PARA
TODOS OS “SEM”
Um
mundo construído por nós e que poderíamos apelidar de “eu” ou “meu”, onde se
sustem todo o nosso viver. Este mundo é feito de princípios expansivos e
expandimos o “eu” para tudo o que possa ser “meu”. Logo, os outros entram neste
mundo pelo sistema fronteiriço da conquista ou da posse. Verdadeiramente, não
nos interessam enquanto não interessarem ao nosso mundo. E para o nosso mundo
serão deverás importantes, quando importarem ao nosso “eu” um sem fim de
possibilidades que o faça sentir em expansão.
Nas
leituras deste Domingo escutávamos que o mundo terá um fim. Sim, é verdade,
este mundo em que habitamos, que teve um princípio onde tudo começo e terá um
fim. Mais importante é o fim para que foi criado e este é o seu fim. O fim será
quando vier Miguel com o seu exército de anjos e será um tempo de angústia.
Miguel virá para lutar connosco, por nós, contra tudo que em nós não luta por
uma vida mais verdadeira, que faça do princípio o seu fim, ou dito de outra
forma, mais ao estilo de Jesus, mais comunitária. Ele virá para dar fim ao
nosso mundo expansivo e possessivo do “eu” que deseja viver só e só vive assim
se no “meu viver”. Há um fim acontecer já, aquele que significa o fim do nosso
mundo de sucesso e de comodismo. Este não tem em devida conta todos aqueles que
são considerados impróprios para o consumo do nosso “eu” por isso não fazem
parte do “meu” mundo.
Há
imensa poeira a cobrir a nossa fé e esta poeira não permite que a vivamos com a
alegria necessária. O “eu” com o seu instinto possessivo, que tudo quer tomar
para si, porque teme tudo o que está fora de si, não tem a alegria necessária
para contagiar todos os que o rodeiam, para colocar o seu destino nesse fim tão
inoportuno, que é as mãos de Deus e já não em tudo aquilo que pode obter no
mundo das suas conquistas. A noite facilmente pode cair sobre o nosso caminho e
quando a noite cai, o caminho faz-se difícil e fácil é seguir umas quantas
luzes que podem iluminar uns metros, os metros do mundo do “eu”. Tão pequeno e
tão frustrante. Quando não permitimos que entre o sol da presença do Senhor,
escurece o nosso acontecer, depressa entram as trevas da competição, do ciúme e
das rivalidades. Tudo tentamos agarrar para nos segurarmos, mas em tudo
experimentando uma insegurança em demasia. A comunidade deixa de ser uma
possibilidade, uma mais valia, a família onde encontramos o amor que tantos
procuramos que necessitamos de dar. O individualismo entra como fera atroz a
corroer todos os laços que nos unem e a fazer entrar o vírus da desconfiança.
Nos
dias do Senhor haverá sinais, que serão como sementes, fermento na massa deste
mundo, que fará surgir um mundo completamente novo. Neste mundo do “eu” surgirá
uma outra possibilidade. Os sinais do dia do Senhor já estão a aparecer. Não
vedes? Nada de extraordinário, nada de cataclismos que assustem os corações,
apenas sementes que fazem os corações mais disponíveis para abraçar os irmãos.
Vê-se sim, na disponibilidade de tantos e tantos para verdadeiramente estarem
ao serviço, para verdadeiramente acolherem o seu irmão, o abraçarem e trocarem
de destino com ele. Vê-se em cada gesto de perdão, que cria maior explosão nos
corações do que a big bang. Este novo mundo fará cair todas as estrelas e as
suas constelações de admiradores. Neste novo mundo fará que o mundo do “eu”
possessivo e dominador desapareça e um outro surgirá na humildade de quem se
faz servidor dos outros cuidando de preparar outros para que assumem o seu
lugar. Miguel lutará contra todo o sol e forças cósmicas que marcam um destino
de posse e de angústia pelo que não se tem. Assim surgirá aquele mundo em que
não ter é a possibilidade de tudo amar e quem nada tem, tudo tem, porque nada
precisa.
Este
não é o Domingo da depressão coletiva porque a liturgia da Palavra fala-nos do
fim dos dias do mundo. Não, antes pelo contrário, fala-nos do início de um
outro mundo em nós, o do Filho do Homem, de Deus, do amor que não é expansão do
“eu”, mas abertura para fazer comunhão. Hoje, é Domingo, dia do Senhor, dia de
comunhão. Façamos comunhão, mas antes exclamemos: Vem, Senhor Jesus, maranatha.
Vem, Senhor, para que muitas mais sementes sejam lançadas abundantemente sobre
os corações, para que estes vivam todos os dias como se fossem o último, o do
encontro Convosco. Vem, Senhor, Jesus, para que as figueiras de doces figos de
compaixão comecem já a brotar em pleno inverno da humanidade por se ter
esquecido que o fim último de tudo é o amor.
(artpinto)
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