30 de dezembro de 2007

Sagrada Família de Nazaré


A realidade dominante do que terá sido a vida de Jesus, Maria e José em sua pequena cidade de Nazaré, onde José exerceu a profissão de carpinteiro, foi a simplicidade.

Se bem que de descendência ilustre, por parte de seus antepassados - pois descendia do rei David – a Sagrada Família levava uma vida modesta, em meio a uma numerosa parentela, constituindo um lar nem pobre, nem rico, ganhando o pão de cada dia com o suor de seu rosto, respeitando as leis administrativas e sociais de seu povo.

No ritmo da oração comunitária na sinagoga, os ritos e as numerosas festas religiosas do judaísmo (onde, entre outros, o rito da circuncisão, a festa das Tendas, a peregrinação ao templo de Jerusalém), a vida de oração da Sagrada Família era, exteriormente, a de todo bom israelita praticante daquela época.

Portanto, por trás da modéstia deste comportamento respeitoso dos usos e costumes de sua cultura, a Sagrada Família vivia uma realidade tão grandiosa que apenas o silêncio e a discrição poderiam assegurar, ao Lar de Nazaré, a serenidade necessária ao desenvolvimento do plano de Deus, o nascimento do Messias, tão esperado pelo povo hebreu, depois de tantos séculos. Serenidade também para zelar pela infância e adolescência de Jesus, o Cristo Salvador do mundo, até que ele alcançasse sua plena maturidade de homem e pudesse iniciar sua vida pública e a pregação de seu Evangelho.

Foi efectivamente na humilde morada de Nazaré que começaram a desenrolar-se, entre os membros da Sagrada Família, as primeiras páginas do Novo Testamento que o Céu, em seu Verbo, se fez carne e veio se doar aos homens, por amor e pela salvação de todos.

O testemunho do Cristo e de seus pais demonstra, também, o imenso resplendor que pode atingir uma vida familiar comum, vivenciada em Deus, na simplicidade e num grande amor compartilhado.

29 de dezembro de 2007

Tempo de Natal - Epifania


Ignoramos em que dia Jesus nasceu. Os cristãos do século III escolheram, para comemorar esse evento, uma data particularmente significativa: o dia 25 de dezembro, a noite mais longa do ano. O motivo dessa escolha é simples: no tempo de nova luz na natureza, novo ano solar, festeja-se a festa da Luz nova que jamais se apagará: "Jesus, verdadeiro sol de justiça", repetindo as palavras do profeta Malaquias 3,20. Desde então, a Igreja começou a celebrar as duas grandes festas que indicam as etapas da vinda de Deus entre os homens: a Natividade e a Epifania.

No dia da Natividade ou Natal, festejamos a presença humilde de Deus no meio dos homens; no dia da Epifania, a manifestação dessa presença aos gentios e ao mundo.

A Epifania é para o Natal o que Pentecostes é para a Páscoa, ou seja, o seu desenvolvimento e a sua proclamação no mundo, e prolonga-se na festa do Batismo do Senhor, como manifestação ao povo eleito.

A oitava de Natal, 1º de janeiro, glorifica o nome de Jesus, que significa "o Senhor salva", e resume o sentido da encarnação acontecida em Maria, Mãe de Deus.

Assim, através dessas quatro festas, o tempo de Natal nos faz passar do mistério da encarnação ao início do ministério de Jesus. Também a reforma litúrgica do concílio Vaticano II confirma a estrutura desse tempo, que vai das primeiras Vésperas do Natal até o domingo que se segue à Epifania. Enriqueceram-se os textos litúrgicos das celebrações e inseriu-se a missa vespertina da vigília; solenizou-se a maternidade divina de Maria, bem como o batismo de Jesus.

A festa da Sagrada Família foi deslocada para o domingo que segue o Natal. As celebrações do tempo natalino não param nos fatos históricos, mas remontam a seu verdadeiro fundamento, que é o mistério da encarnação

21 de dezembro de 2007

Feliz Natal

Novo Ano Litúrgico VII

GRAUS DAS CELEBRAÇÕES E PRECEDÊNCIA DOS DIAS LITÚRGICOSUm dado importante é que o aspecto hierárquico da Igreja estende-se também à liturgia. Assim, entende-se que, na liturgia, não só os ritos têm grau de importância diferente, como também as próprias celebrações divergem quanto à sua importância litúrgica.
Podemos afirmar então que existem graus e precedência nas celebrações, e se dizemos genericamente "festas", três na verdade são os graus da celebração: "solenidade", "festa" e "memória", podendo esta última ser ainda obrigatória ou facultativa. Neste subsídio, a palavra "festa" sempre é usada no conceito aqui ora exposto, a fim de evitar mal-entendidos. Vejamos então:

• Solenidade
É o grau máximo da celebração litúrgica, isto é, aquele que admite, como o próprio nome sugere, todos os aspectos solenes e próprios da liturgia. Na "solenidade", então, três são as leituras bíblicas, canta-se o "Glória" e faz-se a profissão de fé. Para a maioria das solenidades existe também prefácio próprio. Embora no mesmo grau, as "solenidades" distinguem-se ainda, entre si, quanto à precedência. Somente o Tríduo Pascal da Paixão, Morte e ressurreição do Senhor está na liturgia em posição única. As demais solenidades portanto se acham na tabela oficial distinguindo-se apenas quanto ao lugar que ocupam no mesmo nível. Assim, depois do Tríduo Pascal, temos: Natal, Epifania, Ascensão e Pentecostes, o que equivale a dizer que estas quatro solenidades são as mais importantes depois do Tríduo Pascal, mas Natal vem em primeiro lugar, na ordem descrita.

• Festa
"Festa" é a celebração um pouco inferior à "solenidade". Identifica-se, inicialmente, com as do dia comum, mas nela canta-se o "Glória" e pode ter prefácio próprio, dependendo de sua importância. Com referência a "festa" e "solenidade", na Liturgia das Horas (Ofício das Leituras), canta-se ainda o "Te Deum", fora, porém, da Quaresma. Como já se falou , as "festas" do Santoral são omitidas quando caem em domingo.

• Memória"Memória" é, sempre, celebração de santos, um pouco ainda inferior ao grau de "festa". Na celebração da "memória", não se canta o "Glória". A "memória" é obrigatória quando o santo goza de veneração universal. Isto quer dizer que em toda a Igreja se celebra a sua memória. É, porém, facultativa quando se dá o contrário, ou seja, quando somente em alguns países ou regiões ele é cultuado.
As "memórias" não são celebradas nos chamados tempos privilegiados, a não ser como facultativas, e dentro das normas litúrgicas para a missa e Liturgia das Horas, conforme já se falou neste trabalho. Quando caem em domingo, são também omitidas, repetindo-se aqui o que já foi explanado.
A "memória" pode tornar-se "festa", ou mesmo "solenidade", quando celebração própria, ou seja, quando o santo festejado for padroeiro principal de um lugar ou cidade, titular de uma catedral, como também quando for titular, fundador ou padroeiro principal de uma Ordem ou Congregação. Também a "festa" pode tornar-se "solenidade" nas circunstâncias litúrgicas aqui descritas, estendendo-se esse entendimento às celebrações de aniversário de dedicação ou consagração de igrejas.

BIBLIOGRAFIA1 - Missal Romano
2 - Normas Universais do Ano Litúrgico e do Calendário
3 - Documento da CNBB - nº 43
4 - Ano Litúrgico (Adolf Adam)
5 - Documentos Pontifícios nº 144 (SC) - Concílio Vaticano II

18 de dezembro de 2007

Novo Ano Litúrgico VI

TEMPO COMUMApós pequenas considerações sobre os dois ciclos do Ano Litúrgico, vamos agora a um pequeno comentário sobre o Tempo Comum. Por "Tempo Comum", devemos entender aquele longo período, que se encontra entre os ciclos do Natal e da Páscoa. Na prática são 33 ou 34 semanas.
Começa esse tempo litúrgico na segunda-feira após a Festa do Baptismo do Senhor, ou na terça-feira, quando a Epifania é celebrada no dia 7 ou 8 de Janeiro, hipótese em que o Baptismo do Senhor é celebrado então na segunda-feira. Na terça-feira de Carnaval, o Tempo Comum se interrompe, reiniciando-se na segunda-feira depois do Domingo de Pentecostes e prolongando-se até o sábado que precede o primeiro Domingo do Advento.
No Tempo Comum não se celebra um aspecto de nossa fé, como é o caso do Natal (Encarnação), e Páscoa (Redenção), mas celebra-se todo o mistério de Deus, em sua plenitude. Uma temática pode, porém, nele aparecer, quando nele se celebram algumas solenidades, como "Santíssima Trindade", "Corpus Christi" etc., chamadas na liturgia de "Solenidades do Senhor no Tempo Comum".
Não existe uma liturgia para o 1º Domingo do Tempo Comum, porque, neste, a Igreja celebra, nas hipóteses já referidas, a Festa do Baptismo do Senhor. Diz-se então, iniciando esse período, "primeira semana do Tempo Comum", que começa na segunda-feira ou na terça-feira, como já vimos. A partir do segundo domingo é que começa, oficialmente, a enumeração dos domingos do Tempo Comum, como conhecemos.
Dadas como foram as festas e solenidades dos dois ciclos litúrgicos, aqui são dadas também, agora, as festas e solenidades do "Santoral", celebradas, em sua maioria, no Tempo Comum, salvo aquelas já referidas nos ciclos comentados. Vejamos então:

Solenidades do Senhor no Tempo ComumSão quatro as celebrações assim denominadas. São também móveis, isto é, a sua data de celebração depende da Páscoa:
• Santíssima Trindade
Celebra-se no domingo seguinte ao de Pentecostes
• Sagrado Corpo e Sangue do Senhor
Celebra-se na quinta-feira após a solenidade da Santíssima Trindade
• Sagrado Coração de Jesus
A sua celebração dá-se na 2ª sexta-feira após "Corpus Christi"
• Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo
É celebrada no último domingo do Tempo Comum, ocupando o lugar do 34º domingo.
Também no Tempo Comum são celebradas algumas festas do Senhor. Estas, quando caem no domingo, ocupam o seu lugar. São elas:
• Apresentação do Senhor
Celebra-se no dia 2 de Fevereiro
• Transfiguração do Senhor
Sua celebração é em 6 de Agosto
• Exaltação da Santa Cruz
Celebra-se em 14 de Setembro

Além das "festas do Senhor" acima referidas, outras festas e solenidades são celebradas no Tempo Comum, pertencentes então ao "Santoral". Ei-las:

Solenidades
• Natividade de São João Batista - em 24 de Junho
• São Pedro e São Paulo - em 29 de Junho
• Assunção de Nossa Senhora - em 15 de Agosto
• Todos os Santos - no 1º de Novembro.
Nota: As solenidades do "Santoral", quando caem no Domingo Comum, ocupam também o seu lugar. É o caso aqui da "Natividade de São João Batista" e "Nossa Senhora da Conceição ".

Festas do "Santoral" celebradas no Tempo Comum
• Conversão de São Paulo, Apóstolo - em 25 de Janeiro
• Cátedra de São Pedro - em 22 de Fevereiro
• São Marcos, Evangelista - em 25 de Abril
• São Filipe e São Tiago - em 3 de Maio
• São Matias, Apóstolo - em 14 de Maio
• Visitação de Nossa Senhora - em 31 de Maio
• São Tomé, Apóstolo - em 3 de Julho
• São Tiago Maior, Apóstolo - em 25 de Julho
• São Lourenço, Diácono e mártir - em 10 de Agosto
• Santa Rosa de Lima - em 23 de Agosto
• São Bartolomeu, Apóstolo - em 24 de Agosto
• Natividade de Nossa Senhora - em 8 de Setembro
• São Mateus, apóstolo e evangelista - em 21 de Setembro
• São Miguel, São Gabriel e São Rafael, arcanjos - em 29 de Setembro
• São Lucas, evangelista - em 18 de Outubro
• São Simão e São Judas Tadeu - em 28 de Outubro (apóstolos)
• Dedicação da Basílica de Latrão - em 9 de Novembro
• Santo André, Apóstolo - em 30 de Novembro

Não se fez referência às memórias (obrigatórias ou facultativas), que a Igreja celebra também durante todo o ano litúrgico. As memórias são omitidas quando caem no domingo e nos tempos privilegiados, podendo contudo ser celebradas como facultativas, nas normas litúrgicas. Quanto às festas dos santos, são também omitidas quando caem nos domingos, mas são celebradas nos dias de semana dos tempos privilegiados.
Chamam-se "Próprio do Tempo" as celebrações dos ciclos festivos (Natal e Páscoa), como também as do Tempo Comum, ligadas ao mistério da redenção. As celebrações dos santos são chamadas "Próprio dos Santos", ou "Santoral".

15 de dezembro de 2007

Novo Ano Litúrgico V

CICLO DA PÁSCOAApós pequenas considerações sobre o ciclo do Natal, vejamos agora alguns pontos do ciclo pascal, na riqueza também de sua estrutura celebrativa.
Preparação: Quaresma
Celebração: Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor
Prolongamento: Tempo Pascal
A exemplo do que se fez no Ciclo do Natal, aqui se explicita também um pouco cada momento do Ciclo da Páscoa.
• QuaresmaChamado, liturgicamente, de tempo de preparação penitencial para a Páscoa, a Quaresma, a exemplo também do Advento, tem dois momentos distintos: o primeiro vai da Quarta-Feira de Cinzas até o Domingo da Paixão e de Ramos, e o segundo, como preparação imediata, vai do Domingo de Ramos até a tarde de Quinta-Feira Santa, quando se encerra então o tempo quaresmal.
O tempo da Quaresma é tempo privilegiado na vida da Igreja. É o chamado tempo forte, de conversão e de mudança de vida. Sua palavra-chave é: "metanóia", ou seja, conversão. Nesse tempo se registam os grandes exercícios quaresmais: a prática da caridade e as obras de misericórdia. O jejum, a esmola e a oração são exercícios bíblicos até hoje recomendáveis, na imitação da espiritualidade judaica.
Seis são os domingos da Quaresma, sendo o sexto já o Domingo de Ramos. Como se viu no Advento, tem também a Quaresma o seu domingo da alegria, o 4º domingo, chamado "Laetare".
A palavra "Quaresma" vem do latim "quadragésima", isto é, "quarenta", e está ligada a acontecimentos bíblicos, que dizem respeito à história da salvação: jejum de Moisés no Monte Sinai, caminhada de Elias para o Monte Horeb, caminhada do povo de Israel pelo deserto, jejum de Cristo no deserto, etc..
• Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição do SenhorO Tríduo Pascal é o centro não só da Páscoa, mas também de toda a vida da Igreja. Na liturgia ocupa o primeiro lugar em ordem de grandeza, não havendo, pois, nenhuma outra celebração que se possa colocar no seu nível. É portanto o cume da liturgia e de todo o acontecimento da redenção. Por isso, deveria estar mais presente, como tema, em toda catequese e ser objecto de interiorização nos encontros eclesiais.

Começa o Tríduo Pascal na Quinta-Feira Santa, na missa vespertina, chamada "Ceia do Senhor", tem seu centro na Vigília Pascal do Sábado Santo e encerra-se com a missa vespertina do Domingo da Páscoa.
O Tríduo Pascal não é - diga-se - um tríduo que nos prepara para o Domingo da Páscoa, mas um tríduo celebrativo do Mistério Pascal de Cristo, que culmina no domingo, "Dia do Senhor". Trata-se, pois, de uma única celebração, em três momentos distintos.

É tão fundamental o Tríduo Pascal que, sem ele, não existiria a liturgia, e o que teríamos era então uma Igreja sem sacramentos e sem a missionaridade redentora. Por que se diz isto? Porque, sem a ressurreição de Cristo - ensina-nos São Paulo (Cf. 1Cor 15,14) - vazia seria toda a pregação apostólica, como vã, vazia e sem sentido seria também a nossa fé. Estaríamos ainda acorrentados nos "Egiptos" do mundo e presos aos grilhões do pecado e da morte.
Aplica-se sobretudo ao Domingo da Páscoa tudo o que se disse sobre o domingo, como fundamento do Ano Litúrgico. E mais: o Domingo da Páscoa deve ser visto, celebrado e vivido como o "domingo dos domingos", dia, pois, sagrado por excelência. Se todos os domingos do ano já têm primazia fundamental sobre todos os outros dias, o Domingo da Páscoa destaca-se ainda mais pela sua notoriedade cristã, dada a sua relação teológica com o Cristo Kyrios (Senhor).

• Tempo PascalCom a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, somente duas celebrações hoje na Igreja têm "oitava", isto é, um prolongamento festivo por oito dias, durante o qual a liturgia se volta para a solenidade principal. Estas duas celebrações são Natal e Páscoa. A Oitava da Páscoa vai, assim, do Domingo da Páscoa ao domingo seguinte.
Os domingos do Tempo Pascal são chamados de "Domingos da Páscoa", com a identificação de 1º, 2º etc.. São sete tais domingos, e, no sétimo celebra-se a Solenidade da Ascensão do Senhor. Como se vê, o prolongamento mais extenso da Páscoa se dá então até a Solenidade de Pentecostes. Segundo Santo Atanásio, o Tempo Pascal deve ser celebrado como um "grande domingo", ou seja, um domingo com duração de 50 dias.

Solenidades do Tempo PascalComo já ficou evidenciado acima, além do Tríduo Pascal, que é a celebração principal da Páscoa, duas outras solenidades marcam também o Tempo Pascal. São elas:
Ascensão do Senhor
É o domingo que celebra a subida do Senhor ao céu, quarenta dias após a ressurreição (Cf. Act 1,1-3). A data certa da solenidade seria na quinta-feira precedente, mas, como não é feriado, transferiu-se então tal comemoração para o domingo seguinte, ocupando, pois, tal solenidade o lugar do 7º Domingo da Páscoa.
PentecostesComo sabemos, Pentecostes é o coroamento de todo o ciclo da Páscoa. É a solenidade que celebramos após 50 dias da ressurreição. Marca o início solene da vida da Igreja (Cf. Act 2,1-41), não o seu nascimento, pois este se dá, misteriosamente, na Sexta-Feira Santa, do lado do Cristo Crucificado, como sua esposa imaculada.
Pentecostes, como já foi dito, coroa a obra da redenção, pois nela Cristo cumpre a promessa feita aos apóstolos, segundo a qual enviaria o Espírito Santo Consolador, para os confirmar e os fortalecer na missão apostólica. A vinda do Espírito Santo, no episódio bíblico de Act 2,1-4, deve ser entendida em dimensão também eclesiológica, ou seja, como acção estendida a toda a Igreja, no desejo do Pai e do Filho. Com Pentecostes encerra-se, pois, o ciclo da Páscoa.

11 de dezembro de 2007

Novo Ano Litúrgico IV

ESTRUTURA CELEBRATIVA E PEDAGÓGICA DO ANO LITÚRGICOComo se pode ver pelo gráfico, e como já foi referido neste trabalho, o Ano Litúrgico divide-se em dois grandes ciclos: Natal e Páscoa. Entre eles situa-se o Tempo Comum, não os separando, mas unindo-os, na unidade pascal e litúrgica.
Em cada ciclo há três momentos, de grande importância para a compreensão mais exacta da liturgia. São eles:
preparação para a festa principal;
celebração solene, constituindo assim o seu centro; e
prolongamento da festa celebrada.
No centro do Ano Litúrgico encontra-se Cristo, no seu Mistério Pascal (Paixão, Morte e Ressurreição). É o memorial do Senhor, que celebramos na Eucaristia. O Mistério Pascal é, portanto, o coração do Ano Litúrgico, isto é, o seu centro vital.
O círculo é um símbolo expressivo da eternidade, e o Mistério Pascal de Cristo, no seu centro, constitui o eixo fundamental sobre o qual gira toda a liturgia.

ESTUDO PORMENORIZADO DE CADA CICLO COM SUAS CELEBRAÇÕES
CICLO DO NATAL
Vejamos agora um pouco de cada momento do ciclo natal, a fim de se ter uma noção mais exacta.
Preparação: Advento
Celebração: Natal
Prolongamento: Tempo do Natal

• AdventoO Advento é um tempo forte na Igreja, onde nos preparamos para a celebração do Natal. Tem duas características, marcadas por dois momentos. O primeiro vai do primeiro domingo do Advento até o dia 16 de Dezembro. Neste primeiro momento, a liturgia fala-nos da segunda vinda do Senhor no fim dos tempos, a chamada escatologia cristã. Já o segundo momento vai do dia 17 ao dia 24 de Dezembro. É como que a "semana santa" do Natal. Neste período, a liturgia vai falar-nos mais directamente da primeira vinda do Senhor, no Natal.
No Advento temos quatro domingos, o terceiro chamado "Gaudete", isto é, domingo da alegria.
Podemos dizer que os quatro domingos do Advento simbolizam os quatro grandes períodos em que Deus preparou a humanidade, de maneira progressiva, para a grande obra da redenção em Cristo. Esses quatro períodos são:
1º) O tempo que vai de Adão a Noé –
2º) O tempo de Noé a Abraão –
3º) O tempo de Abraão a Moisés - e
4º) O tempo que vai de Moisés a Cristo.
Com Abraão começa, historicamente, a caminhada da salvação (Cf. Gn 12).
Os quatro domingos simbolizam também as quatro estações do ano solar e as quatro semanas do mês lunar. Aqui pode-se ver a harmonia entre tempo histórico e tempo cósmico. Também a coroa do Advento, na sua forma circular, com as suas quatro velas, quer chamar a nossa atenção, já no início do Ano Litúrgico, para o mistério de Deus que nele vamos celebrar. A cor verde dos ramos da coroa (pinheiro, principalmente), fala do mistério cristão, e simboliza então a esperança e a vida eterna.
Três personagens bíblicos marcam o tempo do Advento. São eles: o profeta Isaías, São João Batista e a Virgem Mãe de Deus. Não é tempo penitencial, no sentido próprio e litúrgico, mas tempo de expectativa, de moderação e de esperança. Por isso, a cor roxa não é muito apropriada para o Advento, mas, oficialmente, ela é a que se deve usar.


• Natal
O Natal é a celebração principal de todo o ciclo natalícias. Constitui portanto o seu centro. Cristo nasce em Belém da Judéia, em noite fria (inverno), mas traz do céu o calor vitalizante da santidade de Deus, em mensagem de paz dirigida sobretudo aos pobres, com quem se identifica mais plenamente, cumulando-os das riquezas do Reino. Sua "noite feliz" sinaliza para a "noite fulgurante" da Sagrada Vigília Pascal do Sábado Santo, onde as trevas são dissipadas, definitivamente, pela luz do Cristo Ressuscitado.
No Natal dá-se a união hipostática, ou seja, a natureza divina se une à natureza humana, numa só pessoa, a pessoa do Verbo Encarnado (Cf. Jo 1,14), mistério que transcende a compreensão humana. É pura humildade de Deus e pura gratuidade do amor divino.


• Tempo do NatalComo o Advento, tem também o Tempo do Natal dois momentos. Um, imediato: é a Oitava do Natal, que prolonga a solenidade do natal por oito dias, encerrando-se no dia primeiro de Janeiro. O segundo momento vai de 2 de Janeiro até a Festa do Baptismo do Senhor, quando então se encerra o ciclo do Natal.

Vejamos agora as festas e solenidades do ciclo do Natal, nomeando-as, mas sem referência a aspectos celebrativos.


No Advento (além dos quatro domingos)
• Solenidade da Imaculada Conceição - em 8 de Dezembro
No Natal• Solenidade principal do ciclo de natal, com vigília e três missas
No Tempo do Natal
São duas as solenidades e duas também as festas celebradas no Tempo do Natal, além, é claro, da solenidade principal de 25 de Dezembro. São elas:
• Solenidade da Santa Mãe de Deus
Esta solenidade é celebrada em 1º de Janeiro, com a qual se encerra, como vimos, a Oitava do Natal.
• Solenidade da Epifania
Epifania significa manifestação. É, pois, a manifestação de Jesus ao mundo, como salvador universal. Os magos simbolizam o conjunto das nações e dos povos. A Epifania marca, assim, a universalidade da redenção de maneira viva e simbólica. Celebra-se a Epifania no domingo que cai entre os dias 2 a 8 de Janeiro.
• Festa da Sagrada Família
Esta festa é celebrada no domingo entre os dias 26 e 31 de Dezembro. Se não houver domingo neste período, então a Festa da Sagrada família é celebrada no dia 30 de Dezembro, em qualquer dia da semana.
• Festa do Baptismo do Senhor
Com a Festa do Baptismo do Senhor encerra-se o ciclo do Natal. A data da sua celebração depende da Solenidade da Epifania. Se a Epifania for celebrada até o dia 6 de Janeiro, então o Baptismo do Senhor celebra-se no domingo seguinte. Se, porém, a Epifania for celebrada no dia 7 ou 8 de Janeiro, então a Festa do Baptismo do Senhor será celebrada no dia seguinte, isto é, na segunda-feira. A Festa do Baptismo do Senhor marca o início da vida pública e missionária de Cristo.

Há ainda, três celebrações natalícias, mas são comemoradas fora do ciclo do Natal: a festa da Apresentação do Senhor, em 2 de Fevereiro, no Tempo Comum portanto; a solenidade de São José, esposo da Santíssima Virgem, em 19 de Março, e a solenidade da Anunciação do Senhor, em 25 de Março, estas duas últimas na Quaresma, sendo que, com referência à Anunciação, esta também pode cair, eventualmente, na Semana Santa. Nesta última hipótese, tal solenidade é transferida para depois da Oitava da Páscoa, uma vez que na Semana Santa não se pode fazer nenhuma comemoração que não seja a da sua própria liturgia.

Dentro ainda da Oitava do Natal, três festas do "Santoral" são celebradas, mas com Vésperas da Oitava. São elas: Santo Estêvão, diácono e protomártir, em 26 de Dezembro; São João, Apóstolo e Evangelista, em 27 de Dezembro; e Santos Inocentes, em 28 de Dezembro.

Novo Ano Litúrgico III

AS DIVISÕES DO ANO LITÚRGICOOs mistérios da nossa fé são celebrados no Ano Litúrgico, e este divide-se em dois grandes ciclos: o ciclo do Natal, em que se celebra o mistério da Encarnação do Filho de Deus, e o ciclo da Páscoa, em que celebramos o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, como também sua ascensão ao céu e a vinda do Espírito Santo sobre a Igreja, na solenidade de Pentecostes.
O ciclo do Natal inicia-se no primeiro domingo do Advento e encerra na Festa do Baptismo do Senhor, tendo o seu centro, isto é, sua culminância, na solenidade do Natal. Já o ciclo da Páscoa tem início na Quarta-Feira de Cinzas, início também da Quaresma, tendo o seu centro no Tríduo Pascal, encerrando-se no Domingo de Pentecostes. A solenidade de Pentecostes é o coroar de todo o ciclo da Páscoa.
Entremeando os dois ciclos do Ano Litúrgico, encontra-se um longo período, chamado "Tempo Comum". É o tempo verde da vida litúrgica. Após o Natal aparece o início da vida pública de Jesus, com suas primeiras pregações. Após o ciclo da Páscoa, este tempo verde anuncia vivamente a floração das alegrias pascais. Os dois ciclos litúrgicos, com suas duas irradiações vivas do Tempo Comum, são como que as quatro estações do Ano Litúrgico.

O "SANTORAL" OU "PRÓPRIO DOS SANTOS"Em todo o Ano Litúrgico, excepto nos chamados tempos privilegiados (segunda parte do Advento, Oitava do Natal, Quaresma, Semana Santa e Oitava da Páscoa), a Igreja celebra a memória dos santos. Se no Natal e na Páscoa, Deus apresenta à Igreja o seu projecto de amor em Cristo Jesus, para a salvação de toda a humanidade, no Santoral a Igreja apresenta a Deus os copiosos frutos da redenção, colhidos na plantação de esperança do próprio Filho de Deus. São os filhos da Igreja, que seguiram fielmente o Cristo Senhor na estrada salvífica do Evangelho. Em outras palavras, o Santoral é a resposta solene da Igreja ao convite de Deus para a santidade.

AS CORES DO ANO LITÚRGICOComo a liturgia é acção simbólica, também as cores nela exercem um papel de vital importância, respeitada a cultura de nosso povo, os costumes e a tradição. Assim, é conveniente que se dê aqui a cor dos tempos litúrgicos e das festas. A cor diz respeito aos paramentos do celebrante, à toalha do altar e do ambão e a outros símbolos litúrgicos da celebração. Pode-se, pois, assim descrevê-la:
• Cor roxaUsa-se: No Advento, na Quaresma, na Semana Santa (até Quinta-Feira Santa de manhã), e na celebração de Finados, como também nas exéquias.
• Cor branca
Usa-se: Na solenidade do Natal, no Tempo do Natal, na Quinta-Feira Santa, na Vigília Pascal do Sábado Santo, nas festas do Senhor e na celebração dos santos. Também no Tempo Pascal é predominante a cor branca.
• Cor vermelhaUsa-se: No Domingo da Paixão e de Ramos, na Sexta-Feira da Paixão, no Domingo de Pentecostes e na celebração dos mártires, apóstolos e evangelistas.
• Cor rosa
Pode-se usar: No terceiro Domingo do Advento (chamado "Gaudete") e no quarto Domingo da Quaresma chamado "Laetare"). Esses dois domingos são classificados, na liturgia, de "domingos da alegria", por causa do tom jubiloso de seus textos.
• Cor pretaPode-se usar na celebração de Finados
• Cor verdeUsa-se: Em todo o Tempo Comum, excepto nas festas do Senhor nele celebradas, quando a cor litúrgica é o branco.
Nota explicativa: Se uma festa ou solenidade tomar o lugar da celebração do tempo litúrgico, usa-se então a cor litúrgica da festa ou solenidade. Exemplo: em 8 de Dezembro, celebra-se a Solenidade da Imaculada Conceição. Neste caso, a cor litúrgica é então o branco, e não o roxo do Advento. Este mesmo critério é aplicável para a celebração dos dias de semana.

8 de dezembro de 2007

Nossa Senhora da Conceição


Nossa Senhora da Conceição, padroeira do Reino.
Nas cortes celebradas em Lisboa no ano de 1646 declarou el-rei D. João IV que tomava a Virgem Nossa Senhora da Conceição por padroeira do Reino de Portugal, prometendo-lhe em seu nome, e dos seus sucessores, o tributo anual de 50 cruzados de ouro. Ordenou o mesmo soberano que os estudantes na Universidade de Coimbra, antes de tomarem algum grau, jurassem defender a Imaculada Conceição da Mãe de Deus. Não foi D. João IV o primeiro monarca português que colocou o reino sob a protecção. da Virgem, apenas tornou permanente uma devoção, a que os nossos reis se acolheram algumas vezes em momentos críticos para a pátria. D. João I punha nas portas da capital a inscrição louvando a Virgem, e erigia o convento da Batalha a Nossa Senhora, como o seu esforçado companheiro D. Nuno Alvares Pereira levantava a Santa Maria o convento do Carmo. Foi por provisão de 25 de Março do referido ano de 1646 que se mandou tomar por padroeira do reino Nossa Senhora da Conceição. Comemorando este facto cunharam-se umas medalhas de ouro de 22 quilates, com o peso de 12 oitavas, e outras semelhantes mas de prata, com o peso de uma onça, as quais foram depois admitidas por lei como moedas correntes, as de ouro por 12$000 réis e as de prata por 600 réis. Segundo diz Lopes Fernandes, na sua Memoria das medalhas, etc., consta do registo da Casa da Moeda de Lisboa, liv. 1, pag. 256, v. que António Routier foi mandado vir de França, trazendo um engenho para lavrar as ditas medalhas, as quais se tornaram excessivamente raras, e as que aquele autor numismata viu cunhadas foram as reproduzidas na mesma Casa da Moeda no tempo de D. Pedro II. Acham-se também estampadas na Historia Genealógica, tomo IV, tábua EE. A descrição é a seguinte: JOANNES IIII, D. G. PORTUGALIAE ET ALGARBIAE REX – Cruz da ordem de Cristo, e no centro as armas portuguesas. Reverso: TUTELARIS RE­GNI – Imagem de Nossa Senhora da Conceição sobre o globo e a meia lua, com a data de 1648, e; nos lados o sol, o espelho, o horto, a casa de ouro, a fonte selada e arca do santuário. O dogma da Imaculada Conceição foi definido pelo papa Pio IX em 8 de Dezembro de 1854, pela bula Ineffabilis. A instituição da ordem militar de Nossa Senhora da Conceição por D. João VI (V. o artigo seguinte) sintetiza o culto que em Portugal sempre teve essa crença antes de ser dogma. Em 8 de Dezembro de 1904 lançou-se em Lisboa solenemente a primeira pedra para um monumento comemorativo do cinquentenário da definição do dogma. Ao acto, a que assistiram as pessoas reais, patriarca e autoridades, estiveram também representadas muitas irmandades de Nossa Senhora da Conceição, de Lisboa e do país, sendo a mais antiga a da actual freguesia dos Anjos, que foi instituída em 1589.

(Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico, Volume V, pág. 122)

6 de dezembro de 2007

Novo Ano Litúrgico II

RITMO CÓSMICO DO ANO LITÚRGICO
Como se sabe, o ano civil está inteiramente identificado com o ciclo solar, regendo-se pelos ditames das quatro estações, mas marcado também pelo movimento lunar, onde se contam as semanas. Ano, mês e dia, como fracções do tempo, aqui se harmonizam, no desenvolvimento da vida humana.
Na datação cósmica do Ano Litúrgico, seguindo a tradição judaica, os cristãos, no Hemisfério Norte, vão escolher, para a celebração anual da Páscoa, o equinócio da primavera, por este ser ponto de equilíbrio, de harmonia, de duração igual da noite e do dia, de equiparação, pois, entre horas de luz e horas de escuridão, momento de surgimento de vida nova na natureza e de renascimento da vida. Além da estação das flores, no Hemisfério Norte há ainda o simbolismo suplementar da lua cheia, dando a entender que, na ressurreição de Cristo, o dia tem vinte e quatro horas de luz.
Nota explicativa: A Igreja, hoje, celebra a Páscoa não no dia catorze do mês de Nisã, isto é, na data da Páscoa judaica, como celebravam os cristãos da Ásia Menor e da Síria, mas no domingo seguinte, acabando assim com a controvérsia pascal do século segundo, por determinação do Concílio de Nicéia.
Para a celebração do Natal, a evolução litúrgica vai escolher outro núcleo do ano. Este outro momento é o solstício de inverno, o "dies natalis solis invictus", ou seja, o "dia de nascimento do sol invicto". Neste tempo, os dias começam a crescer, e o sol renasce vivo e surpreendente. É neste contexto, do "Sol Invicto", solsticial, que vai aparecer na face da Terra "o verdadeiro Sol Nascente" (Cf. Lc 1,78), isto é, Cristo Jesus Nosso Senhor.

QUANDO SE INICIA O ANO LITÚRGICO?
Diferente do ano civil, mas, o Ano Litúrgico não tem data fixa de início e de término. Sempre se inicia no primeiro Domingo do Advento, encerrando-se no sábado da 34ª semana do Tempo Comum, antes das vésperas do domingo, após a Solenidade de Cristo Rei do Universo. Esta última solenidade do Ano Litúrgico marca e simboliza a realeza absoluta de Cristo no fim dos tempos. Daí, sua celebração no fim do Ano Litúrgico, lembrando, porém, que a principal celebração litúrgica da realeza de Cristo se dá sobretudo no Domingo da Paixão e de Ramos.
Mesmo sem uma data fixa de início, qualquer pessoa pode saber quando vai ter início o Ano Litúrgico, pois ele se inicia sempre no domingo mais próximo de 30 de Novembro. Na prática, o domingo que cai entre os dias 27 de Novembro e 3 de Dezembro. A data de 30 de Novembro é colocada também como referencial, porque nela a Igreja celebra a festa de Santo André, apóstolo, irmão de São Pedro, e Santo André foi, ao que tudo indica, um dos primeiros discípulos a seguir Cristo (Cf. Jo 1,40).

ANO LITÚRGICO E DINÂMICA DA SALVAÇÃO
Tendo como centro o Mistério Pascal de Cristo, todo o Ano Litúrgico é dinamismo de salvação, onde a redenção operada por Deus, através de Jesus Cristo, no Espírito Santo, deve ser viva realidade em nossas vidas, pois o Ano Litúrgico nos propicia uma experiência mais viva do amor de Deus, enquanto nos mergulha no mistério de Cristo e de seu amor sem limites.

O DOMINGO, FUNDAMENTO DO ANO LITÚRGICO
O Concílio Vaticano II (SC nº 6), fiel à tradição cristã e apostólica, afirma que o domingo, "Dia do Senhor", é o fundamento do Ano Litúrgico, pois nele a Igreja celebra o mistério central de nossa fé, na Páscoa semanal que, devido à tradição apostólica, se celebra a cada oitavo dia.
O domingo é justamente o primeiro dia da semana, dia da ressurreição do Senhor, que nos lembra o primeiro dia da criação, no qual Deus criou a luz (Cf. Gn 1,3-5). Aqui, o Cristo ressuscitado aparece então como a verdadeira luz, dos homens e das nações. Todo o Novo Testamento está impregnado dessa verdade substancial, quando enfatiza a ressurreição no primeiro dia da semana (Cf. Mt 28,1; Mc 16,2; Lc 24,1; Jo 20,1; como também At 20,7 e Ap 1,10).
O domingo é, na tradição da Igreja, na prática cristã e na liturgia, o "dia que o Senhor fez para nós" (Cf. Sl 117(118),24), dia, pois, da jubilosa alegria pascal.

3 de dezembro de 2007

Novo Ano Litúrgico



Chama-se Ano Litúrgico o tempo em que a Igreja celebra todos os feitos salvíficos operados por Deus em Jesus Cristo. "Através do ciclo anual, a Igreja comemora o mistério de Cristo, desde a Encarnação ao dia de Pentecostes e à espera da vinda do Senhor" ( SC nº 102).
Ano Litúrgico é, pois, um tempo repleto de sentido e de simbolismo religioso, de essência pascal, marcando, de maneira solene, o ingresso definitivo de Deus na história humana. É o momento de Deus no tempo, o "kairós" divino na realidade do mundo criado. Tempo, pois, aqui entendido como tempo favorável, "tempo de graça e de salvação", como nos revela o pensamento bíblico (Cf. 2Cor 6,2; Is 49,8a).
As celebrações do Ano Litúrgico não olham apenas para o passado, comemorando-o. Olham também para o futuro, na perspectiva do eterno, e fazem do passado e do futuro um eterno presente, o "hoje" de Deus, pela sacramentabilidade da liturgia (Cf. Sl 2,7; 94(95)7; Lc 4,21; 23,43). Aqui, enfatiza-se então a dimensão escatológica do Ano Litúrgico.
O Ano Litúrgico tem como coração o Mistério Pascal de Cristo, centro vital de todo o seu organismo. Nele palpitam as pulsações do coração de Cristo, enchendo da vitalidade de Deus o corpo da Igreja e a vida dos cristãos.


SIMBOLISMO DO ANO LITÚRGICO
O Ano Litúrgico tem no círculo a sua simbologia mais expressiva, pois o círculo é imagem do eterno, do infinito. Notamos isso, olhando uma circunferência. Ela não tem começo nem fim, pois, nela, o fim é um retorno ao começo. Não um retorno exaustivo, rotineiro, mas verdadeiramente um começo sempre novo, de vitalidade essencial.
O círculo é, pois, imagem da vida eterna, e a vida eterna, como sabemos, não clama por progresso, visto não existir na eternidade carência, de forma alguma. A vida eterna - podemos afirmar - permanece em constante plenitude.
Cada ano litúrgico, que celebramos e vivemos, deve ser um degrau que subimos rumo à eternidade do Pai. Celebrar o Ano Litúrgico é como subir a montanha de Deus, não como alpinista, mas como peregrino do Reino, onde, a cada subida, sente-se mais perto de Deus.