24 de março de 2006

Eucaristia e Catequese

Ao ler um discurso do Papa Bento XVI, gostaria de o partilhar. Era sobre perguntas feitas por crianças que tinham feito a Primeira Comunhão. Entre essas perguntas, algumas me fizeram pensar, como por simples palavras se pode explicar o que por vezes é difícil de entender.
Livia: "Santo Padre, antes do dia da minha Primeira Comunhão confessei-me. Depois, confessei-me outras vezes. Mas, gostaria de te perguntar: devo confessar-me cada vez que recebo a Comunhão? Mesmo quando cometo os mesmos pecados? Porque eu sei que são sempre os mesmos".

BentoXVI: Diria duas coisas: a primeira, naturalmente, é que não te deves confessar sempre antes da Comunhão, se não cometeste pecados graves que necessitam ser confessados. Portanto, não é preciso confessar-te antes de cada Comunhão eucarística. Este é o primeiro ponto. É necessário somente no caso em que cometes um pecado realmente grave, que ofendes profundamente Jesus, de forma que a amizade é destruída e deves começar novamente. Apenas neste caso, quando se está em pecado "mortal", isto é, grave, é necessário confessar-se antes da Comunhão. Este é o primeiro ponto. O segundo: embora, como disse, não é necessário confessar-se antes de cada Comunhão, é muito útil confessar-se com uma certa regularidade. É verdade, geralmente, os nossos pecados são sempre os mesmos, mas fazemos limpeza das nossas habitações, dos nossos quartos, pelo menos uma vez por semana, embora a sujidade é sempre a mesma. Para viver na limpeza, para recomeçar; se não, talvez a sujeira não possa ser vista, mas se acumula. O mesmo vale para a alma, por mim mesmo, se não me confesso a alma permanece descuidada e, no fim, fico satisfeito comigo mesmo e não compreendo que me devo esforçar para ser melhor, que devo ir em frente. E esta limpeza da alma, que Jesus nos dá no Sacramento da Confissão, ajuda-nos a ter uma consciência mais ágil, mais aberta e também de amadurecer espiritualmente e como pessoa humana. Portanto, duas coisas: confessar é necessário somente em caso de pecado grave, mas é muito útil confessar regularmente para cultivar a pureza, a beleza da alma e ir aos poucos amadurecendo na vida.
Andrea: "A minha catequista, ao preparar-me para o dia da minha Primeira Comunhão, disse-me que Jesus está presente na Eucaristia. Mas como? Eu não o vejo!".

Bento XVI: Sim, não o vemos, mas existem tantas coisas que não vemos e que existem e são essenciais. Por exemplo, não vemos a nossa razão, contudo temos a razão. Não vemos a nossa inteligência e temo-la. Não vemos, numa palavra, a nossa alma e todavia ela existe e vemos os seus efeitos, pois podemos falar, pensar, decidir, etc... Assim também não vemos, por exemplo, a corrente eléctrica, mas sabemos que existe, vemos este microfone como funciona; vemos as luzes. Numa palavra, precisamente, as coisas mais profundas, que sustentam realmente a vida e o mundo, não as vemos, mas podemos ver, sentir os efeitos. A electricidade, a corrente não as vemos, mas a luz sim. E assim por diante. Desse modo, também o Senhor ressuscitado não o vemos com os nossos olhos, mas vemos que onde está Jesus, os homens mudam, tornam-se melhores. Cria-se uma maior capacidade de paz, de reconciliação, etc... Portanto, não vemos o próprio Senhor, mas vemos os efeitos: assim podemos entender que Jesus está presente. Como disse, precisamente as coisas invisíveis são as mais profundas e importantes. Vamos, então, ao encontro deste Senhor invisível, mas forte, que nos ajuda a viver bem.
Giulia: "Santidade, dizem-nos que é importante ir à Missa aos domingos. Nós iríamos com gosto mas, frequentemente, os nossos pais não nos acompanham porque aos domingos dormem, o pai e a mãe de um amigo meu trabalham numa loja e nós, geralmente, vamos fora da cidade visitar os avós. Podes dizer-lhes uma palavra para que entendam que é importante ir à Missa juntos, todos os domingos?".

Bento XVI:Claro que sim, naturalmente, com grande amor, com grande respeito pelos pais que, certamente, têm muitas coisas a fazer. Contudo, com o respeito e o amor de uma filha, pode-se dizer: querida mãe, querido pai, seria tão importante para todos nós, também para ti, encontrarmo-nos com Jesus. Isto enriquece-nos, traz um elemento importante para a nossa vida. Juntos encontramos um pouco de tempo, podemos encontrar uma possibilidade. Talvez até onde mora a avó há uma possibilidade. Numa palavra diria, com grande amor e respeito pelos pais, diria-lhes: "Entendei que isto não é importante só para mim, não o dizem somente os catequistas, é importante para todos nós; e será uma luz do domingo para toda a nossa família".
Alessandro: "Para que serve ir à Santa Missa e receber a Comunhão para a vida de todos os dias?".

Bento XVI:Serve para encontrar o centro da vida. Nós vivemos entre tantas coisas. E as pessoas que não vão à igreja não sabem que lhes falta precisamente Jesus. Sentem, contudo, que falta algo na sua vida. Se Deus permanece ausente na minha vida, se Jesus não faz parte da minha vida, falta-me um guia, falta-me uma amizade essencial, falta-me também uma alegria que é importante para a vida. A força também de crescer como homem, de superar os meus vícios e de amadurecer humanamente. Portanto, não vemos imediatamente o efeito de estar com Jesus quando vamos à Comunhão; vê-se com o tempo. Assim como, no decorrer das semanas, dos anos, se sente cada vez mais a ausência de Deus, a ausência de Jesus. É uma lacuna fundamental e destrutiva. Poderia falar agora facilmente dos países onde o ateísmo governou por anos; como as almas foram destruídas, e também a terra; e assim podemos ver que é importante, aliás, diria, fundamental, nutrir-se de Jesus na comunhão. É Ele que nos dá a luz, nos oferece a guia para a nossa vida, uma guia da qual temos necessidade.
Anna: "Caro Papa, poderias explicar-nos o que Jesus queria dizer quando disse ao povo que o seguia: "Eu sou o pão da vida"?".

Bento XVI:Então deveríamos talvez, antes de tudo, esclarecer o que é o pão. Hoje nós temos uma cozinha requintada e rica de diversíssimos pratos, mas nas situações mais simples o pão é o fundamento da nutrição e se Jesus se chama o pão da vida, o pão é, digamos, a sigla, uma abreviação para todo o nutrimento. E como temos necessidade de nos nutrir corporalmente para viver, assim como o espírito, a alma em nós, a vontade, tem necessidade de se nutrir. Nós, como pessoas humanas, não temos somente um corpo, mas também uma alma; somos seres pensantes com uma vontade, uma inteligência, e devemos nutrir também o espírito, a alma, para que possa amadurecer, para que possa alcançar realmente a sua plenitude. E, por conseguinte, se Jesus diz eu sou o pão da vida, quer dizer que Jesus próprio é este nutrimento da nossa alma, do homem interior do qual temos necessidade, porque também a alma deve nutrir-se. E não bastam as coisas técnicas, embora sejam muito importantes. Temos necessidade precisamente desta amizade de Deus, que nos ajuda a tomar decisões justas. Temos necessidade de amadurecer humanamente. Por outras palavras, Jesus nutre-nos a fim de que nos tornemos realmente pessoas maduras e a nossa vida se torne boa.
Adriano: "Santo Padre, disseram-nos que hoje faremos a Adoração Eucarística. O que é? Como se faz? Poderias explicar-nos isto? Obrigado".

Bento XVI:Então, o que é a adoração, como se faz, veremos imediamente, porque tudo está bem preparado: faremos algumas orações, cânticos, a genuflexão e estamos assim diante de Jesus. Mas, naturalmente, a tua pergunta exige uma resposta mais profunda: não só como fazer, mas o que é a adoração. Eu diria: adoração é reconhecer que Jesus é meu Senhor, que Jesus me mostra o caminho a tomar, me faz entender que vivo bem somente se conheço a estrada indicada por Ele, somente se sigo a via que Ele me mostra. Portanto, adorar é dizer: "Jesus, eu sou teu e sigo-te na minha vida, nunca gostaria de perder esta amizade, esta comunhão contigo". Poderia também dizer que a adoração na sua essência é um abraço com Jesus, no qual eu digo: "Eu sou teu e peço-te que estejas também tu sempre comigo".
Que bela catequese sobre a Eucaristia. Quantos de nós catequistas temos para aprender destas palavras.

23 de março de 2006

Monte de Tabor

Quanto tempo passado no deserto, depois a subida ao Tabor. E até se pode dizer "como é bom estarmos aqui", mas tempos que regressar à vida de trabalho, de luta. Não temos o direito de fugir, de deixar os problemas para tràs, ficar a viver de projectos idealizados. Subir ao Monte é bom mas não se pode ficar lá para sempre é preciso regressar.
Talvez se possa compara a nossa caminhada a três Montes.
O Monte Tabor que simboliza o tempo luminoso, graciosidade e generosidade, onde os nossos projectos tomam forma, onde muitas vezes somos tentados a ficar a sonhar com os nossos projectos.
Logo em seguida encontramos o Monte do Calvário, do sacrifício. Tempo duro, onde o desalento toma conta de nós, a agonia, a tentação de desistir de fugir. É onde os nossos projectos muitas vezes encontram obstáculos. É aqui que temos que passar pela Via da Cruz.
Mas eis que chegamos ao Monte da Ascensão, tempo de felicidade, tempo em que se descobre a Luz. Tempo de ver os nossos projectos realizados. E de lá avistamos o caminho percorrido e lembramos a Mensagem de Jesus «A Glória não se alcança sem a Cruz»
Vamos continuar a nossa caminhada da Quaresma.

10 de março de 2006

O deserto

Tentei começar a "arrumar a gaveta", fiz uma pausa, silêncio, isolamento, deixei-me levar para o deserto. Por vezes o "deserto é um isolamento necessário em que se pode povoar de nada ou de Deus. De "nada", entramos vazios e saímos "ocos", mas de Deus, é o religar, o voltar à vida, o desejar mudar e voltar a viver.
Ao deserto vai quem se quer encontrar com Deus no silêncio, o silêncio da escuta, da reflexão. A Quaresma propõe-me uma atitude de Oração. Tempo de falar comDeus, de escutar o que a Sua Palavra me diz e acolhe-la no silêncio do deserto.

Silêncio...
para que depois a Palavra se faça Luz,
Luz para os que andam no deserto
e caminham nas trevas e em silêncio.

1 de março de 2006

Quaresma

Quarta-feira de Cinzas
Hoje dá-se início à Quaresma.
São 40 dias para me preparar para a Páscoa
Hoje, com cinzas é traçada na minha fronte o sinal da cruz "Arrependei-vos e acreditai no Evangelho"
Ao receber as cinzas, o cristão escuta o apelo que lhe é feito.
Quaresma é sinal de conversão, é tempo de nos voltarmos para Deus. Conversão é determinação de mudar, mudar o meu modo de pensar e de avaliar. Este novo modo de pensar e agir tem como ponto de referência Jesus Cristo.
Hoje é dia de reflexão para programar o nosso tempo quaresmal.
Todos temos uma gaveta onde vamos pondo todo o tipo de objectos, é a gaveta das coisas e de longe a longe lá temos que a arrumar. Deitar fora o que realmente não serve para nada e guardar o que tem serventia. Assim acontece connosco na Quaresma, vamos arrumar o nosso coração deitar fora o que de mau nos incomoda e melhorar o que há de bom.
Quarta-feira de Cinzas pergunto como vou arrumar a minha "gaveta das coisas".