29 de janeiro de 2007

Cântico do amor



Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos,
se não tiver amor, sou como um bronze que soa
ou um címbalo que retine.
Ainda que eu tenha o dom da profecia
e conheça todos os mistérios e toda a ciência,
ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas,
se não tiver amor, nada sou.
Ainda que eu distribua todos os meus bens
e entregue o meu corpo para ser queimado,
se não tiver amor, de nada me aproveita.
O amor é paciente,
o amor é prestável,
não é invejoso,
não é arrogante nem orgulhoso,
nada faz de inconveniente,
não procura o seu próprio interesse,
não se irrita nem guarda ressentimento.
Não se alegra com a injustiça,
mas rejubila com a verdade.
Tudo desculpa, tudo crê,
tudo espera, tudo suporta.
O amor jamais passará.
As profecias terão o seu fim,
o dom das línguas terminará
e a ciência vai ser inútil.
Pois o nosso conhecimento é imperfeito
e também imperfeita é a nossa profecia.
Mas, quando vier o que é perfeito,
o que é imperfeito desaparecerá.
Quando eu era criança,
falava como criança,
pensava como criança,
raciocinava como criança.
Mas, quando me tornei homem,
deixei o que era próprio de criança.
Agora, vemos como num espelho,
de maneira confusa;
depois, veremos face a face.
Agora, conheço de modo imperfeito;
depois, conhecerei como sou conhecido.
Agora permanecem estas três coisas:
a fé, a esperança e o amor;
mas a maior de todas é o amor.
1Cor_13

25 de janeiro de 2007

Referendar? ASSIM NAO

E porque o referendo sobre o aborto está aí à porta e há muito ainda por saber, é bom ler, esclarecer, informar, opinar. Por isso deixo aqui, para quem ainda não conhece, um lugar bem esclarecedor e interessante:
  • www.assimnao.org
  • 24 de janeiro de 2007

    Lectio Divina

    Um dos métodos mais antigos de leitura e meditação da Palavra de Deus é a leitura orante, ou a “lectio divina”.

    O Concílio Vaticano II já dizia que “só pela luz da fé e meditação da Palavra de Deus, pode alguém, sempre e por toda a parte, reconhecer Deus, em quem vivemos e nos movemos e somos (Act 17,28), procurar em todo o acontecimento a Sua vontade, ver Cristo em todos os homens”.(Vat. II, Apostolicam Actuositatem, 4)

    A partir deste trecho, podemos deduzir que a leitura e a meditação da Palavra de Deus se tornam fundamentais para quem está em busca da própria vocação e do próprio chamado. É a Palavra que forma e dá vida ao Cristo em nós, que aos poucos nos irá revelar o plano e o projecto de Deus em nossa vida.

    Tratando-se de um chamado divino, a vocação é algo de sobrenatural, que não pertence ao humano. É Deus quem chama, Foi Ele que pensou em nós desde a criação do mundo para colaborarmos com o seu Reino. Quando Jesus diz “não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi” (Jo 15,16), queria justamente sublinhar isso.

    A leitura orante da Bíblia, portanto, torna-se um meio, um instrumento para aprofundar o que Deus quer da minha vida dia após dia, é um exercício que me ajuda, aos poucos, a interiorizar as mesmas atitudes e comportamentos que foram do próprio Jesus, que obedeceu ao Pai até ao último momento da sua existência.

    A coisa mais importante será encontrar um tempo durante o dia, para dedicar-se à leitura e à meditação da Palavra de Deus. O lugar pode ser a igreja ou até mesmo um quarto da casa ou um lugar sossegado, como nos sugere o próprio Jesus quando nos diz: “... quando orares, entra no teu quarto e, fechando a tua porta, ora ao teu Pai que está lá, no segredo...”. (Mt 6,6)

    O texto a reflectir ou meditar pode ser o Evangelho ou a leitura do dia, ou qualquer leitura da Bíblia que relate uma vocação, um chamado a partir de Abraão, os profetas... até chegar ao Novo Testamento, com a vocação de Maria, os apóstolos, etc...

    20 de janeiro de 2007

    Anunciar a Boa Nova



    Jesus concretiza a profecia de Isaías.

    Os primeiros destinatários da missão de Jesus, são os pobres, a quem foi enviado a anunciar a boa notícia. (eram todos aqueles que estavam privados dos seus bens, que não tinham o necessário para viver, porque foram obrigados a vender as suas terras. Eram quase sempre estes pobres que estavam sujeitos às injustiças dos ricos).

    O segundo objectivo visava a libertação dos prisioneiros (prisioneiros eram também os pobres obrigados a viver em condições de escravidão ou prisão, dada a sua impossibilidade de pagar as suas dívidas).

    O terceiro grupo de destinatários da missão de Jesus, são os cegos, a quem é enviado para anunciar e realizar a cura da vista.( Estes cegos são todos aqueles cegos, coxos, aleijados a quem Jesus curou, mas Jesus não se limita à cegueira física, coloca-a a par da cegueira espiritual e interior.

    A libertação dos oprimidos (são muitas as situações de opressão de que Jesus liberta os homens, como podemos ver pelos relatos evangélicos. A opressão fundamental, de que Jesus liberta os homens é a de satanás, que é a libertação do mal. A par desta, também se devem colocar a libertação da doença, da morte e do pecado).

    Assim as expectativas e as solicitações sociais do ano da graça, legisladas em Lv.25,8-55, consideram-se realizadas por Jesus, porque Jesus não realiza apenas um ano agradável ao Senhor, mas também se realiza o «hoje» da salvação definitiva, não é preciso esperar outro momento.

    Portanto as expectativas do ano da graça realizam-se no «hoje» de cada momento do nosso encontro com Jesus Cristo.

    III Domingo do Tempo Comum


    É o começo do ministério de Jesus. Depois do Baptismo no Jordão e da experiência do deserto, Jesus dá início à sua pregação na sinagoga de Nazaré.
    A sinagoga era o local da reunião dos judeus, aí se celebrava o Sábado com a leitura da Lei e dos Profetas, seguida de homilia, que era feita por adultos versados nas Escrituras. Jesus no contexto litúrgico da celebração do Sábado, lê a passagem do profeta Isaías (Is.61,1-2) e depois de ter exercido a função de leitor pronuncia uma verdadeira homilia que se resume nas palavras recolhidas pelo evangelista: “Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir” (Lc.4,21).
    Aqui Jesus apresenta-se como o Messias anunciado pelo profeta Isaías e diz mais, o tempo da realização dessa promessa já começou: hoje. Chegou com Ele «a plenitude dos tempos».
    Na Sinagoga de Nazaré, Jesus declarou aberto o tempo da sua presença salvadora no meio dos homens e esta presença consiste em levar a termo as promessas da antiga aliança. A expressão hoje não tem um valor cronológico, significa sim o momento em que o Filho de Deus entra na vida dos homens e na história da humanidade.

    18 de janeiro de 2007

    Chamar as coisas pelo seu nome!

    Pelo"sim" pelo "Não"

    O bloco está muito ralado por o "não" ser apoiado pelos ricos, mas não diz que os movimentos cívicos não recebem subsídio para fazerem campanha, ao contrário dos partidos politicos. E esse, sim, é dinheiro de todos nós.
    Mas lá vai mais uma. Pacheco Pereira no seu comentário da Sábado desta semana, diz que os apoiantes do "não" envenenaram o terreno tornando a palavra "aborto" uma palavra maldita.
    E agora pergunto eu: os apoiantes do "sim" refugiaram-se na pomposa frase "interrupção voluntária da gravidez" para quê?
    Se um aborto é um aborto, e sempre o foi, porquê tanta subtileza?
    Será para tornar as consciências mais leves?

    16 de janeiro de 2007

    apenas sementes


    A loja de Deus

    Entrei e vi um Anjo no balcão. Maravilhado, disse-lhe:
    - Santo Anjo do Senhor, o que tens?
    Respondeu-me:
    - Todos os dons de Deus.
    Perguntei:
    - São caros?
    Respondeu-me:
    - Não, é tudo de graça.
    Contemplei a loja e vi jarros com sabedoria, vidros com fé, pacotes com esperança, caixinhas com salvação, potes com amor. Tomei coragem e pedi:
    - Por favor, Santo Anjo, quero muito amor, todo o perdão, um vidro de fé, bastante felicidade e salvação eterna para mim e para minha família também.
    Então, o Anjo do Senhor preparou-me um pequeno embrulho, tão pequeno, que cabia na palma da minha mão.
    Maravilhado, mais uma vez, disse-lhe:
    - É possível estar tudo aqui?
    O Anjo respondeu-me sorrindo:
    - Meu querido irmão, na loja de Deus não temos frutos. Apenas sementes.

    Muitas vezes, desesperamos porque não sabemos se, um dia, as sementes que lançamos darão frutos.


    13 de janeiro de 2007

    Bodas de Canã



    No evangelho de hoje, Jesus inicia a sua vida pública participando num banquete de bodas em Caná da Galiléia e sua mãe estava presente. Também os discípulos de Jesus tinham sido convidados para o casamento.

    Durante a festa, Maria está atenta a tudo que acontece e percebe que o vinho está a acabar e a festa corre o perigo de ser interrompida para vergonha dos noivos. Maria pensa logo em socorrer os noivos e procura o caminho mais seguro para fazê-lo. Confia a sua preocupação ao seu Filho e diz-lhe: “Eles não têm mais vinho”. Mesmo depois da resposta de Jesus: “Mulher, porque me dizes isso? Minha hora ainda não chegou”, Maria não desiste e procura os que estavam a servir e dá-lhes uma orientação, que continua válida para todos até o fim dos tempos: “Fazei o que Ele vos disser”. Os serventes cumprem a orientação dada e, a pedido de Jesus, enchem as seis talhas de água.

    Já no Antigo Testamento, a imagem das bodas, da aliança era muito usada pelos profetas para expressar a relação entre Deus e o povo de Israel. O povo de Israel nem sempre esteve à altura da primeira aliança e rompeu-a muitas vezes. Deus, porém, não abandonou seu projecto e prometeu, através dos profetas, uma nova aliança, mais perfeita entre Deus e os homens. Para essa nova aliança, era necessário um vinho novo e abundante. O vinho da nova e eterna aliança.

    Jesus é o esposo definitivo da humanidade, único capaz de trazer vinho novo, isto é, a verdadeira alegria a humanidade.

    Na cruz, Jesus selará com o seu sangue a aliança nova e eterna entre ele e os homens e nos dará a nova lei escrita em nossos corações que nos faz viver no Espírito Santo como filhos de Deus.
    Maria esteve sempre presente nesse mistério da aliança entre Deus e os homens.

    Na Anunciação, Maria pronunciou o seu “sim”.

    No Calvário, ao pé da cruz, ela está presente, quando o amor de Jesus chega ao extremo.

    Maria, é a Mãe, mas também a primeira e mais fiel discípula de seu Filho Jesus.
    Como discípula ela nos leva a Jesus e nos pede, como aos serventes nas bodas de Cana: “Façam tudo o que Ele vos disser”.

    10 de janeiro de 2007

    SIM ou NÃO?

    Referendo: Sim ou Não? - Mensagem de D. José Policarpo

    Cardeal-Patriarca de Lisboa


    Aproxima-se a consulta popular em que o eleitorado vai ser convidado a dizer “sim” ou “não” a um alargamento legal do aborto, até às dez semanas de gravidez, tendo como motivo a justificá-lo apenas a vontade da mulher grávida. Embora a Igreja, porque é contra o aborto em todas as circunstâncias, não concorde com a Lei actualmente em vigor, ela apresenta razões para justificar o pedido da mulher: violação, mal-formação do feto, graves distúrbios psíquicos para a mãe. Agora pretende-se tornar legal que a mulher grávida peça o aborto só porque o quer.

    O que é que se pretende? Que motivos levam a esta ousadia legislativa? O Estado democrático, através das leis que aprova, procura o bem da comunidade nacional. A arte de legislar tem uma forte componente cultural: as leis aplicam à vida concreta da sociedade, em ordem a harmonizá-la, os valores fundamentais da cultura de um Povo. É daí que provém a exigência ética de todas as leis. Será que a nossa cultura deixou cair o valor humano universal que é a dignidade da vida humana e o dever do Estado de a defender e proteger? Será que esta intenção legislativa propõe um bem fundamental para todos os portugueses?

    Os motivos que parecem justificar esta proposta legislativa, vamo-nos apercebendo deles nas diversas declarações de governantes, de partidários da lei, de movimentos a favor do “sim”.

    • Parece ser a busca de uma solução para o drama do aborto clandestino. Que ele existe e é um drama, é uma realidade. Mas qual a sua dimensão? O várias vezes anunciado estudo sobre esta realidade nunca foi realizado. O cruzamento dos métodos anticonceptivos com os métodos abortivos e as soluções químicas para a interrupção da gravidez fizeram diminuir a realidade do aborto de “vão de escada”. Esta nova realidade traz a decisão de abortar para o campo da liberdade pessoal e da consciência e não é razão para esta alteração na Lei. Não quero, com o que acabo de dizer, negar a realidade do “aborto clandestino”. Penso só que era preciso tipificar melhor a realidade, nas suas dimensões evolutivas, antes de propor à decisão dos portugueses uma tão grave alteração legal.
    • E será uma solução? Estudos feitos em países que seguiram este caminho, mostram que a legalização não resolveu significativamente o problema. Ao contrário, aumentaram os números globais de abortos.
    • Pretende-se, depois, despenalizar a mulher que aborta. “Nem mais uma mulher para a cadeia” tornou-se “slogan”. Declarações que recentemente vi nos meios de comunicação social, dizem que, nos últimos trinta anos, nenhuma mulher foi presa por esse motivo. A afirmação surpreendeu-me. Houve, é certo, alguns julgamentos, e esses podemos contá-los, porque foram invariavelmente sublinhados com ruidosas manifestações dos movimentos “pró-aborto”. Mas também me consta terem sido dadas instruções à Polícia Judiciária para não ter entre as suas prioridades as investigações sobre o “crime” de aborto. Neste quadro, será urgente uma lei com tais problemas éticos? É notória a ambiguidade: não é possível “despenalizar” sem “legalizar”.
    • Vi também apresentar como motivo, fazer alinhar Portugal entre os países mais progressistas da Europa, como se defender a vida fosse sinal de atraso cultural. Cautela Europa! Um continente a definhar por deficit de natalidade, a renunciar aos grandes valores da sua cultura, poderá ser a vítima do caminho que construir.
    • Dizem outros que é um reconhecimento de um direito da mulher. “A mulher tem direito ao seu corpo”. Só que o feto é um corpo de outro ser humano, que a mulher mãe recebe no seu corpo, para o fazer crescer. O seio materno foi o primeiro berço de todos nós. É um corpo acolhido por outro corpo. Pergunto-me, sinceramente, pelo respeito que toda a mulher me merece, quantas mulheres-mães, mesmo as que passaram pelo drama do aborto, se pensarem um pouco, ouvindo o mais íntimo de si mesmas, serão capazes de fazer tal afirmação.
    • A última razão que ouvi, e essa entristeceu-me particularmente, pois vinha de alguns católicos, que se querem distanciar da doutrina da Igreja: no aborto estão em questão duas vidas, a do feto e a da mãe. Estão a falar de aborto só quando a vida da mãe está em risco? E mesmo nessas circunstâncias é o caso em que a maternidade convida a correr riscos e apela ao heroísmo. Ou fazem equivaler a destruição da vida do feto ao incómodo de uma maternidade indesejada?

      É notória a fragilidade de todos estes objectivos. O único que se afirma com a crueza da realidade é o drama do aborto clandestino do qual, como ficou dito, não se conhecem as fronteiras da realidade. Esta lei será uma solução? E, sobretudo, será uma solução legítima? Não o é, pois uma tal lei fere princípios éticos universais, é uma questão de civilização. Cultural e moralmente, o “Não” é a única resposta legítima.
    Lisboa, 7 de Janeiro de 2007,
    † JOSÉ, Cardeal-Patriarca

    8 de janeiro de 2007

    Baptismo de Jesus



    Tu és meu filho foi a palavra dita sobre Jesus no dia do seu baptismo no rio Jordão, foi a palavra dita na fonte baptismal de todo o baptizado, é a palavra dita a cada instante pelo Pai, sobre cada um de nós, na alegria e na bondade misericordiosa.

    7 de janeiro de 2007

    Baptizados arrependidos



    “Apóstatas” pedem que sejam apagados dos livros de baptismo
    Ao ler a secção de religião do JN de hoje, fiquei um pouco baralhada e preocupada. Pois em Espanha, pessoas que fazem parte de um movimento “apóstata” fizeram um pedido para que os seus nomes sejam apagados nos registos de baptismo da igreja católica.
    Como é possível? Passar uma borracha por esse momento das suas vidas e tudo se apaga? É como se nunca tivessem pertencido à família dos cristãos?

    Sei que não é cá, é aqui ao lado, mas a verdade é que estas coisas tornam-se moda, e qualquer dia é ver por cá pessoas a fazerem o mesmo.

    E como diz no artigo, passa-se do nacional-catolicismo ao laicismo violento.

    6 de janeiro de 2007

    EPIFANIA

    Neste domingo, a Igreja celebra a Epifania do Senhor, solenidade em que se festeja a manifestação da divindade de Jesus Cristo e a adoração dos reis magos ao Deus Menino, em Belém de Judá.

    A palavra “epifania”, tem origem no verbo grego “epiphaino”, que tem o significado de “mostrar”. O substantivo “epifania”, do grego “epiphaneia” quer dizer: aparição, manifestação.

    “A epifania é a festa, como a entendemos hoje, com a qual se celebram tanto a manifestação da divindade de Jesus Cristo como a visita e a adoração a Jesus, em Belém, dos três reis magos vindos do Oriente, fixada na liturgia para o dia 6 de Janeiro”. A solenidade é celebrada no domingo seguinte à data da festa litúrgica.

    A origem da festa da Epifania remonta ao tempo dos gnósticos basilidianos (pensadores cristãos da região da Basílide, no Oriente Médio), no século II, que celebravam a manifestação do Cristo de origem divina no mundo terrestre ocorrida no momento do seu baptismo. “Portanto, originalmente comemorava-se, no dia 6 de Janeiro, a festa do baptismo de Jesus Cristo.
    A partir do século IV, celebravam-se simultaneamente, no dia 6 de Janeiro e com o nome de Epifania, tanto a festividade do baptismo como a do Natal. “Porém, no mesmo século IV começou a surgir o costume de se festejar o Natal no dia 25 de Dezembro, o baptismo de Jesus foi passando para segundo plano e a adoração dos magos foi-se impondo como a festa principal.

    Segundo a tradição da Igreja do século I, os magos seriam possivelmente reis de nações ao leste do Mediterrâneo, sábios e poderosos, que cultivavam o conhecimento do homem e da natureza buscando contacto com Deus. Naquele tempo, os persas chamavam “magos” aos sacerdotes. Mais tarde, a tradição os chamou de “reis” lembrando o salmo 72,10-11: ‘Os reis do Ocidente e das ilhas lhe pagarão tributo. Os reis da Arábia e da Etiópia lhe oferecerão presentes. Diante dele se prostrarão todos os reis e o servirão todas as nações. Os reis vieram do Oriente, isto é, da Arábia, Pérsia ou Caldeia.

    Os nomes dos magos, Melchior, Gaspar e Baltazar, vêm da tradição e não da Bíblia”.
    Tradicionalmente, Melchior é representado como um ancião branco com barbas, traz como presente o ouro que representa a realeza de Cristo;
    Gaspar, jovem de pele morena, traz o incenso, representando a divindade de Jesus Cristo;
    Baltazar, de raça negra, oferece ao Menino Jesus a mirra, substância para embalsamar cadáveres, representando sua humanidade, o sofrimento e a morte do Senhor.

    O significado da Epifania, na Igreja Ortodoxa (Oriente), é a festa da manifestação do Senhor Jesus, ou seja, a celebração de seu nascimento como verdadeiro homem (mistério da Encarnação).

    Já no tempo de São João Crisóstomo, em Antioquia e no Egipto, acrescentou-se também a comemoração do baptismo de Jesus no Rio Jordão. No Ocidente, a festa da Epifania tem um significado diferente. O que se celebra é a revelação de Jesus ao mundo pagão, que é simbolizado pela vinda dos reis magos para adorar o Redentor recém-nascido em Belém.
    Actualmente, na nossa liturgia, a Epifania celebra a vinda dos magos, vistos como primícias dos pagãos que acolhem Jesus como o Senhor. No prefácio da liturgia da Epifania, encontramos o significado da festa: ‘Revelastes, hoje, o mistério de vosso Filho como luz para iluminar todos os povos no caminho da salvação. ‘Cristo é a Luz, estrela, dos povos”.

    ...Conto de Natal


    ...Tinha acabado de guardar as ovelhas. Dirigiu-se ao seu quarto onde um pão e um cântaro de vinho o esperavam pousados na mesa de madeira escura. Não tinha fome, a curiosidade era tão forte que lhe tirava o apetite e o enchia de ansiedade. Agarrou o velho casaco e saiu pela propriedade fora, no meio da noite. As suas passadas fortes e decididas rasgavam o silêncio da noite. Dirigia-se para o velho estábulo. Não era difícil encontra-lo no meio da noite, pois por coincidência, pensava ele, uma estrela brilhante indicava o caminho a tomar. Quando lá chegou abrandou o passo e aproximou-se cautelosamente da entrada. Uma luz fraca cintilava de dentro do estábulo.
    Espreitou lá para dentro. Os seus olhos percorreram todo o espaço do estábulo. Viu um casal que dormia profundamente deitados em cima da palha seca e um burro deitado perto de uma manjedoura. Entrou. Caminhava em bicos de pés para não acordar ninguém. Aproximou-se do casal e foi então que o seu olhar foi desviado para a manjedoura, qualquer coisa se tinha movido. Olhou melhor e viu um bebé. Dormia inquieto e tremia muito. Perto da manjedoura estavam as tais três caixas, debruçou-se e abriu-as uma a uma. Na primeira encontrou incenso, na segunda encontrou mirra e na terceira encontrou...ouro. Estava rico, pensou ele. Foi quando o bebé lançou um gemido. Estava demasiado frio, e até o próprio burro que tinha sido ali colocado para aquecer o bebé estava a tremer. Olhou novamente para as caixas e percebeu que o bebé não se podia aquecer com o incenso, nem se cobrir com a mirra, nem se agasalhar com o ouro. Por isso tirou o velho casaco de pele de ovelha e cobriu o bebé, que logo se aninhou. Ao ver aquela imagem sentiu um enorme calor no peito e um conforto único. Olhou de novo para as caixas e apercebeu-se como eram inúteis e materiais. Eram demasiado terrenas, não podiam dar-lhe a felicidade que perseguia. Por isso voltou costas e como tinha entrado, saiu.
    Enquanto se afastava do estábulo pensava como era feliz por chegar àquela idade e ter um coração cheio.

    5 de janeiro de 2007

    ...Conto de Natal...


    ...Ao terceiro dia, o homem guiava as ovelhas para o local do costume, era muito cedo, as estrelas ainda brilhavam com intensidade. O barulho do cajado a bater no chão era seco e compassado. Conforme se ia aproximando do local habitual, ia passeando os olhos grandes e pretos pelo velho estábulo. Não havia vento naquela madrugada, mas o ar era frio. Sentia o peito a queimar por dentro e o nariz dormente só pingava. O velho casaco era constantemente apertado contra o corpo pela mão livre, que ia ficando cada vez mais fria. Quando finalmente parou já o sol tinha nascido, ia estar mais um bonito dia, foi quando ouviu o choro de uma criança. Esticou o pescoço e olhou em volta. Não viu ninguém. Ficou intrigado, de onde viria aquele choro. A manhã passou.
    A meio da tarde, depois de um almoço fugaz, um pouco de pão da ceia anterior, começou a ver ao longe uma nuvem de poeira. Dirigia-se na sua direcção. Não tardou nada até começar a ouvir um ritmo bem marcado de fortes passadas. A imagem começou a ficar nítida. Um homem de capa clara montado num majestoso cavalo castanho de crina branca liderava todos os outros, que alinhavam atrás dele empunhando lanças e bandeiras vermelhas. Ao ver tudo isto não se inquietou, numa outra situação já se tinha escondido atrás de um arbusto, ou corrido em pânico até à aldeia. Mas tal como tinha desconfiado, eles dirigiam-se para o velho estábulo. O homem desceu do cavalo e foi-lhe entregue uma caixa. Segurou a caixa e entrou dentro do estábulo. Começava agora a anoitecer. A curiosidade ia roendo-o por dentro. Queria saber o que se estava a passar, e o que seria assim tão importante e interessante para motivar toda aquele frenesim. Começou a agrupar as ovelhas, e encaminhou-as de volta. Começou a pensar como em toda a sua vida tinha deixado as suas acções pela metade, nunca tinha ido até ao fim, talvez por isso tivesse chegado aquela idade só com um velho casaco de pele de ovelha...
    JorgeBelinha1998

    4 de janeiro de 2007

    ...Conto de Natal...


    ...No dia seguinte, de novo sentado numa pedra a guardar as ovelhas, pensava ainda na noite anterior. Tinha escolhido aquele sítio para se sentar pois dali conseguia ver o estábulo. Não havia sinais do homem do cavalo, já devia ter ido embora. Tinha uma pedra na mão, que rolava entre os dedos. Volta e meia lá tinha de chamar por alguma ovelha que tentava afastar-se mais. Os seus pensamentos iam longe, pensava na sua vida e nas voltas que ela já tinha dado.
    Lembrava-se que quando era criança queria ser alguém importante. Alguém que fizesse a diferença. Agora já era tarde, estava velho e cansado. O seu tempo já tinha passado. De súbito foi acordado por um barulho que vinha de lá longe. Pareciam tambores. Levantou-se, olhou em todas as direcções e não viu ninguém. O sol já estava a avermelhar. Começou a chamar as ovelhas, que também estavam alarmadas com o barulho dos tambores que ia ficando cada vez mais forte. Reuniu as ovelhas todas, e encaminhou-as de regresso a casa. Agora já se via de onde vinha o barulho dos tambores.
    Tal como no dia anterior, um homem montado num camelo, esguio e vestido com um manto de pele de tigre, tomava a direcção do velho estábulo. Atrás dele seguiam homens com tambores e à sua frente iam dançarinas. Este desceu do camelo. Calaram-se os tambores e pararam as dançarinas. O homem parecia muito alto e de cor escura, levava também uma caixa para dentro do estábulo. A curiosidade estava-o a roer, mas o frio apertava e as ovelhas queixavam-se com o medo que o escuro lhes provocava. Teve de prosseguir caminho. Enquanto caminhava lamentava-se de novo como era triste chegar aquela idade e só ter um velho casaco de pele de ovelha...

    JorgeBelinha 1998

    3 de janeiro de 2007

    Conto de Natal



    Já se sentia o sol a enfraquecer, o céu ia ficando vermelho. Com o fim do dia chegava a escuridão e o frio. Uma brisa leve e gélida levantou-se, passou-lhe pela face, entranhando-se nos longos e espessos pêlos da barba grisalha. Chegou a altura de reunir o rebanho. Pegou no cajado seco e torcido com as suas mãos rudes e ásperas. Mãos quadradas, de dedos grossos, com cicatrizes aqui e ali, que mostravam muitos ofícios e muitas profissões. Fazia muito frio naquela altura do ano. Com a mão, num gesto curto, apertou o velho casaco de pele de ovelha contra o corpo. Com o cajado guiou uma ovelha mais pequena para grupo. Trabalhava de sol a sol a troco de um naco de pão, um pouco de vinho e uma cama dura para passar a noite. Não tinha nada.
    Enquanto guiava o rebanho até à casa do proprietário, reparou que algo de estranho se passava num estábulo abandonado, perdido no meio do campo. Parou. Viu então um homem com vestes púrpuras e um turbante da mesma cor montado num elegante cavalo preto. Outros o seguiam, segurando palmas e tocando flautas. O homem do cavalo, que levava uma caixa nas mãos, entrou dentro do estábulo, que estava iluminado por uma luz trémula. A noite tinha entretanto caído. Mas ele não podia perder mais tempo. As ovelhas tinham de ser guardadas sem demora.
    Não pensou no que faria um homem assim, aparentemente, tão rico num estábulo quase a cair. Pensou antes na sua riqueza, como devia ser rico para ter tantos servos e tão nobre cavalo. Olhou para o chão e pensou como era triste chegar aquela idade e só ter um velho casaco de pele de ovelha...

    JAB 1998