14 de novembro de 2015

A Figueira dará frutos


PARA TODOS OS “SEM”

Um mundo construído por nós e que poderíamos apelidar de “eu” ou “meu”, onde se sustem todo o nosso viver. Este mundo é feito de princípios expansivos e expandimos o “eu” para tudo o que possa ser “meu”. Logo, os outros entram neste mundo pelo sistema fronteiriço da conquista ou da posse. Verdadeiramente, não nos interessam enquanto não interessarem ao nosso mundo. E para o nosso mundo serão deverás importantes, quando importarem ao nosso “eu” um sem fim de possibilidades que o faça sentir em expansão.
Nas leituras deste Domingo escutávamos que o mundo terá um fim. Sim, é verdade, este mundo em que habitamos, que teve um princípio onde tudo começo e terá um fim. Mais importante é o fim para que foi criado e este é o seu fim. O fim será quando vier Miguel com o seu exército de anjos e será um tempo de angústia. Miguel virá para lutar connosco, por nós, contra tudo que em nós não luta por uma vida mais verdadeira, que faça do princípio o seu fim, ou dito de outra forma, mais ao estilo de Jesus, mais comunitária. Ele virá para dar fim ao nosso mundo expansivo e possessivo do “eu” que deseja viver só e só vive assim se no “meu viver”. Há um fim acontecer já, aquele que significa o fim do nosso mundo de sucesso e de comodismo. Este não tem em devida conta todos aqueles que são considerados impróprios para o consumo do nosso “eu” por isso não fazem parte do “meu” mundo.
Há imensa poeira a cobrir a nossa fé e esta poeira não permite que a vivamos com a alegria necessária. O “eu” com o seu instinto possessivo, que tudo quer tomar para si, porque teme tudo o que está fora de si, não tem a alegria necessária para contagiar todos os que o rodeiam, para colocar o seu destino nesse fim tão inoportuno, que é as mãos de Deus e já não em tudo aquilo que pode obter no mundo das suas conquistas. A noite facilmente pode cair sobre o nosso caminho e quando a noite cai, o caminho faz-se difícil e fácil é seguir umas quantas luzes que podem iluminar uns metros, os metros do mundo do “eu”. Tão pequeno e tão frustrante. Quando não permitimos que entre o sol da presença do Senhor, escurece o nosso acontecer, depressa entram as trevas da competição, do ciúme e das rivalidades. Tudo tentamos agarrar para nos segurarmos, mas em tudo experimentando uma insegurança em demasia. A comunidade deixa de ser uma possibilidade, uma mais valia, a família onde encontramos o amor que tantos procuramos que necessitamos de dar. O individualismo entra como fera atroz a corroer todos os laços que nos unem e a fazer entrar o vírus da desconfiança.
Nos dias do Senhor haverá sinais, que serão como sementes, fermento na massa deste mundo, que fará surgir um mundo completamente novo. Neste mundo do “eu” surgirá uma outra possibilidade. Os sinais do dia do Senhor já estão a aparecer. Não vedes? Nada de extraordinário, nada de cataclismos que assustem os corações, apenas sementes que fazem os corações mais disponíveis para abraçar os irmãos. Vê-se sim, na disponibilidade de tantos e tantos para verdadeiramente estarem ao serviço, para verdadeiramente acolherem o seu irmão, o abraçarem e trocarem de destino com ele. Vê-se em cada gesto de perdão, que cria maior explosão nos corações do que a big bang. Este novo mundo fará cair todas as estrelas e as suas constelações de admiradores. Neste novo mundo fará que o mundo do “eu” possessivo e dominador desapareça e um outro surgirá na humildade de quem se faz servidor dos outros cuidando de preparar outros para que assumem o seu lugar. Miguel lutará contra todo o sol e forças cósmicas que marcam um destino de posse e de angústia pelo que não se tem. Assim surgirá aquele mundo em que não ter é a possibilidade de tudo amar e quem nada tem, tudo tem, porque nada precisa.
Este não é o Domingo da depressão coletiva porque a liturgia da Palavra fala-nos do fim dos dias do mundo. Não, antes pelo contrário, fala-nos do início de um outro mundo em nós, o do Filho do Homem, de Deus, do amor que não é expansão do “eu”, mas abertura para fazer comunhão. Hoje, é Domingo, dia do Senhor, dia de comunhão. Façamos comunhão, mas antes exclamemos: Vem, Senhor Jesus, maranatha. Vem, Senhor, para que muitas mais sementes sejam lançadas abundantemente sobre os corações, para que estes vivam todos os dias como se fossem o último, o do encontro Convosco. Vem, Senhor, Jesus, para que as figueiras de doces figos de compaixão comecem já a brotar em pleno inverno da humanidade por se ter esquecido que o fim último de tudo é o amor.


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