cumula da sua bênção e nos oferece a vida em plenitude. As leituras de hoje exploram, portanto, diversas coordenadas. Elas têm a ver com esta multiplicidade de evocações.
Na primeira leitura, sublinha-se a dimensão da presença contínua de Deus na nossa caminhada, como bênção que nos proporciona a vida em plenitude.
Na segunda leitura, a liturgia evoca outra vez o amor de Deus, que enviou o seu “Filho” ao nosso encontro, a fim de nos libertar da escravidão da Lei e nos tornar seus “filhos”. É nessa situação privilegiada de “filhos” livres e amados que podemos dirigir-nos a Deus e chamar-Lhe “papá”.
O Evangelho mostra como a chegada do projecto libertador de Deus (que veio ao nosso encontro em Jesus) provoca alegria e contentamento por parte daqueles que não têm outra possibilidade de acesso à salvação: os pobres e os débeis. Convida-nos, também, a louvar a Deus pelo seu cuidado e amor e a testemunhar a libertação de Deus aos homens.
Maria, a mulher que proporcionou o nosso encontro com Jesus, é o modelo do crente que é sensível ao projecto de Deus, que sabe ler os seus sinais na história, que aceita acolher a proposta de Deus no coração e que colabora com Deus na concretização do projecto divino de salvação para o mundo.
(conf. dehonianos.org)

26 de dezembro de 2015

Santo Estêvão



Os Doze Apóstolos fazem a imposição das mãos e instituem os Sete novos responsáveis. Num primeiro momento são encarregados de organizar a partilha na comunidade: ajudas, refeições. Ficando ao Apóstolos mais livres para o ensino da Palavra.

Entre estes homens Estêvão é o que aparece em primeiro lugar, talvez fosse o chefe.
Ele é de cultura grega e fala para os judeus vindos da Diáspora entre eles há descendentes de antigos escravos que tinham sido levados como prisioneiros e regressaram depois de se tornarem livres, são os chamados «libertos». Estêvão discute fortemente com eles, deixando-os sem argumentos para contrariarem Estêvão. À falta de argumentos, eles denunciam-no às autoridades judaicas.

Estêvão comparece diante do Sinédrio. De novo são, O Sumo Sacerdote e ao anciãos que julgam Estêvão, tal como já tinha acontecido com Jesus alguns anos antes.
Estêvão faz um discurso que deixa o sinédrio irritado. Decidem que seja apedrejado e é arrastado para fora da cidade. Atiram-lhe pedras. Matam Estêvão à pedrada. É ele o primeiro discípulo condenado à morte por causa de Jesus. É um homem corajoso.

No meio de todos quantos o apedrejavam estava um jovem fariseu, Saulo de Tarso, que assistiu ao linchamento e aprovando a execução. Tinham-lhe ensinado que não se transige nem com a Lei, nem com as autoridades religiosas.

Esta morte de Estêvão vai marcar o ponto de partida de uma violenta perseguição aos primeiros cristãos. Muitos tiveram que fugir de Jerusalém. Aqui começa a expansão da Boa Nova fora de Jerusalém.  (cf. Actos dos Apóstolos 6, 8-15; 7, 54-59).


A Igreja fixou a memória de Estêvão no dia a seguir à Natividade de Cristo Senhor (26de dezembro), sublinhando assim a ligação entre a incarnação e o martírio.

20 de dezembro de 2015

O EMBARAÇO DOS “SEM”


...Hoje somos convidados a passar por esta porta, pela porta da misericórdia e passar por aqui, não é só um deixar-se olhar, como os nossos pais primeiros, no jardim onde primeiramente deveriam escutar o convite de Deus para a confiança. Eles não escutaram e esconderam-se por vergonha, para depois aparecerem na acusação de um ao outro. Passar pela porta da misericórdia é sobretudo um deixar-se olhar na confiança de um perdão que nos faz enviados a todos os que vivem embaraçados pela sua condição. Maria deixou-se olhar por Deus, porque em Deus experimentou um olhar que em nada era embaraçador ou dominar. Maria experimentou o olhar gracioso de Deus, casto e respeitoso, pronto a responder por aquela que na sua humildade deixou Deus fazer maravilhas....(artpinto)

19 de dezembro de 2015

Portas da Misericórdia



Uma das marcas do Jubileu Extraordinário da Misericórdia é a existência de “Portas de Misericórdia” em cada diocese e ainda nos principais santuários do mundo.
Estas portas foram estabelecidas para haver locais onde os fiéis, atravessando-as, “possam ser abraçados pela misericórdia de Deus e se comprometam a serem misericordiosos com os outros, como o Pai o é connosco”, como diz o Santo Padre na bula com que anunciou o jubileu.
A principal porta será em Roma
Em Portugal há 151 igrejas jubilares com a “porta da Misericórdia” cuja celebração de abertura começou a decorreu a partir do passado domingo.
A passagem pela porta da misericórdia concede aos fiéis uma indulgência plenária, mas não basta atravessar a estrutura.
Como sempre acontece com as indulgências, é necessário o fiel estar confessado, comungar e rezar pelas intenções do Santo Padre. Estes preceitos podem, se for preciso, ser cumpridos nos dias depois da passagem pela porta santa.

A Igreja ensina que o pecado fere o homem de duas formas, deixando-o com a culpa e com uma mancha. Enquanto a confissão limpa alma do penitente da culpa dos seus pecados, a mancha fica, sendo purificada no purgatório, após a morte. As indulgências permitem limpar a alma da mancha deixada por esse pecado. Assim, a indulgência pode ser obtida em nome próprio ou em nome de alguém que já tenha morrido

Porta Santa


Portas Santas na Diocese do Porto

Amarante e Baião: Igreja de São Gonçalo (Amarante)
Arouca-Vale de Cambra: Igreja do Convento de Santa Mafalda (Arouca) / Santuário de Santo António (Vale de Cambra)
Castelo de Paiva-Penafiel: Igreja do Calvário (Penafiel)
Espinho-Ovar: Igreja Matriz (Espinho) / Igreja Matriz (Ovar)
Felgueiras: Igreja Matriz (Felgueiras) / Santuário de Santa Quitéria
Gondomar: Igreja Matriz (Gondomar)
Lousada: Igreja do Senhor dos Aflitos (Lousada)
Maia: Santuário de Nossa Senhora do Bom Despacho (Maia)
Marco de Canaveses: Santuário do Menino Jesus de Praga (Avessadas)
Matosinhos: Igreja Matriz (Matosinhos)
Oliveira de Azeméis-São João da Madeira: Igreja de Cucujães
Paços de Ferreira: Igreja Matriz (Paços de Ferreira)
Paredes: Igreja Matriz (Castelões de Cepeda)
Porto Nascente e Porto Poente: Catedral
Santa Maria da Feira: Igreja Matriz (Santa Maria da Feira)
Santo Tirso: Igreja Matriz (Santo Tirso)
Trofa-Vila do Conde: Igreja de Nossa Senhora das Dores (Trofa) / Igreja Matriz (Árvore, Vila do Conde)
Valongo: Santuário de Nossa Senhora do Bom Despacho, Mão Poderosa e Santa Rita (Ermesinde)
Vila Nova de Gaia-Norte: Igreja Matriz (Mafamude)
Vila Nova de Gaia-Sul: Santuário do Coração de Maria (Carvalhos)
Mosteiro Beneditino de Singeverga: Igreja do Mosteiro

17 de dezembro de 2015

Senhora do Ó: tempo de gravidez e esperança



A liturgia católica evoca a partir do dia 17, Nossa Senhora do Ó.
“Esta evocação refere-se a Nossa Senhora de expectação, da esperança”

Deus iniciou pela Virgem Maria a obra da redenção humana, ao preservar de toda a mancha do pecado aquela que viria a ser a Mãe de Cristo (cf. Col. 8/12). É pois, com toda a naturalidade, que celebramos, nos primeiros dias do Advento, a solenidade da Imaculada, preparação radical da Virgem para a vinda do Salvador e feliz aurora da lgreja (cf. Marialis Cultus, 3).
As afirmações que melhor exprimem a fé da lgreja para com a Mãe de Deus encontram-se nos dias 17 a 24 de Dezembro: O Anjo do Senhor disse a Maria: Conceberás e darás à luz um Filho e o seu nome será Jesus ( 20/12); Bendita sejais, ó Virgem Maria, porque em vós se há-de cumprir a palavra do Senhor ( 21/12); Senhor, que no seio da bem-aventurada Virgem Maria quisestes realizar o grande mistério da Encarnação do Verbo ( 17/12); Deus eterno e omnipotente, ao aproximar-se o nascimento do vosso Filho, fazei-nos sentir a abundância da vossa misericórdia, que O fez encarnar no seio da Virgem Maria ( 23/12). A minha alma glorifica o Senhor, porque o Todo-Poderoso fez em mim maravilhas ( 22/12).
Mas é sobretudo no 4º. Domingo do Advento que a presença da Virgem atinge a sua máxima expressão, nas leituras bíblicas, nas orações e na bela antífona da comunhão: Eis que uma Virgem conceberá e dará à luz um Filho chamado Emanuel (4º. Dom. Adv).
A presença de Maria na liturgia do Advento tem um profundo sentido de exemplaridade. Assim como Deus pôs os olhos na humildade da sua serva, do mesmo modo os põe em cada crente que a imita. A exemplaridade de Maria há-de ser ponto de referência para a lgreja e para cada crente que, em continuidade com ela, têm a missão de preparar o mundo para a última vinda de Cristo Salvador.
Na aurora dos novos tempos, foi em Maria que a promessa feita por Deus aos patriarcas e aos profetas se transformou em Dom. Nos nossos, que são os últimos, há-de ser através de cada homem e de cada mulher que vivam à maneira de Maria, que Deus apressará a última vinda do seu Filho, e nos dará a graça de alcançarmos a herança do céu, onde, com a criação inteira, cantaremos eternamente a glória do Senhor.

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A liturgia católica evoca a partir de amanhã, dia 17, Nossa Senhora do Ó. “Esta evocação refere-se a Nossa Senhora de expectação, da esperança”, elucida Frei Lopes Morgado da Fraternidade do Centro Bíblico. As Antífonas do Ó são evocadas na liturgia das horas, as vésperas, preparando a última semana da caminhada do Advento para o Natal. Correspondem a pequenas orações que invocam Jesus Cristo.
Cada antífona começa com “Ó”, que sendo redondo sugere um ventre grávido, ou seja, a última fase de gestação de um bebé. “Supõe-se que uma semana antes do Natal Maria estaria já com um ventre bem visível, daí que o Ó redondo da letra fosse evocado também ao ventre redondo de Nossa Senhora”, explica Frei Lopes Morgado.
A liturgia do Advento pretende tornar evidente a esperança de Nossa Senhora, porque este tempo é de esperança. “Fica mais visível nesta última semana” e cantando a antífona do Ó, “estamos sempre a cantar a Cristo”. A última antífona do dia 23 é “Ó Emanuel”, evocando precisamente “o nascimento de Jesus”, sublinha o membro da Fraternidade do Centro Bíblico.
“Nesta altura toda a humanidade se volta para Maria, não porque ela é melhor que as outras mas porque ela carrega em si o Messias prometido"

12 de dezembro de 2015

João Batista:o profeta da preparação


São Lucas conta-nos com detalhe o anúncio do nascimento de João (Lc 1, 5-25).
O anúncio do nascimento de João é solene. Realiza-se no marco litúrgico do templo. 
Desde a designação do nome do menino, "João", que significa "Yahvé é favorável", tudo é concreta preparação divina do instrumento que o Senhor elegeu.
Sua chegada não passará despercebida e muitos se alegrarão com seu nascimento (Lc 1, 14); abster-se-á de vinho e bebidas embriagantes, será um menino consagrado e, como prescreve o livro dos Números (6, 1), não beberá vinho nem licor fermentado. João já sinal de sua vocação de asceta. O Espírito habita nele desde o seio de sua mãe. A sua vocação de asceta une-se à guia de seu povo (Lc 1, 17).
Precederá o Messias, papel que Malaquias (3, 23) atribuía a Elias. Sua circuncisão, facto característica, mostra também a eleição divina: ninguém em sua parentela tem o nome de João (Lc 1, 61), mas o Senhor quer que seja chamado assim mudando os costumes. O Senhor é quem o escolheu, é ele quem dirige tudo e guia seu povo.

O nascimento de João é motivo de um admirável poema (Benedictus) que, por sua vez, é ação de graças e descrição do futuro papel do menino. A Igreja canta esta poema todos os dias no final das Laudes reavivando sua ação de graças pela salvação que Deus lhe deu e em reconhecimento porque João continua mostrando-lhe "o caminho da paz".
O papel do precursor é muito precioso: prepara os caminhos do Senhor (Is 40, 3), dá a seu povo o "conhecimento da salvação. Todo o afã especulativo e contemplativo de Israel é conhecer a salvação, as maravilhas do desígnio de Deus sobre seu povo. O conhecimento dessa salvação provoca nele a ação de graças, a bênção, a proclamação dos benefícios de Deus que se expressa no "Bendito seja o Senhor, Deus de Israel".
Esta é a forma tradicional de oração de ação de graças que admira os desígnios de Deus. A salvação é a remissão dos pecados, obra da misericordiosa ternura de nosso Deus (Lc 1, 77-78). 
João deverá, pois, anunciar um batismo no Espírito para remissão dos pecados. Mas este batismo não terá apenas esse efeito. Será iluminação. A misericordiosa ternura de Deus enviará o Messias que, segundo duas passagens de Isaías (9, 1 e 42, 7), retomadas por Cristo (Jo 8, 12), "iluminará os que jazem entre as trevas e sombra da morte" (Lc 1, 79).O papel de João, "preparar o caminho do Senhor". Ele o sabe e designa a si mesmo, referindo-se a Isaías (40, 3), como a voz que clama no deserto: "Preparai o caminho do Senhor". Mais positivamente ainda, deverá mostrar àquele que está no meio dos homens, mas que estes não o conhecem (Jo 1, 26) e a quem chama, quando o vê chegar: "Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (Jo 1, 29).João corresponde e quer corresponder ao que foi dito e previsto sobre ele. Deve dar testemunho da presença do Messias. O modo de chamá-lo indica que o que Messias representa para ele: o "Cordeiro de Deus”. 
O Levítico, no capítulo 14, descreve a imolação do cordeiro em expiação pela impureza legal. Ao ler esta passagem, João, o evangelista, pensa no servidor de Yahvé, descrito por Isaías no capítulo 53, que carrega sobre si os pecados de Israel. João Batista, ao mostrar a Cristo a seus discípulos, o vê como a verdadeira Páscoa que supera a do Êxodo (12, 1) e da qual o universo obterá a salvação. Toda a grandeza de João Batista vem de sua humildade e ocultamento: "É preciso que ele cresça e que eu diminua" (Jo 3, 30).

Durante o Advento, a grande figura do Batista apresenta-se viva para nós. O próprio Cristo, retomando o texto de Malaquias (3,1), fala-nos de João como "mensageiro" (4); João designa a si mesmo como tal. São Lucas descreve João como um pregador que chama à conversão absoluta e exige a renovação: "Que os vales se levantem, que montes e colinas se abaixem, que o torcido se endireite, e o escabroso se iguale. Será revelada a glória do Senhor e todos os homens a verão juntos". Assim se expressava Isaías (40, 5-6) num poema tomado por Lucas para mostrar a obra de João. Trata-se de uma renovação, de uma mudança, de uma conversão que reside, sobretudo, num esforço para voltar à caridade, ao amor aos outros (Lc 3, 10-14). 
Lucas resume numa frase toda a atividade de João: 
"Anunciava ao povo a Boa Notícia" (Lc 3, 18).


Preparar os caminhos do Senhor, anunciar a Boa Notícia, é o papel de João e ele nos exorta a que nos empenhemos. (adap.Acidigital)

8 de dezembro de 2015

Imaculada Conceição e a história de Portugal




As Nações sobrevivem à erosão do tempo e permanecem vivas na história dos povos se prosseguirem na fecundidade que lhes vem da sua espiritualidade e da sua cultura. A diluição espiritual e cultural de um povo significará inevitavelmente a perca da sua identidade e a sua fusão num hoje sem futuro.
A História de Portugal regista dois momentos altos na recuperação da sua independência: a Revolução 1383-1385 e a Restauração de 1640.
Na Revolução de 1383-1385 salienta-se o cerco de Lisboa, que durou cerca de cinco meses e terminou em princípios de setembro de 1384, acentuando-se durante o assédio, o significado da vitória alcançada por D. Nuno Alvares Pereira em Atoleiros a 6 de abril de 1384 e a eleição do Mestre de Aviz para Rei de Portugal, curiosamente a 6 de abril de 1385. Em 15 de agosto travou-se a Batalha de Aljubarrota, sob a chefia de D. Nuno Alvares Pereira, símbolo da vitória e da consolidação do processo revolucionário de 1383-1385.
No movimento da restauração destaca-se a coroação de D. João IV como Rei de Portugal, a 15 de dezembro de 1640, no Terreiro do Paço em Lisboa.
A Solenidade da Imaculada Conceição liga estes dois acontecimentos decisivos na História da independência de Portugal e no contexto das Nações Europeias. Segundo secular tradição foi o condestável D. Nuno Alvares Pereira quem fundou a Igreja de Nossa Senhora do Castelo em Vila Viçosa e quem ofereceu a imagem da Virgem Padroeira, adquirida na Inglaterra. Este gesto do Contestável reconhece que a mística que levou Portugal à vitória veio da devoção de um povo a Nossa Senhora da Conceição.
Aliás, já desde o berço, já aquando da conquista de Lisboa por D. Afonso Henriques, havia sido celebrado um pontifical de ação de graças, em Lisboa, em honra da Imaculada Conceição.
A espiritualidade que brotava da devoção a Nossa Senhora da Conceição foi novamente sublinhada no gesto que D. João IV assumiu ao coroar a Imagem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa como Rainha de Portugal nas cortes de 1646.
Esta espiritualidade imaculista foi igualmente assumida por todos os intelectuais, que na prestigiada Universidade de Coimbra defenderam o dogma da Imaculada Conceição sob a forma de um juramento solene.
De tal modo a Imaculada Conceição caracteriza a espiritualidade dos portugueses, que durante séculos o dia 8 de dezembro foi celebrado como "Dia da Mãe" e João Paulo II incluiu no seu inesquecível roteiro da Visita Pastoral de 1982 dois Santuários que unem o Norte e o Sul de Portugal: Vila Viçosa no Alentejo e o Sameiro no Minho.
O dia 8 de dezembro transcende o "Dia Santo" dos Católicos e engloba indubitavelmente a comemoração da Independência de Portugal, que o dia 1 de dezembro retoma. O feriado do dia 8 de dezembro é religioso, mas é também celebrativo da cultura, da tradição e da espiritualidade da alma e da identidade do povo português.
Não menos importante, e em âmbito religioso e litúrgico, o tema da Imaculada Conceição da Virgem Maria é já abundantemente abordado pelos Padres da Igreja. Será o Oriente cristão o primeiro a celebrá-la. Festividade que chega à Europa Ocidental e ao continente europeu pelas mãos das cruzadas Inglesas nos séc. XI e XII. Vivamente celebrada pelos franciscanos a partir de 1263, será o também franciscano Sixto IV, Papa, que a inscreverá no calendário litúrgico romano em 1477.
De facto, o debate e a celebração desta festividade em toda a Europa é acompanhada pela história do próprio Portugal. Coimbra, como já vimos, tem um importante papel em todo este processo.
Em 8 de dezembro de 1854, viverá a Igreja o auge de toda esta riqueza teológica e celebrativa. Através da bula "Ineffabilis Deus", Pio IX, após consultar os bispos do mundo, definirá solenemente o dogma da Imaculada Conceição da Virgem Maria.
Não estamos diante de uma simples festa cristã ou de capricho religioso. O dogma resulta de tudo quanto a Igreja viveu até aqui e vive hoje em toda a sua plenitude. Faz parte da identidade da Igreja. Isso mesmo o prova o texto proclamado por Pio IX que apoia a sua argumentação nos Padres e Doutores da Igreja e na sua forma de interpretar a Sagrada Escritura. Ele, de facto, reconhece que este dogma faz parte, depois de muitos séculos, do ensinamento ordinário da Igreja.
Portugal, segundo Nuno Alvares Pereira, ou melhor, São Nuno de Santa Maria, e D. João IV isso mesmo o demonstram, não só como resultado da sua própria fé mas como expressão de um povo deveras agradecido pela sua Independência e Liberdade.


A Conceição Imaculada da Virgem é um dogma de fé segundo o qual Maria é considerada a primeira redimida pela Páscoa de Cristo.


P. Francisco Couto
Reitor do Santuário de Vila Viçosa, professor do Instituto Superior de Teologia de Évora
P. Senra Coelho, professor do Instituto Superior de Teologia de Évora, Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa
In Agência Ecclesia
Publicado em 06.12.2015

5 de dezembro de 2015

Isaías, o profeta

        


As leituras do Advento colocam-nos em contato com Isaías. Os textos evangélicos não dizem nada da personalidade do profeta Isaías, mas é citado frequentemente. Podemos até mesmo dizer que podemos advinha-lo presente nas palavras de Cristo.
É o profeta por excelência do tempo da espera, da esperança.

O profeta não é conhecido por outra coisa além de suas obras, mas estas são tão características que através delas podemos adivinhar e amar a sua pessoa. Surpreendente proximidade desta grande figura do século VIII antes de Cristo, que sentimos no meio de nós, quotidianamente, dominando-nos desde sua altura espiritual.
Isaías viveu em uma época de esplendor e prosperidade. Rara vez os reinos de Judá e Samaria haviam conhecido tal otimismo e sua posição política lhes permite sonhos ambiciosos. Sua religiosidade atribui a Deus a fortuna política e a religião espera dele novos sucessos. Em meio deste frágil paraíso, Isaías vai erguer-se valorosamente e cumprir sua missão: mostrar a seu povo a ruína que o espera por sua negligência. 

Pertencente sem dúvida à aristocracia de Jerusalém, alimentado pela literatura de seus predecessores, principalmente Amós e Oséias, Isaías prevê como eles, inspirado por seu Deus, o que será a história de seu país. Superando a situação presente na qual se misturam covardias e compromissos, vê o castigo futuro que direcionará os caminhos tortuosos. Isaías foi arrebatado pelo Senhor "no ano da morte do rei Ozias", por volta do ano 740, quando estava no templo, com os lábios purificados por uma brasa trazida por um serafim (Is 6, 113). A partir deste momento, Isaías já não se pertence. Não porque seja um simples instrumento passivo nas mãos de Yahvé; ao contrário, todo seu dinamismo vai ser colocado a serviço de seu Deus, convertendo-se em seu mensageiro. Mensageiro terrível que anuncia o despojo de Israel ao que só lhe restará um pequeno sopro de vida. 

O início da obra de Isaías, que originará a lenda do boi e do asno no presépio, marcam seu pensamento e seu papel. Yahvé é todo para Israel, mas Israel, mais estúpido que o boi que conhece seu dono, ignora seu Deus (Is 1, 2-3). 
(adapt. acidigital)


Isaias o profeta do advento

1 de dezembro de 2015

PARA TODOS OS “SEM” ÂNIMO


...O Advento é tempo para preparar o coração, há um imenso milagre a acontecer e é na oração que melhor o cuidamos, para que este seja uma cesta de misericórdia. Um espaço de acolhimento. O Advento é o tempo para aprender a acolher e melhor acolhe quem está pronto a dar mais do que presentes, mas a fazer-se presente. Não há melhor presente do que fazer-se presente a todos, sim, para todos. O Advento é o tempo para levantar a cabeça do imenso mar do consumismo, que nos afoga no individualismo, para acolher quem está para vir e vem, como já veio, na simplicidade de cada dia. Ele vem no presépio dos nossos dias, nestes dias tão comuns e atarefados como tantos outros. Há que acolhê-lo no íntimo do nosso ser, há que encontrar um lugar para Ele, um presépio, que será um sacrário, um lugar sagrado e, em nós, não há nada mais sagrado do que o coração, esse íntimo secreto que é nosso e de mais ninguém.... (artpinto )

29 de novembro de 2015

Primeiro Domingo Advento


Naquele tempo,
disse Jesus aos seus discípulos:
«Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas
e, na terra, angústia entre as nações,
aterradas (‘aporía = dificuldade para passar; falta, privação; necessidade, pobreza, apuro, sem meios, sem saída ou caminho que conduz ao nada) com o rugido e a agitação do mar.
Os homens morrerão (os homens perderão o sentido) de pavor,
na expectativa do que vai suceder ao universo,
pois as forças celestes serão abaladas.
Então, hão-de ver o Filho do homem vir numa nuvem,
com grande poder e glória.
Quando estas coisas começarem a acontecer,
erguei-vos e levantai a cabeça,
porque a vossa libertação está próxima.
Tende cuidado convosco,
não suceda que os vossos corações se tornem pesados (Baretwsin = carregado, pesado, fechado; estar pesado de embriagado, insensível)
pela intemperança, a embriaguez e as preocupações da vida,
e esse dia não vos surpreenda subitamente como uma armadilha, pois ele atingirá todos os que habitam a face da terra.
Portanto, vigiai e orai (deómenoi = oração; suplica, ligar-se) em todo o tempo (kairw = propício) em todo o tempo,
para que possais livrar-vos de tudo o que vai acontecer
e comparecer diante do Filho do homem».


Há que levantar a cabeça para ver mais longe, porque de cabeça caída ficamos fechados e cismados com tudo aquilo que nos aconteceu ou perdemos. Há que levantar a cabeça para conseguir ver um futuro inaudito. Este implica um coração limpo, leve, nada carregado pelo ideário do consumismo natalício ou pela dureza do negar-se a ver o sem saída de todas as saídas a que normalmente nos propomos. Orar: fazer-se disponível para a todo o momento acolher aquele que nos acolhe, mesmo antes de sabermos que em tudo procuramos uns braços que nos acolham. Oremos para que vivamos sempre ligados aos acontecimentos que semeiam em nós momentos de Primavera permanente (nascimento) (artpinto)

28 de novembro de 2015

Advento


Assim como a Páscoa tem um tempo de preparação, tem também o Natal um tempo litúrgico que o prepara, que recebeu o nome de Advento (=vinda). Como a Quaresma, é então o Advento um tempo forte na Igreja, com acentos litúrgicos especiais. Tem ele duas características, marcadas por dois momentos. O primeiro vai do primeiro domingo do Advento até o dia 16 de dezembro. Neste primeiro momento, a liturgia nos fala da segunda vinda do Senhor no fim dos tempos, a chamada escatologia cristã, aí presentes os temas do julgamento final, da vigilância, da missão de João Batista etc.. Costuma-se chamar esse primeiro momento de Advento escatológico. Já o segundo momento vai do dia 17 ao dia 24 de dezembro. É como que a "semana santa" do Natal. Nesse período, conhecido também como advento natalício, a liturgia vai nos falar mais diretamente da primeira vinda do Senhor, no Natal, tendo aí presente sempre a Virgem Maria.

No Advento temos quatro domingos, o terceiro chamado "Gaudete", isto é, domingo da alegria, já por ele como que antecipando as alegrias do Natal. Nesse domingo, a antífona de entrada, tomada de Fl 4,4-5, vai dizer: “Alegrai-vos, o Senhor está perto”. Além disso, no Ano B, a segunda leitura (1Ts 5,16-24) é uma exortação à alegria e à ação de graças, e, no Ano C, a segunda leitura vai ser o próprio texto de Fl 4,4-7. A cor litúrgica do domingo “Gaudete” pode ser o rosa.
Podemos dizer que os quatro domingos do Advento simbolizam os quatro grandes períodos em que Deus preparou a humanidade, de maneira progressiva, para a grande obra da redenção em Cristo. Esses quatro períodos são: 1º) O tempo que vai de Adão a Noé - 2º) O tempo de Noé a Abraão - 3º) O tempo de Abraão a Moisés - e 4º) O tempo que vai de Moisés a Cristo. Com Abraão começa, historicamente, a caminhada da salvação (Cf. Gn 12).

Os quatro domingos simbolizam também as quatro estações do ano solar e as quatro semanas do mês lunar. Aqui se pode ver a harmonia entre tempo histórico e tempo cósmico, principalmente quando vistos à luz do tempo litúrgico. Também a coroa do Advento, ou grinalda, em sua forma circular, com suas quatro velas, quer chamar nossa atenção, já no início do Ano Litúrgico, para o mistério de Deus que nele vamos celebrar. A cor verde dos ramos da coroa (pinheiro, principalmente), fala do mistério cristão, que nunca perde o seu verdor, e simboliza então a esperança e a vida eterna. No simbolismo das velas podemos ver não um sentido quantitativo da luz, mas o crescendo de sua intensidade, à medida que se aproxima o Natal. Por isso não são acesas já as quatro velas desde o início do Advento, mas no primeiro domingo acende-se uma; no segundo, duas; no terceiro, três; e no quarto domingo, quatro.

Três personagens bíblicos marcam o tempo do Advento, como se vê pelos textos bíblicos da liturgia. São eles: o profeta Isaías, São João Batista e a Virgem Mãe de Deus. Não é o Advento tempo penitencial, no sentido próprio e litúrgico, mas tempo de vigilância, de expectativa, de moderação, de sobriedade e de esperança. Por isso, a cor roxa não é muito apropriada para o Advento, podendo ser substituída pelo azul claro ou violeta, por exemplo, mas entendendo que a cor oficial é o roxo.

Mesmo sem ter uma data fixa de início, todos podem saber, sem dificuldade, quando se inicia o Advento, pois ele tem uma referência: 30 de novembro. Se, porém, 30 de novembro não for domingo, então o Advento começa no domingo mais próximo, na prática o domingo que fica entre os dias 27 de novembro e 3 de dezembro. Não nos esqueçamos de que com o Advento iniciamos não só o ciclo do Natal, mas também o novo Ano Litúrgico.


Nos domingos do Advento canta-se o Aleluia, mas não se canta o Glória. O fato de cantarmos o Aleluia mostra o carácter não penitencial do Advento, carácter que predominou no passado, tendo ressonâncias ainda hoje com a cor roxa, oficial, mas que, ao que tudo indica, será mudado no futuro. Já a omissão do Glória explica-se pelo comentário oficial às Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário, quando diz: “no Natal, o canto dos anjos deve ressoar como algo de inteiramente novo”. Se cantássemos então o Glória no Advento, no Natal tal canto não seria novidade.

27 de novembro de 2015

ANO LITÚRGICO e a sua formação



          A formação do Ano Litúrgico foi lenta. O ponto de partida foi a Páscoa que era celebrada todos os domingos, isto é, o "primeiro dia da semana": (At 20,7ss.). Uma vez fixada sua data pascal para celebrá-la com mais solenidade, foram surgindo os dias das festas a ela relacionadas: Ascensão (40 dias após a ressurreição . At 1,5); Pentecostes (50 dias depois da comemoração pascal - Lev 23, 15-16; At 2, 1ss.). Do mesmo modo foram escolhidos os dias para Ramos, Última Ceia, Paixão e Morte de  Jesus. A Quaresma surgiu para dar oportunidade aos catecúmenos de melhor se prepararem para o batismo, na Páscoa.
          Mas existem outros mistérios difíceis de ser precisados no calendário, ligados à vida do Senhor. Por exemplo: a comunidade cristã estava interessada em celebrar o nascimento de Jesus, e os evangelistas não disseram uma palavra a respeito do dia e do ano. Tinham consciência de que não escreviam a biografia do Mestre; então, mais que dados cronológicos, se interessaram pelo mistério do Deus-connosco. Circunstâncias históricas levaram a escolher o dia 25 de dezembro como a data natalícia de Jesus. Na ocasião, os romanos celebravam o solstício do inverno. Para eles, aquela noite começava a ser menos longa. Era a vitória da luz sobre as trevas.     Havia, então, uma festa pagã de Natalis invicti, isto é, do deus -sol que nascia e crescia para impor o domínio da luz. O significado se prestava para a mensagem do Natal: Jesus, o sol da justiça (Mal 4,2 ou 3,20), Jesus, a luz do mundo: Jo 8, 12. Deste modo, a festa pagã foi cristianizada e passou-se a celebrar o nascimento do Senhor no dia 25 de dezembro.
        
Como consequência lógica, é escolhido o dia 25 de março para a Anunciação de Nossa Senhora (Lc 1,26ss.) e outros dias, perto do Natal, para celebrações como: a Maternidade de Maria no primeiro dia do ano, Magos (Mt 2,1ss.) no dia 6 de janeiro, Sagrada Família.
          Mais ou menos da mesma maneira foram sendo escolhidos dias especiais para se comemorar São José, São João Batista e outros Santos.

          Assim foi se formando o atual Ano Litúrgico.



25 de novembro de 2015

Ano Litúrgico





O Ano Litúrgico é o tempo que marca as datas dos acontecimentos da História da Salvação. Não é como o ano civil, que começa em 1º de Janeiro e termina em 31 de Dezembro, mas começa no 1º domingo do Advento (preparação para o Natal) e termina no último sábado do tempo comum, que é na véspera do 1º domingo do Advento

O nosso Calendário Litúrgico tem raízes no Hebraico. Influências diversas determinaram celebrações e datas significativas, mobilizando e acrescentando ao vasto substrato cultural pré-Cristão novo simbolismo. À celebração do 'Mistério Pascal', acrescentaram-se festas ideológicas, devocionais e temáticas, bem como algumas celebrações relacionadas com a História da Igreja.
A celebração da Paixão e Ressurreição de Cristo constitui o "coração" do Ano Litúrgico. Este é constituído pelos Ciclos Festivos da Páscoa e do Natal, pelo chamado "Tempo Comum" e pelas outras Solenidades e Festas consagradas ao "Mistério da Redenção".
 A este conjunto dá-se a designação de "Proprium de Tempore" ou Temporale (Temporal). O Calendário dos Santos é chamado Santorale (Santoral), sendo divulgado nestas páginas o Calendário Romano Geral que prevalece sobre os Calendários Diocesanos e Religiosos (Ordens).

Com o aumento gradual do número de celebrações ao longo da História do Calendário Litúrgico, criou-se uma hierarquia através de precedências e 'Oitavas' (semanas festivas) privilegiadas. Hoje, apenas a Páscoa e o Natal têm Oitava. Após o Vaticano II, as Festas dividem-se em 'Solenidades', 'Festas' e 'Memórias' (Obrigatórias e Facultativas). 

Novo Ano Liturgico

22 de novembro de 2015

Para os "sem" REI


Certo dia um rei mandou prender o pintor mais famoso do seu reino. A acusação era simples: o pintor era um mentiroso, porque pintava um reino que não existia. Talvez tivesse sido esta a acusação de Jesus, traduzia para uma linguagem mais simples. Jesus, mais do que pintar um reino impossível, amassou a massa da vida humana com um fermento diferente para todos os corações. O rei que mandará prender o pintor argumentou que nunca tinha encontrado em todo o seu território cores tão rubras como aquelas que o pintor usava nos quadros onde explanava as paisagens do reino. Assim também Pilatos quando pergunta a Jesus pela verdade, porque nunca encontrara nas paisagens humanas o reino que este apresentou nas suas palavras e gestos, em todas as suas vivências.
Há um outro reino a ser edificado e para nós que estamos a crescer entre tanta violência, começa a ser difícil acreditar nessa outra possibilidade. Para nós, que fomos formados para construir o reinado do “eu” com tudo o que é “meu”, parece impossível aceitar o outro que, connosco, fará o reino do “nós”. Há todo um mundo de violência que grita por mais violência, segundo a velha máxima: “ódio gera ódio”. O objetivo último do terror é provocar medo para dividir os corações. Pilatos estava aterrado de medo diante de Jesus, mas principalmente diante dos Judeus, por isso só conhecia as soluções da violência. Jesus coloca-se diante de todos os impérios humanos, políticos, religiosos ou culturais e ideológicos sem medo, Ele nada tem que lhe possam tirar, porque tudo está pronto a dar, até a própria vida, Ele venceu todo o medo com o amor. Diante de Jesus, todos os reinos são dados em julgamento. A sua simplicidade e a Sua humildade fazem dele um homem para estar ao serviço e não para se servir, um rei que se entrega para não perder nenhum dos seus, que vai à cruz para não matar. Jesus é em tudo em Rei diferente, que não falseia nem pinta uma realeza que mais parece um deus para se adorar. Ele não pinta meramente um quadro, deixa-se amassar, toca a realidade e na realidade é amassado pelos diversos acontecimentos. Aqui Ele coloca um fermento novo, o amor. No amor toda a história pode ser amassada e o pão passa a alimentar a liberdade humana com outra possibilidade. A possibilidade de Jesus é a da verdade vivida no amor e a de um amor verdadeiro. Em Jesus há um outro reino, aquele outro do último ser primeiro.
É neste marco geodésico dos poderes humanos que entra o julgamento de Pilatos: tu és ou não rei? Como se reina sem poder? Ou como é possível governar com confiança, mas sem ostentação, sem imprimir medo nos corações? Como se é rei sacrificando-se pelos últimos? Nenhum dos poderes humanos acredita ser possível um rei assim, porque todos, servindo-se do poder, idolatram-se, enquanto Jesus faz do serviço um poder que questiona todos os outros. O verdadeiro poder está na capacidade de se fazer um com os outros, servindo com amor todos aqueles que os poderes humanos esquecem e condenam à miséria. Então há que percorrer as estradas poeirentas onde a humana condição se vê despojada da sua dignidade, fazendo visível a majestade própria de cada pessoa. Jesus sofre a pobreza de um povo miserável e não foge à necessidade de dar uma resposta a cada indigente. Ele sai do palácio das verdades humanas, feito de desculpas e escusas. Só assim, poderá no amor tocar cada um na sua situação e desafia-lo à vida. Ele próprio faz-se caminho de uma outra possibilidade, da possibilidade da felicidade na pobreza de espírito, nas lágrimas que choram a fragilidade das nossas soluções, na paz que se constrói com o perdão, com a mansidão que abre os corações para que sejam limpos de todos os medos que impedem a paz de ser o maior hino dos dias a serem vivos por cada um de nós. Jesus propõe um reino de paz, de quem se sabe amado de verdade e na verdade do perdão que se dá e que se recebe, amassa a história entre as mãos da liberdade e da justiça com o fermento do amor.
A condenação do mundo é óbvia, pois não acredita ser possível viver com verdade. Verdadeiramente, o mundo não vive, não arrisca a verdade, de se apresentar na varanda dos julgamentos e apresentar-se na sua debilidade. Pilatos apresenta Jesus: “eis o homem”, pensando que está a exibir um falso, contudo apenas faz patente a falsidade de todos os poderes que se autoinstituem como salvadores da justiça e da liberdade. Jesus sempre respeitou a liberdade de cada um: “que queres que Eu te faça”; “Mestre, que eu veja”. É verdade Senhor, é isto que Vos peço, que eu veja a justiça acontecer, fazendo-me menos para que cada um dos meus irmãos se saiba amado e nesse amor se liberte de tudo o que o aprisiona à miséria de não viver a sua dignidade de filho muito amado de Deus. Senhor que o vosso reino habite no meu coração e meu seja o reino que faz do pão o alimento para todos nós.( artpinto)

21 de novembro de 2015

Cristo Rei


O Ano Litúrgico da Igreja encerra com a Solenidade de Cristo Rei do Universo.

Cristo Rei foi uma das últimas celebrações instituída pelo Papa Pio XI, na época em que o mundo passava pelo pós-guerra de 1917, marcado pelo fascismo na Itália, pelo nazismo na Alemanha, pelo comunismo na Rússia, pelo marxismo-ateu, pela crise econômica, pelos governos ditatoriais que pairavam por toda a Europa, pela perseguição religiosa, pelo liberalismo e outros que levavam o mundo e o povo a afastar-se de Deus, da religião e da fé

O Papa Pio XI instituiu essa festa para que todas as coisas culminassem na plenitude em Cristo Senhor, simbolizado no que diz o Apocalipse: ”Eu sou o Alfa e o Ômega, Principio e Fim de todas as coisas.” (Ap1, 8) Ressalta a restauração e a reparação universal realizada em Cristo Jesus, Senhor da vida e da história.

Nessa festa, celebra-se também nossa participação no Reino de Deus, sob a condição de aderirmos à verdade trazida por Jesus, pela qual somos peregrinos que se dirigem à Casa do Pai, para participarmos da mesa do Reino e de assumirmos o compromisso do Evangelho.

Com esta solenidade termina o Ano Litúrgico e para nós cristãos faz-nos refletir em torno da vida de Jesus que significa a salvação, porque só Ele é o Rei, só Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida.

14 de novembro de 2015

A Figueira dará frutos


PARA TODOS OS “SEM”

Um mundo construído por nós e que poderíamos apelidar de “eu” ou “meu”, onde se sustem todo o nosso viver. Este mundo é feito de princípios expansivos e expandimos o “eu” para tudo o que possa ser “meu”. Logo, os outros entram neste mundo pelo sistema fronteiriço da conquista ou da posse. Verdadeiramente, não nos interessam enquanto não interessarem ao nosso mundo. E para o nosso mundo serão deverás importantes, quando importarem ao nosso “eu” um sem fim de possibilidades que o faça sentir em expansão.
Nas leituras deste Domingo escutávamos que o mundo terá um fim. Sim, é verdade, este mundo em que habitamos, que teve um princípio onde tudo começo e terá um fim. Mais importante é o fim para que foi criado e este é o seu fim. O fim será quando vier Miguel com o seu exército de anjos e será um tempo de angústia. Miguel virá para lutar connosco, por nós, contra tudo que em nós não luta por uma vida mais verdadeira, que faça do princípio o seu fim, ou dito de outra forma, mais ao estilo de Jesus, mais comunitária. Ele virá para dar fim ao nosso mundo expansivo e possessivo do “eu” que deseja viver só e só vive assim se no “meu viver”. Há um fim acontecer já, aquele que significa o fim do nosso mundo de sucesso e de comodismo. Este não tem em devida conta todos aqueles que são considerados impróprios para o consumo do nosso “eu” por isso não fazem parte do “meu” mundo.
Há imensa poeira a cobrir a nossa fé e esta poeira não permite que a vivamos com a alegria necessária. O “eu” com o seu instinto possessivo, que tudo quer tomar para si, porque teme tudo o que está fora de si, não tem a alegria necessária para contagiar todos os que o rodeiam, para colocar o seu destino nesse fim tão inoportuno, que é as mãos de Deus e já não em tudo aquilo que pode obter no mundo das suas conquistas. A noite facilmente pode cair sobre o nosso caminho e quando a noite cai, o caminho faz-se difícil e fácil é seguir umas quantas luzes que podem iluminar uns metros, os metros do mundo do “eu”. Tão pequeno e tão frustrante. Quando não permitimos que entre o sol da presença do Senhor, escurece o nosso acontecer, depressa entram as trevas da competição, do ciúme e das rivalidades. Tudo tentamos agarrar para nos segurarmos, mas em tudo experimentando uma insegurança em demasia. A comunidade deixa de ser uma possibilidade, uma mais valia, a família onde encontramos o amor que tantos procuramos que necessitamos de dar. O individualismo entra como fera atroz a corroer todos os laços que nos unem e a fazer entrar o vírus da desconfiança.
Nos dias do Senhor haverá sinais, que serão como sementes, fermento na massa deste mundo, que fará surgir um mundo completamente novo. Neste mundo do “eu” surgirá uma outra possibilidade. Os sinais do dia do Senhor já estão a aparecer. Não vedes? Nada de extraordinário, nada de cataclismos que assustem os corações, apenas sementes que fazem os corações mais disponíveis para abraçar os irmãos. Vê-se sim, na disponibilidade de tantos e tantos para verdadeiramente estarem ao serviço, para verdadeiramente acolherem o seu irmão, o abraçarem e trocarem de destino com ele. Vê-se em cada gesto de perdão, que cria maior explosão nos corações do que a big bang. Este novo mundo fará cair todas as estrelas e as suas constelações de admiradores. Neste novo mundo fará que o mundo do “eu” possessivo e dominador desapareça e um outro surgirá na humildade de quem se faz servidor dos outros cuidando de preparar outros para que assumem o seu lugar. Miguel lutará contra todo o sol e forças cósmicas que marcam um destino de posse e de angústia pelo que não se tem. Assim surgirá aquele mundo em que não ter é a possibilidade de tudo amar e quem nada tem, tudo tem, porque nada precisa.
Este não é o Domingo da depressão coletiva porque a liturgia da Palavra fala-nos do fim dos dias do mundo. Não, antes pelo contrário, fala-nos do início de um outro mundo em nós, o do Filho do Homem, de Deus, do amor que não é expansão do “eu”, mas abertura para fazer comunhão. Hoje, é Domingo, dia do Senhor, dia de comunhão. Façamos comunhão, mas antes exclamemos: Vem, Senhor Jesus, maranatha. Vem, Senhor, para que muitas mais sementes sejam lançadas abundantemente sobre os corações, para que estes vivam todos os dias como se fossem o último, o do encontro Convosco. Vem, Senhor, Jesus, para que as figueiras de doces figos de compaixão comecem já a brotar em pleno inverno da humanidade por se ter esquecido que o fim último de tudo é o amor.


13 de novembro de 2015

Tempo Comum XXXIII




Naquele tempo,
disse Jesus aos seus discípulos:
«Naqueles dias, depois de uma grande aflição,
o sol escurecerá e a lua não dará a sua claridade;
as estrelas cairão do céu
e as forças que há nos céus serão abaladas.
Então, hão-de ver o Filho do homem vir sobre as nuvens, com grande poder e glória.
Ele mandará os Anjos,
para reunir os seus eleitos dos quatro pontos cardeais,
da extremidade da terra à extremidade do céu.
Aprendei a parábola da figueira:
quando os seus ramos ficam tenros e brotam as folhas, sabeis que o Verão está próximo.
Assim também, quando virdes acontecer estas coisas,
sabei que o Filho do homem está perto, está mesmo à porta. Em verdade vos digo:
Não passará esta geração sem que tudo isto aconteça. Passará o céu e a terra,
mas as minhas palavras não passarão.
Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém os conhece:
nem os Anjos do Céu, nem o Filho;
só o Pai». 
Mc 13, 24-32
A todo o tempo há sinais, acontecimentos, que nos chama à conversão, a unir cada vez mais o nosso coração e a uni-lo no Senhor. Não precisamos de ter medo nem de nos precipitar. Não devemos é adormecer embalados pelas diversões ou preocupações da vida. Há que viver despertos para a todo o momento acolher os desafios que o Senhor nos lança e são desafios para amar mais. Esta é a única forma de unir o coração e a única forma de acolher Deus na nossa vida. Assim como o brotar da figueira assinala a proximidade do Verão assim também o rebentar do amor em cada um de nós, sinaliza a proximidade da vinda do Filho de Deus. esta vinda será sempre um dom  
 posted artpinto

16 de outubro de 2015

Explicação do Ano da Misericórdia.Inspirado em palavras do Papa Francisco, na Sagrada Escritura e nos ensinamentos da Igreja.Não é apenas para crianças.

Posted by Papa Francisco Dom de Deus on Quinta-feira, 24 de Setembro de 2015