26 de abril de 2008

Depois da Ressurreição VIII

Pedro e João na Samaria (Actos 8)
A segunda parte deste relato mostra a autoridade especial dos Apóstolos.
Nos Actos, o baptismo na água e o dom do Espírito Santo estão intimamente associados, mas não são idênticos: havia pessoas que podiam baptizar, mas só os Apóstolos, representados por Pedro e João, podiam conceder o Espírito Santo, o que faziam pondo as mãos sobre os convertidos samaritanos (8,16-17).

Nos samaritanos, o equivalente do «Pentecostes», no que se refere à manifestação extraordinária do Espírito, deu-se no momento da imposição das mãos por Pedro e João. Não se trata de falar em línguas nem doutros sinais exteriores espectaculares. Mas 8,18 deixa-se entender que algo semelhante aconteceu, pois Simão pôde «ver que o Espírito Santo era dado pela imposição das mãos dos Apóstolos».

Enquanto em Act.2 e 10, o Espírito Santo vem primeiro sobre um grupo antes de ser recebido por cada um no baptismo, em Act. 8,16, o processo é inverso. Certas pessoas foram primeiro baptizadas por Filipe e só depois, graças à imposição das mãos dos apóstolos, fazem colectivamente a experiência de uma manifestação do Espírito Santo, semelhante à do Pentecostes.

Talvez a manifestação extraordinária em Act. 8, para além de marcar a inauguração da missão e da implantação da Igreja em novas etapas, tenha um outro significado, relativo ao grupo apostólico. Talvez confirme a importância que Lucas atribui ao grupo dos Doze.

Quanto a Simão, o Mago, «viu» que Pedro e João tinham o poder de conceder o Espírito Santo, tentou adquirir o mesmo poder para si próprio (8, 18-19) ( daqui o termo simonia, para designar a compra ou venda de um cargo espiritual ou coisas santas ). Pedro aplicou um castigo severo a Simão pela sua presunção, embora nos Actos se afirme que Simão se arrependeu (8,20-24).

24 de abril de 2008

Depois da Ressurreição VII


Filipe leva o Evangelho à Samaria
Após ter apresentado em 2,1-41 o nascimento da Igreja em Jerusalém, Lucas descreve a seguir , até ao fim do capítulo 7, como se exerce aí o testemunho apostólico, como realização da primeira etapa anunciada em 1,8:«Sereis minhas testemunhas em Jerusalém».
O capítulo 8 dá-nos conta do conjunto da actividade missionária desenvolvida fora de Jerusalém.
Para Lucas a morte de Estevão e a perseguição que se lhe seguiu tiveram consequências positivas: o anunciar do evangelho desde Jerusalém até à Judeia e à Samaria.
Com efeito, a «etapa Jerusalém» está terminada, como explica o início do capítulo 8. Perseguida, a Igreja de Jerusalém tem de dispersar «pelas terras da Judeia e Samaria» (8,1).
A evangelização encontra nesta dispersão a oportunidade de se estender fora de Jerusalém. Tendo os Apóstolos ficado aí (8,1b), a evangelização será feita no princípio sem eles. Na Judeia e na Samaria, é Filipe, um dos Sete mandatados pelos apóstolos, que terá o papel central. A maior parte de Act.8 descreve a sua actividade missionária.
Filipe pregou numa «cidade da Samaria» (8,5), diz-se que fez muitas curas em Samaria (8,4-7), os habitantes desta região eram particularmente receptivos a esse tipo de milagres, pois durante algum tempo tinham-se deixado cativar por um praticante de artes mágicas, ou mago, chamado Simão (8,9). Os samaritanos viam em Simão, o Mago, poderes divinos, mas as curas feitas por Filipe foram mais numerosas e impressionantes o que fez com que muitos se convertessem. Também Simão acreditou em Filipe e na Boa Nova do Reino de Deus, tendo-se convertido e recebeu o baptismo juntamente com homens e mulheres da região.(8,12-13).

19 de abril de 2008

Depois da Ressurreição VI

Instituição dos Sete (Act.6, 1-7)
Os Doze convocam a assembleia (v.2a), que propõem uma solução, motivando (vv 2b-4) e sugerindo o processo a seguir (v3). E são os Doze que consolidam a escolha da comunidade (v6).
A comunidade aceita a sugestão dos Apóstolos (v5) e escolhe entre eles aqueles que melhor iriam representar o grupo helenista e de seguida apresenta-os aos Doze.
Este episódio, como podemos constatar, centra-se alternadamente na comunidade e nos Doze Apóstolos.
6,1 A comunidade dá conta da situação crítica.
6,2-4 Os doze sugerem uma proposta de solução.
6,5 A comunidade aceita a proposta e executa-a.
6,6 Os doze confirmam e executam a escolha.


A prioridade dos dozeEsta solução proposta pelos doze, é fundamentada na necessidade que existe dos apóstolos não «descurar a Palavra de Deus para servirem às mesas» (v2b), mas permanecerem «assíduos à oração e ao serviço da Palavra» (v4).
Vemos aqui a dupla função dos Apóstolos: proferir as orações e fazer catequese.
A pregação apostólica é essencialmente voltada para o exterior. Pois os doze têm que ser testemunhas da ressurreição até aos confins do mundo, não esquecendo o ensino apostólico no Templo e nas casas, tanto junto dos cristãos como dos não-cristãos. Para os Doze trata-se de uma prioridade e apesar disso o outro «serviço», o das mesas, não é sacrificado.
Não podendo deixar-se encerrar num dilema ou a evangelização ou serviço aos pobres, a fé ou a caridade, a comunidade opta pela sua repartição.


Os Sete
A comunidade escolheu então sete homens do grupo dos gregos (Estevão, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas, e Nicolau), e os apóstolos encarregaram-nos solenemente da tarefa impondo-lhes as mãos*. Os sete homens têm sido considerados como os primeiros diáconos**, a ordem clerical encarregada de cuidar dos pobres e doentes na Igreja dos primeiros tempos. Em especial, Estevão e Filipe, desempenharam um papel particularmente activo nos primeiros tempos do cristianismo.


*Imposição das mãos, este gesto com raízes no Antigo Testamento, ocorre muitas vezes nos Actos como:
- Introdução num ministério da comunidade (6,6)
- Transmissão do Espírito em ligação com o baptismo (19,6)
- No momento de alguma cura (28,8)
- No envio em missão (13,3)

**Diácono, nome que radica da palavra diakonia que quer dizer serviço.

17 de abril de 2008

Depois da Ressurreição V


Instituição dos Sete Diáconos

Os sumários que vamos encontrando ao longo dos Actos dos Apóstolos, dão-nos a imagem de uma vida comunitária em perfeita harmonia. Nos primeiros cinco capítulos, apenas o episódio de Ananias e Safira ensombra a vida desta comunidade.
A partir do capítulo VI encontramos alguns episódios que perturbam essa harmonia. O primeiro dá-se no interior da comunidade (Act.6, 1-7).
Em Act.6,1 ficamos a saber que a comunidade primitiva era composta por hebreus e helenistas.
Os hebreus eram judeus da região de Jerusalém tornados cristãos, cuja língua era o aramaico (que era a língua mais falada na Palestina a época) e liam a Bíblia em hebraico. Sentiam-se muito arreigados às tradições judaicas, sobretudo relativas ao Templo, as sinagogas e às tradições religiosas. Estes judeus-cristãos, eram muito bem vistos pelo povo e algumas vezes defendidos pelos fariseus.
Os helenistas era também um número considerável de fieis que tinham vivido fora da Palestina, pertenciam à Diáspora. Falavam grego comum, o koiné, liam a Bíblia em grego e estavam menos apegados à Lei de Moisés. Alguns deles sendo de origem pagã convertidos ao judaísmo (prosélitos). São conhecidos por cristão-helenistas.
Através dos sumários ( 2,44; 4,32-34) ficamos a saber que na comunidade primitiva se praticava a entreajuda material. Em 6,1 dá-nos a conhecer uma forma concreta dessa ajuda; a assistência prestada às viúvas.
Já no Antigo Testamento encontramos referências às viúvas e órfãos, como pertencendo às pessoas economicamente e socialmente desfavorecidas. Por isso a Lei previa medidas destinadas a socorrer esta categoria de pobres. E em algumas passagens do Novo Testamento se mostra que essa preocupação está presente nas comunidades cristãs.
É provável que seja esta assistência a que se refere em 6,1b. Mas essa assistência também se deparava com algumas dificuldades práticas e disso temos conhecimento através 6,1-6, onde se fala do grupo das viúvas helenistas que era negligenciado.
Porque acontecia isto?
Talvez os hebreus em maior número e responsáveis pelo serviço de assistência, tivessem tendência em negligenciar a minoria (seria o facto da igreja primitiva cair no erro habitual das sociedades, que esquecem os direitos dos fracos e minorias, e teria seguido o rumo natural das mentalidades e das relações humanas).
Ou talvez essa diferença mostre a coexistência difícil entre duas mentalidades diferentes; os cristãos de origem judaica e os cristãos helenistas vindos da diaspóra.
Fosse qual fosse a ocorrência, uma questão prática de distribuição de assistência ou uma questão mais teológica implicando concepção e mentalidades diferentes, a comunidade primitiva teve que enfrentar também o problema do conflito e teve que enfrentar uma espécie de crise de crescimento.
O fim da crise, tal como é relatado por Lucas, testemunha o funcionamento e a relação existente no interior da comunidade.
Este relato mostra a iniciativa e a autoridade reconhecida aos Doze Apóstolos e a responsabilidade e a participação da comunidade nas tarefas e organização da vida comunitária.

12 de abril de 2008

O Bom Pastor


“Eu vim para que todos tenham a vida e a tenham em abundância”(Jo 10,10). Ele, contudo, quer que seu exemplo de dedicação, de imolação seja imitado e se prolongue por meio da disponibilidade cristã a serviço sobretudo dos marginalizados, dos sofredores, dos transviados. Cumpre ao fiel personificar, seja onde estiver, a figura do Bom Pastor. Trata-se de viver à maneira de Jesus! Ele prossegue sua missão por intermédio de cada cristão. Para isto é preciso coragem, determinação e perseverança. Conhecer Cristo é segui-lo, obedecer-lho em tudo. Não apenas como um acto de fé ardente, mas também como uma manifestação de retribuição ao Seu Amor. Esta atitude deve ser mostrada na acção de cada dia, o que acontece sempre que estamos em sintonia com o Evangelho.
De Jesus Bom Pastor, a passagem do Evangelho (Jo 10, 1-10), sublinha algumas características. A primeira diz respeito ao conhecimento recíproco entre ovelhas e pastor: "Minhas ovelhas escutam minha voz; eu as conheço e elas me seguem.
Jesus quer dizer com estas palavras que Ele conhece os seus discípulos (e, enquanto Deus, conhece todos os homens); e conhece-os "pelo seu nome", que para a Bíblia quer dizer em sua essência mais íntima. Ele ama-os com um amor pessoal que chega a cada um como se fosse o único que existe ante Ele. Cristo não sabe contar mais do que até um: e esse um é cada um de nós. Ele dá a vida às ovelhas e pelas ovelhas, e ninguém poderá arrebatá-las dele. O Evangelho do bom pastor é proposto no tempo pascal: a Páscoa foi o momento em que Cristo demonstrou ser o bom pastor que dá a vida pelas suas ovelhas.

10 de abril de 2008

Depois da Ressurreição IV

O autor dos Actos dos Apóstolos
Desde de sempre a tradição da Igreja atribui a S. Lucas a autoria deste Livro. Desde o século II se reconhece em Lucas o "caríssimo" médico (Col.4,-14), o "colaborador" (Flm 24) que acompanha Paulo.
Quem era São Lucas?
Parece ter sido um pagão que se converteu ao cristianismo, talvez originário de Antioquia da Síria.
Culto, maneja com uma certa elegância a língua grega, tem o gosto pela clareza.
Convertido ainda jovem, não foi testemunha ocular da vida de Jesus Cristo.
Acompanhou S. Paulo em muitas das suas viagens à Macedónia, a Jerusalém e a Roma. Possivelmente esteve com o apóstolo até à sua morte em Roma, por volta de 64 d.C.
Depois da morte de S. Paulo, pregou o Evangelho na Botínia e na Acaia.
Cerca dos anos 80, decidiu escrever a sua obra em dois volumes, dando um relato histórico e teológico da vida de Jesus Cristo (Evangelho S. Lucas) e das origens da Igreja (Actos dos Apóstolos). Lucas no seu primeiro livro descreve a expansão da Boa Nova, a manifestação de Jesus começa em Nazaré (Lc.4,16) e termina em Jerusalém (Lc.24, 49). Enquanto que nos Actos dos Apóstolos o anúncio da Boa Nova faz-se a partir de Jerusalém (Act.2 - 8,3), passando depois a toda a Palestina (Act. 8,4 -12,25) e propagando-se pela Ásia Menor, Grécia, até chegar a Roma (Act. 13,1 - 28, 30).
Os seus textos são de uma grande delicadeza para com Jesus, os pobres, as mulheres e os pecadores.
Gosta de interromper os seus relatos com sumários nos quais resume os aspectos que deseja ver fixados. (Act. 2,42-47; 4,32-35; 5,12 -15;...)
Bom historiador, tem o cuidado de situar os acontecimentos na história. Mas é um historiador crente: o que narra é uma boa nova que descobriu e quer partilhar com os outros.
Não se sabe para que comunidade é que escreveu, mas facilmente se pode deduzir em que tipo de Igreja a sua mensagem se formou. Comunidade nascida em território pagão, como as de Antioquia ou de Filipos.
Estes cristãos são antigos pagãos e sabem que é por graça e não por nascimento que são recebidos na aliança de Deus com Israel.
Eles fizeram a experiência do Espírito: as suas igrejas nasceram fora do círculo de Jerusalém, nasceram pela Palavra e pelo Espírito Santo.

5 de abril de 2008

A caminho de Emaús


Os discípulos de Emaús convidam aquele “viajante” a ficar com eles, e apenas o reconhecem na “fracção do pão” e correm a contá-lo aos Onze, porque Ele, antes, lhes abriu os olhos da fé com a interpretação das Escrituras e lhes aqueceu o coração com o entendimento dos mistérios da Palavra de Deus.

Sem a luz da fé que nos vem das Escrituras, não podemos compreender o mistério da Eucaristia, nem entrar em comunhão com o Deus; e, sem isso, não há celebração do sacramento nem vida eucarística.
Esta passagem supõe uma experiência de vida eucarística da comunidade de Lucas, precedida e acompanhada pelo «ensino dos Apóstolos» e de outros «Servidores da Palavra» (Act 2,42; Lc 1,2) e seguida de solidariedade e partilha e um grande zelo apostólico (Act 4,32-33)
A Eucaristia é luz antes de mais nada porque, em cada Missa, a liturgia da Palavra de Deus precede a liturgia Eucarística, na unidade das duas “mesas” – a da Palavra e a do Pão.
É da Palavra que nos vem a fé (Rm 10,17), necessária para acolher e celebrar o sacramento da Eucaristia.

4 de abril de 2008

Depois da Ressurreição III

ACTOS DOS APÓSTOLOS
Os Actos dos Apóstolos é a continuação de outra obra do mesmo autor, o Evangelho de S. Lucas. No Evangelho de S. Lucas relata-se a vida terrena de Jesus até à Sua ascensão; nos Actos dos Apóstolos começando com a ascensão (Act.1,1-11), relata-se a presença de Jesus através do Espírito Santo, que influi em todos os actos dos apóstolos e de quantos aderiram à fé cristã.
Em todo o relato dos Act. Apóstolos destacam-se como personagens principais os apóstolos Pedro e Paulo, mas o verdadeiro protagonista é o Espírito Santo, que ilumina e guia, no curso da história da humanidade, a Igreja de Jesus Cristo.
Os acontecimentos relatados neste livro, abrem o caminho para o projecto que a Igreja de todos os tempos tem para realizar: Anunciar a Boa Nova de Jesus Cristo a toda a humanidade até aos lugares mais distantes do mundo. Podemos dividir este livro em três partes:

1ª Fundação da Igreja de Jerusalém depois da ascensão de Jesus (Act. 1,1 - 8,3).

2ª Difusão da Boa Nova por toda a Palestina (Act. 8,4 - 12,25)

3ª Propagação da fé cristã por todo o mundo mediterrânico até Roma (13, 1 - 28,30)

3 de abril de 2008

MEME


Recebi este Meme da Ecclesiae Dei, trata-se de um Meme literário, que pretende que se escolha 5 autores preferidos, e 1 que mereça apodrecer na estante.

Seguem-se os meus:

1) a Bíblia – Talvez pareça repetitivo, mas a Palavra de Deus, é o livro que me acompanha em muitas horas do meu dia a dia.

2) Santo Agostinho, pelos escritos que nos deixou, tão actuais em todos os tempos.

3) Sophia de Mello Breyner, pela deliciosa prosa e poesia.

4) Jorge Amado, pela escrita cativante que me preenche momentos de lazer.

5) Padre António Vieira, pelos seus sermões que ainda hoje deveriam ser escutados.


Sobre qual livro deixaria apodrecer na estante?

*Richard Dawkins, que através dos seus livros (ex:Desilusão de Deus), se sente que existe ali um fundamentalista antireligioso e anticristão, que apenas nos tenta impingir o seu ponto de vista, sem uma argumentação fundamentada.



Convido a continuar este Meme:
O Sobrinho
Que é a Verdade?
Guerreiro da luz