31 de março de 2008

Depois da Ressurreição II

A Ressurreição de Jesus (Act.1,1-3)


No primeiro dia da semana (Domingo para os cristãos), Maria e Maria Madalena, mulheres que acompanharam Jesus na hora da Sua Paixão e Morte, vão até ao sepulcro e encontram-no vazio e escutam "Não está aqui, Ressuscitou" (Lc.24, 1-12). Partiram e foram anunciar aos outros discípulos. Jesus continuava vivo.
E não temos apenas o sepulcro vazio a testemunhar a Ressurreição de Jesus. Porque a Ressurreição de Jesus não é uma invenção dos apóstolos e dos cristãos dos primeiros tempos, é algo que merece todo o crédito, pois foi testemunhada por muitas pessoas em diversas circunstâncias, através das aparições. Lucas fala-nos do encontro com os discípulos de Emaús (Lc.24,13-35), mais tarde aparece no meio dos apóstolos (Lc.24,36-43). Também os outros evangelistas registam outras aparições antes de Jesus subir aos céus.
Podemos situar Jesus no tempo e encontramo-nos perante factos que são históricos.

É histórico:
- que enquanto Pôncio Pilatos era governador da Judeia, um homem chamado Jesus, pregou, foi seguido por discípulos e foi condenado à morte.
- que esses discípulos proclamavam que Jesus estava vivo, que ele é o Filho de Deus,
- que muitos morreram, foram lançados às feras, porque não queriam negar essa verdade.

Isto é histórico e não há ninguém de boa fé que o possa desmentir. Mas aceitar isto não é ter fé. Pois qualquer pessoa pode chegar até aqui. Agora acreditar nesses discípulos, reconhecer como eles que Jesus Ressuscitou está vivo e que nos dá a vida, isto é acreditar, isto é ter fé.
Os escritos do Novo Testamento mostram-nos a fé desses primeiros cristãos. Eles anunciam aquilo que se passou no seu tempo como uma "Boa Nova" que transformou a vida deles. É esta fé que vamos procurar descobrir através de seu testemunho.
É importante sabermos que os Evangelhos não são uma "reportagem em cima do acontecimento" da vida de Jesus e que os discípulos não fundaram a Igreja a partir dos Evangelhos. Sabemos que não aconteceu assim. Jesus morreu por volta do ano 30 e os evangelhos só muito mais tarde foram escritos (entre o ano 70 e 95). Entre a morte de Jesus e o aparecimento dos escritos dos Evangelistas há a experiência da vida da Igreja primitiva. Isto quer dizer que os escritos nasceram da vivência da Igreja (a comunidade dos discípulos) e não o contrário.
Esta Igreja tem consciência que é o novo povo de Deus, que nasce pela Palavra de Jesus Cristo e que é animada pelo Espírito Santo. A Igreja vive Jesus Ressuscitado, e é esta vida que ela descobre, interpreta e põe por escrito. E é através desta fé da Igreja primitiva que nos é dado a conhecer Jesus.
Para melhor conhecer a Igreja para partir à descoberta do Novo Testamento e para melhor o entendermos devemos começar pelo livro dos "Actos dos Apóstolos".

29 de março de 2008

Felizes os que acreditam


No evangelho da primeira aparição de Jesus Ressuscitado, encontramos a história de Tomé, que é também a história das comunidades de João e das nossas comunidades, porque Tomé duvidou que o Senhor estivesse com eles, e, nos nossos dias, diante de tantas dificuldades, medos e incertezas na vida de fé das nossas comunidades, nós também chegamos a pensar que Jesus não está connosco. Será que ele ressuscitou mesmo? Será que enquanto ressuscitado caminha com as comunidades? Então por que não aparece? Se ele aparecesse e se deixasse ver e tocar, tudo seria maravilhoso e uma multidão iria acreditar.
Mas a Fé não é uma certeza que vem do Ver e Tocar, ela não é comprovação científica, mas Dom inefável de Deus, que vem através do Espírito Santo, concedido aos apóstolos e a toda a Igreja pelo próprio Ressuscitado.
Com certeza todos desejaríamos estar no lugar dos apóstolos, que foram tão felizes tendo Jesus Ressuscitado no meio deles, vendo e tocando...
Mas Jesus dirá o contrário: “Felizes os que acreditam sem terem visto!”
Um sentimento de medo e incredulidade dominou os apóstolos naqueles primeiros tempos após a ascensão do Senhor. Não foi nada fácil para eles e não foi da noite para o dia que começaram a viver a Fé com essa maneira apaixonada como nos descreve Actos. Tiveram muitas dificuldades e muitas dúvidas, exactamente como nós temos e Tomé não foi um caso isolado como parece.
O evangelho coloca-nos a importância de vivermos e participarmos da comunidade, porque ela é o único local onde podemos fazer a experiência do Senhor Ressuscitado. Quando deixamos de ser assíduos, como ocorreu com Tomé, que não foi na celebração do domingo, acabamos por ficar incrédulos e o desânimo poderá abater-nos, porque o pecado cega a alma e o coração e passamos a ver apenas os erros do nosso irmão, não nos dando conta de que Jesus Ressuscitado caminha connosco e vai à nossa frente!

28 de março de 2008

Uma comunidade modelo

A primeira comunidade (Act. 2,42-47)


Lucas regista que depois do discurso de Pedro (Act:2,1-41), feito no dia de Pentecostes, cerca de 3000 pessoas acolheram a sua palavra e receberam o baptismo.
Logo de seguida, dá-nos um resumo sobre o modo como esses primeiros cristãos viviam em comunidade.

Nos Actos do Apóstolos podemos encontrar três sumários sobre o modelo de vida cristã, são eles: 2,42-47; 4,32-35 e 5,12-14.
Estes sumários podem servir como ponto de "referência" aos cristãos de todos os tempos.
O primeiro (2,42-47) é, como que, um "sumário dos sumários", pois, nele se encontra de forma resumida, os sete elementos fundamentais presentes nos restantes sumários, de uma forma mais condensada.
Estes elementos são componentes da vida comunitária sentidas no seu interior (assíduos ao ensino dos apóstolos; união fraterna; fracção do pão; oração) e componentes relativas ao impacto exterior (favor junto do povo; sinais e prodígios; aumento em número).

As quatro "fidelidades" que guia a vida desta comunidade, impressionam os outros e suscitam admiração.

26 de março de 2008

Depois da Ressurreição


Durante o Tempo Pascal a 1ª Leitura é retirada dos ACTOS DOS APOSTOLOS, é o livro do Novo Testamento que melhor nos mostra as primeiras comunidades.
É por este livro que deveríamos começar a leitura do Novo Testamento. Foi escrito por volta do ano 80, o seu autor é LUCAS, e dá-nos a conhecer os primeiros 30 anos da Igreja.
Através do livro dos ACTOS DOS APOSTOLOS assistimos ao nascimento das primeiras comunidades cristãs; a sua caminhada de evolução, as suas aventuras, os seus contratempos, a fé que os unia, a esperança que não os abandonava.
As primeiras comunidades cristãs nascem do "convívio" dos apóstolos com Jesus Cristo. Jesus escolheu doze a quem chamou de apóstolos, "enviados".
No momento de se elevar aos céus, Jesus deixa uma missão aos apóstolos. (ler: Act.1,8)
"Sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo" (Act. 1,8)

Primeira comunidade cristã - JERUSALÉM
Depois da morte de Judas o grupo dos apóstolos ficou reduzido a onze. Sentiram necessidade de repor o número de doze (é um número simbólico que representa as doze tribos de Israel ), escolheram Matias, tirando à sorte conforme era costume. Esta escolha foi feita entre discípulos que tinham testemunhado todo o ministério de Jesus.

É destes doze apóstolos que se vai formar a primeira comunidade cristã de Jerusalém e que mais tarde se irá espalhar por todo o mundo.

Nos primeiros dias estes cristão viviam com grandes receios e refugiavam-se em oração constante. Com eles estavam outros discípulos, juntamente com Maria, mãe de Jesus, que desde o primeiro momento esteve sempre presente.

22 de março de 2008

Sábado Santo


O Sábado Santo é dia alitúrgico: a Igreja debruça-se, no silêncio e na meditação, sobre o sepulcro do Senhor. A única celebração primitiva parece ter sido o jejum. É um dia de reflexão.
Para os judeus, já naquela época, era um dia de descanso e todos ficaram em casa reflectindo sobre o acontecido na tarde de Sexta-Feira.
Em algumas aldeias de Portugal, no Sábado Santo costuma-se fazer a queima de Judas.. Bonecos de palha são pendurados em postes de iluminação pública e galhos de árvores na noite da Sexta-Feira Santa, e depois são rasgados e queimados ao meio dia do Sábado de Aleluia. É costume antigo fazer-se o julgamento de Judas, sua condenação e execução. Antes do suplício, alguém lê o "testamento" de Judas, em versos, colocado especialmente no bolso do boneco. O testamento é uma sátira das pessoas e coisas locais.
Judas era chamado de Iscariotes por ser de Carioth, uma cidade ao Sul de Judá. Obcecado pelo dinheiro, antes de se afastar de Cristo, resolveu entender-se com membros do Sinédrio, conselho supremo dos judeus. Mesmo tendo ouvido Jesus predizer sua tradição durante a última ceia, Judas não deixou de entregar Jesus aos inimigos e receber 30 dinheiros. Depois, arrependido, quis devolver o dinheiro, mas, foi expulso pelos sacerdotes, e acabou por se enforcar numa árvore.

21 de março de 2008

Sexta-Feira Santa






Na Sexta-feira Santa revivemos o sofrimento e a morte de Cristo no Calvário.
Agora, traído por Judas que O entrega aos soldados romanos por 30 moedas de prata, sob a acusação de subversão e de perturbação da ordem, Jesus é abandonado, por seus discípulos e três vezes negado por Pedro.
Então se seguem uma série de humilhações e maus tratos até o Seu julgamento por Pilatos e depois por Herodes, que acaba por condena-Lo à morte, atendendo ao clamor do povo que exige que soltem Barrabás, um ladrão, e crucifiquem Jesus.
Conforme relata a Bíblia, mais ou menos ao meio dia da sexta-feira, o sol pára de brilhar, a escuridão cobre a terra até às três horas da tarde. Então, Jesus grita – “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. Dizendo isso Jesus morreu. (Mc 15. 33-41, Mt 26. 44-75 e 27. 1-66, Lc 22 e 23, Jô 18 e 19)
O corpo de Jesus foi pedido à Pilatos por José, da cidade de Arimatéia, um senhor influente na região. José de Arimatéia enrolou Jesus num lençol de linho e sepultou-O num túmulo, cavado numa rocha, que nunca tinha sido usado por ninguém. Maria Madalena e Maria mãe de Jesus assistiram a tudo isto.
Na sexta-feira não há missa em nenhum lugar do mundo. O altar da Igreja fica iluminado sem toalha, sem cruz, sem velas nem adornos.

20 de março de 2008

Ceia do Senhor


Com a Missa vespertina da Ceia do Senhor tem início o Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor.

É comemorada a instituição dos Sacramentos da Eucaristia e da Ordem e o mandamento do Amor (o gesto do lava-pés).

A simbologia do sacrifício é expressa pela separação dos dois elementos "o pão" e "o vinho". Esse evento do mistério de Jesus também se tornou manifesto no gesto do lava-pés. Depois do longo silêncio quaresmal, a liturgia canta o Glória.

No final da Missa, o Santíssimo Sacramento é trasladado para um outro local, desnudando-se então os altares.


A transladação do Santíssimo
A transladação do Santíssimo, na quinta-feira santa, tem notícias históricas desde o século II.
Irineu de Lião (+ 200) escreve que muitos fiéis jejuavam 40 horas antes de participar da Vigília Pascal, em comemoração das 40 horas que Jesus teria ficado no sepulcro. Algumas citações bíblicas, como Lc 5,35, serviam de argumento para explicar que este jejum tinha a finalidade de homenagear o esposo que havia sido tirado do meio da Igreja. Outro costume litúrgico diz que, na antiguidade, as sagradas espécies que sobravam da missa de quinta-feira santa, eram guardadas na sacristia, em uma teca. Depois, o pão e o vinho consagrados eram apresentados ao presidente da celebração que o misturava com o vinho consagrado da missa da Vigília Pascal. Era um rito muito simples e não contemplava uma adoração como continuação da Missa da Ceia do Senhor.

Actualmente, o Santíssimo é transladado solenemente em procissão para uma capela lateral ou para um dos altares laterais da igreja, devidamente preparado para receber o santíssimo.
Antes da transladação, o sacerdote prepara o turíbulo e incensa o Santíssimo três vezes. Depois, realiza-se uma pequena procissão dentro da igreja, que é precedida pelo cruciferário (pessoa que leva a cruz processional), velas e incenso. Durante a procissão, canta-se o "Pange Lingua", traduzido em português, "Vamos todos...", exceto as duas últimas estrofes, "tantum ergo" (tão sublime sacramento...) que são cantadas depois da chegada do procissão na capela lateral, onde ficará o Santíssimo.
Após a transladação, a comunidade é convidada a permanecer em adoração solene até meia noite; após este horário, a adoração é simples e silenciosa. O significado é de ação de graças pela eucaristia e pela salvação que celebramos nestes dias do Tríduo Pascal.

Desnudação do altar
A desnudação do altar (denudatio altaris), ou despojamento, é um rito antigo, já mencionado por Santo Isidoro no século VII, que fala da desnudação como um gesto que acontecia na quinta-feira santa.
O sacerdote, ajudado por dois ministros, remove as toalhas e os demais ornamentos e enfeites dos altares que ficam assim desnudados até a Vigilia Pascal. No antigo rito, durante a desnudação recitava-se um trecho de um salmo. O gesto da desnudação do altar tinha o significado alegórico da nudez com a qual Cristo foi crucificado.

O rito atual é realizado de modo muito simples, após a missa. Feito em silêncio e sem a participação da assembléia. As orientações do Missal Romano pedem que sejam retiradas as toalhas do altar e, se possível, as cruzes da igreja. Caso isso não seja possível, orienta o Missal que convém velar as cruzes e as imagens que não possam ser retiradas.(Cf. Missal Romano, p. 253, n. 19).
O significado é o silêncio respeitoso da Igreja que faz memória de Jesus que sofre a Paixão e sua morte de Jesus, por isso, despoja-se de tudo o que possa manifestar festa.

Rito do Lava-pés



O lava-pés é um rito litúrgico, realizado na Quinta Feira Santa, na missa da Ceia do Senhor. Este rito, repete o gesto de Jesus que, na última ceia lavou os pés de seus discípulos em sinal de serviço e de amor.

O lava-pés era muito usado no tempo de Jesus e até mesmo antes do seu nascimento. Era um trabalho humilde, feito por escravos, que consistia em lavar os pés dos patrões da casa e de daqueles que chegavam de viagem. Não raro, esse trabalho era considerado humilhante a ponto de ser designado como castigo a algumas pessoas que cometiam algum delito legal.

Jesus, ao realizar este gesto, coloca-se como escravo, o que fez Pedro reagir diante de Jesus não querendo admitir, de modo algum, que o Mestre se rebaixasse como escravo diante dele. Olhando o conceito que as pessoas, do tempo de Jesus, tinham desse gesto do lava-pés, compreendemos o alcance e o significado do gesto de Jesus.

O antigo nome do rito do lava-pés era "mandatum", tirada da palavra inicial da antífona que acompanhava o rito, cantada em latim: "mandatum novum do vobis..." ("Dou-vos um novo mandamento), quase que como decorrência do gesto que Jesus acabara de realizar.

O rito do lava-pés, na liturgia, é conhecido desde a mais remota antiguidade e foi pratica por Papas, bispos e sacerdotes de todas as épocas. Também imperadores e reis praticaram o lava-pés como sinal de serviço aos seus súbditos. Os monges, que recebiam peregrinos em seus mosteiros, acolhiam-lhes com ósculo da paz e lavando-lhes os pés, para demonstrar que estavam a serviço do hóspede. Desde o século IV conhece-se o rito do lava-pés no Ocidente, com excepção de Roma.
O 17º Concílio de Toledo, na Espanha, no ano de 694, prescreveu que o lava-pés deveria ser realizado em todas as igrejas do mundo inteiro, na quinta-feira santa para imitar o gesto de Jesus. Para aqueles padres que se recusavam realizar o rito havia severas penas eclesiásticas. Contudo, o rito estava reservado para as catedrais e basílicas e, mais tarde é que foi permitido ser realizado em todas as igrejas.
Em Roma, o gesto do lava-pés na quinta-feira santa generalizou-se a partir do Séc. XI. O Missal de Pio V (1563) coloca o lava-pés no final da missa. A rubrica assim orientava: "Post desnudationem altarium, hora competenti facto signo cum tabula, conveniunt clerici ad faciendum mandatum (...)" Foi em 1955, com a reforma da Semana Santa, que o rito do lava-pés passou ser feito depois da homilia, como é feito actualmente.

Era costume que aqueles aos quais eram lavados os pés deveriam ser pobres. Em alguns países eram 12 homens que representavam os 12 apóstolos de Jesus Cristo. Em outros países eram 13, como acontecia em Roma, e como perdurou até a Reforma da Semana Santa, em 1955. O número de 13 pessoas tinha duas explicações: antigamente, realizavam-se dois lava-pés; um em comemoração do lava-pés que fez Madalena, quando lavou os pés de Jesus com suas lágrimas e o outro, recordando o gesto de Jesus, ao lavar os pés dos seus apóstolos. Como o primeiro gesto foi suprimido, aquele que representava Jesus passou a tomar parte do lava-pés dos apóstolos, totalizando 13 pessoas. A segunda explicação é atribuída ao Papa Bento XIV que contava que um dia o Papa Gregório Magno, ao lavar os pés de 12 pobres, ao chegar no 12º notou que tinha mais um; era um anjo e, para recordar este fato, desde então conservou-se o número 13 até o século XX.

Actualmente, o rito do lava-pés, como é chamado, é muito simples. Não existe a obrigatoriedade, que havia antigamente, de que somente homens representem a comunidade ou os apóstolos. Também mulheres e crianças, hoje, tomam parte desse rito. Outra característica, é que este rito não é uma encenação dentro da missa, mas um gesto litúrgico que repete o mesmo gesto de Jesus. O bispo ou padre que lava os pés de algumas pessoas da comunidade está imitando Jesus no gesto, mas não como teatro; ao contrário, como compromisso de estar ao serviço da comunidade, para que todos tenham a salvação, como fez Jesus. Não há necessidade, pois, que as pessoas venham vestidos de apóstolos, mesmo porque, o missal não determina quantas pessoas deverão ter os pés lavados ao dizer: "viri selecti deducuntur..." ("os homens escolhidos são levados...").

Actualmente o rito acontece, depois da homilia quando o sacerdote, retirando a casúla, cinge-se com um avental e lava os pés daqueles representantes da comunidade.

19 de março de 2008

Bênção dos Santos Óleos


Na Quinta-feira da Semana Santa, de manhã, o Bispo, procede à bênção dos santos óleos e consagra o crisma.
Óleo é uma palavra de origem latina, "oleum", derivada do grego "élaion", que designa o óleo extraído dos olivais (élaia).
Entre os símbolos sacramentais usados pela Liturgia da Igreja, óleo simboliza a alegria e o perfume do Espírito Santo em nós. Assim como o óleo penetra no ungido, assim penetra a graça divina naquele que foi ungido sacramentalmente.
O seu uso, que já vem do AT, baseia-se no seu rico simbolismo (penetra no corpo, perfuma-o, fá-lo brilhar, dá-lhe força e agilidade…). O óleo tem a finalidade de fazer brilhar o rosto (Sl 104,15) e é símbolo da alegria (Sl 45,8). Penetrante, sua unção significa a consagração de um ser a Deus (Ex 29,7). Mesmo edifícios e objectos são consagrados com a unção do óleo (Gn 28,18). O ungido por excelência é o Messias, o Cristo, que é o Rei, o Sumo Sacerdote e o Profeta. Símbolo da alegria e da beleza, sinal de consagração, o óleo é também o unguento que alivia as dores e que fortalece os lutadores, tornando-os mais ágeis e menos vulneráveis.
A Liturgia da Igreja privilegia três óleos, chamando-os de "Santos Óleos": Óleo dos enfermos, Óleo dos catecúmenos e Óleo do Santo Crisma.


Os dois primeiros Santos Óleos são abençoados e o terceiro, o Óleo Crismal, é consagrado na missa crismal que o Bispo celebra com todo o seu presbitério na Quinta-Feira Santa pela manhã.
O Óleo dos Catecúmenos concede a força do Espírito Santo aqueles que serão baptizados para que possam ser lutadores de Deus, ao lado de Cristo, contra o Espírito do mal. Este óleo poderá ser abençoado pelo padre, antes de ser usado. O baptizando é ungido com o óleo dos catecúmenos, no peito.
O Óleo dos Enfermos é um sinal visível, utilizado pelo sacramento da Unção dos Enfermos, que traz o conforto e a força do Espírito Santo para o doente no momento de seu sofrimento. O doente é ungido na fronte e na palma das mãos.
O Santo Crisma é um óleo perfumado utilizado nas unções dos seguintes sacramentos: Baptismo, o baptizado é ungido na fronte;
Confirmação é o símbolo principal da consagração, também na fronte;
Ordenação Episcopal, sobre a cabeça do novo bispo;
Ordenação sacerdotal, na palma das mãos do néo-sacerdote.
Também é usado em outros ritos de consagração, como na dedicação de uma Igreja, na consagração de um altar, quando o Santo Crisma é espalhado sobre o altar e sobre as cruzes de consagração que são colocadas nas paredes laterais das igrejas dedicadas (consagradas). Em todos estes casos, o Santo Crisma recorda a vinda do Espírito Santo que penetra as pessoas como o óleo impregna a cada um deles que o toca. Ele faz com que pessoas sejam ungidas com a unção real, sacerdotal e profética de Jesus Cristo.



Bênção dos Santos Óleos - rito antigo


As notícias históricas apontam que a Bênção dos Santos Óleos era realizada já no século V.
A Bênção dos Santos Óleos era feita na Quinta-Feira Santa pelo Bispo, assistido por 12 sacerdotes, 7 diáconos e 7 subdiáconos, na missa solene, numa mesa colocada na frente do altar. A bênção do Óleo dos Enfermos era a mais simples, feita no final da Oração Eucarística, antes das palavras "per quem haec, omnia, Domine, sempre bona creas..." Depois da comunhão, fazia-se a bênção do Santo Crisma, de modo muito solene e, por fim, a bênção do Óleo dos Catecúmenos.
O Bispo, antes de abençoar os Santos Óleos, rezava uma oração de exorcismo sobre os óleos. Para a bênção do Santo Crisma, o Bispo e os 12 sacerdotes sopravam três vezes, em forma de cruz, sobre o Óleo Crismal, simbolizando a santificação do Espírito Santo. Depois da bênção, o Bispo e os sacerdotes faziam três reverências para os vasos que continham os Santos Óleos.



Bênção dos Santos Óleos - rito actual


A Bênção dos Santos Óleos, no actual rito da Liturgia Romana, é realizada de forma simples e obedece a seguinte ordem: o Óleo dos Enfermos acontece antes do término da Oração Eucarística, a bênção do Óleo dos Catecúmenos e a Consagração do Santo Crisma são feitos depois da comunhão. Por motivos pastorais, existe a possibilidade de que as Bênçãos sejam realizadas após a Liturgia da Palavra, depois da homilia.
No rito realizado dentro da missa, no momento da apresentação dos dons, os diáconos e, na falta deles, os presbíteros ou mesmo leigos, levam os óleos ao presbitério com a seguinte ordem: primeiro, o ministro leva o vaso com perfumes. Em seguida vem o ministro com o óleo dos catecúmenos, seguido do ministro com o óleo dos enfermos e, por fim, o ministro que traz o óleo do crisma. É costume que o vaso que contém estes óleos venha coberto com véus de cor roxa (óleo dos enfermos), verde (óleo dos catecúmenos) branco (óleo do crisma). Cada um dos ministros que traz os vasos com óleos, apresenta-os ao bispo e diz em alta voz: "eis o óleo do crisma" e assim procedem os demais ministros, cada qual nomeando o respectivo óleo.

18 de março de 2008

Semana Santa


Entre todas as semanas do ano, a mais importante para os cristãos é a Semana Maior, que foi santificada pelos acontecimentos que a liturgia celebra, da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor – o Mistério Pascal. Esta semana é o coração e o centro de toda a liturgia anual, nela se celebra o mistério da redenção, o grande sinal do amor de Deus salvador.

A Páscoa é o cume desta caminhada, o vértice para onde converge todo o Mistério de Jesus Cristo.

As principais celebrações desta semana que concluem a quaresma e o dão inicio ao Tríduo Pascal são:

· O domingo de ramos, 'de passione Domine (ou da paixão do Senhor) - Nesse dia, como diz o Missal Romano, a Igreja comemorou no passado Domingo, o Cristo Senhor, que entra em Jerusalém para cumprir plenamente o seu mistério pascal.

· A quinta-feira santa: conclusão da quaresma - Antigamente, na manhã da quinta-feira santa, celebrava-se o rito da reconciliação dos penitentes que já tinham percorrido todo o caminho penitencial segundo rígida disciplina para os pecados graves que os excluíam da participação na eucaristia.
Na quarta-feira de cinzas era imposta pelo bispo a penitencia, depois permaneciam excluídos até quinta-feira santa, dia em que eram absolvidos para poderem participar na eucaristia na noite de Páscoa. Hoje não existe essa disciplina penitencial antiga e rígida. No entanto, a comunidade cristã é chamada, no fim da quaresma, para celebrar o sacramento pascal da reconciliação nas formas estabelecidas pelo novo Rito da Penitência e segundo a necessidade de cada comunidade.

· A missa crismal- Parece que até fins do séc. VII a bênção dos óleos era feita durante a quaresma e não na quinta-feira santa. A fixação dela nesse dia não se deve ao facto de ser a quinta-feira santa o dia da instituição da eucaristia, mas sim e principalmente a uma razão de ordem prática: poder dispor dos óleos santos, sobretudo do óleo dos catecúmenos e do sagrado crisma, para a celebração dos sacramentos da iniciação cristã durante a vigília pascal.
Esta solene liturgia transformou-se em oportunidade para reunir todo o presbitério em torno do seu bispo e para fazer da celebração uma festa do sacerdócio. Assim aparece, juntamente com o compromisso de fidelidade dos presbíteros à sua missão sacerdotal, a natureza profética do sacerdócio ministerial do Novo Testamento chamado, como Cristo, "para evangelizar os pobres, para proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor"
(Lc 4,18). Se o ministério presbiteral está essencialmente ligado à eucaristia, é igualmente verdade que esse ministério converge para a eucaristia antes de tudo com o anúncio do evangelho e nela encontra toda a amplitude e profundidade da sua dimensão profética.

15 de março de 2008

Domingo de Ramos


O Domingo de Ramos abre solenemente a Semana Santa, com a lembrança das Palmas e da paixão, da entrada de Jesus em Jerusalém e a liturgia da palavra que evoca a Paixão do Senhor no Evangelho de São Lucas.
Neste dia, se entrecruzam as duas tradições litúrgicas que deram origem a esta celebração: a alegre, grandiosa , festiva liturgia da Igreja mãe da cidade santa, que se converte em mímesis, imitação dos que Jesus fez em Jerusalém, e a austera memória - anamnese - da paixão que marcava a liturgia de Roma. Liturgia de Jerusalém e de Roma, juntas em nossa celebração. Com uma evocação que não pode deixar de ser actualizada.
Vamos com o pensamento a Jerusalém, subimos ao Monte das Oliveiras para acabar na capela de Betfagé, que nos lembra o gesto de Jesus, gesto profético, que entra como Rei pacífico, Messias aclamado primeiro e depois condenado, para cumprir em tudo as profecias.
Por um momento as pessoas reviveram a esperança de ter já consigo, de forma aberta e sem subterfúgios aquele que vinha em nome do Senhor. Ao menos assim o entenderam os mais simples, os discípulos e as pessoas que acompanharam ao Senhor Jesus, como um Rei.
São Lucas não falava de oliveiras nem de palmas, mas de pessoas que iam atapetando o caminho com suas roupas, como se recebe a um Rei, gente que gritava: "Bendito o que vem como Rei em nome do Senhor. Paz no céu e glória nas alturas".
Palavras com uma estranha evocação das mesmas que anunciaram o nascimento do Senhor em Belém aos mais humildes. Jerusalém, desde o século IV, no esplendor de sua vida litúrgica celebrada neste momento com uma numerosa procissão. E isto agradou tanto aos peregrinos que o oriente deixou marcada nesta procissão de ramos como umas das mais belas celebrações da Semana Santa.
Com a liturgia de Roma, ao contrário, entramos na Paixão e antecipamos a proclamação do mistério, com um grande contraste entre o caminho triunfante do Cristo do Domingo de Ramos e o "via crucis" dos dias santos.
Entretanto, são as últimas palavras de Jesus no madeiro a nova semente que deve empurrar o remo evangelizador da Igreja no mundo.
"Pai, em tuas mão eu entrego o meu espírito". Este é o evangelho, esta a nova notícia, o conteúdo da nova evangelização. Desde um paradoxo este mundo que parece tão autónomo, necessita que lhe seja anunciado o mistério da debilidade de nosso Deus em que se demonstra o cume de seu amor. Como o anunciaram os primeiros cristãos com estas narrações longas e detalhistas da paixão de Jesus. Era o anúncio do amor de um Deus que desce connosco até o abismo do que não tem sentido, do pecado e da morte, do absurdo grito de Jesus em seu abandono e em sua confiança extrema. Era um anúncio ao mundo pagão tanto mais realista quanto mais com ele se poderia medir a força de sua Ressurreição.
A liturgia das palmas antecipa neste domingo, chamado de Páscoa florida, o triunfo da ressurreição, enquanto que a leitura da Paixão nos convida a entrar conscientemente na Semana Santa da Paixão gloriosa e amorosa de Cristo o Senhor.
( Fonte AciDigital)

12 de março de 2008

Semana Maior


Aproximamo-nos da Semana Maior para os cristãos, a Semana Santa.
O ano litúrgico como hoje o conhecemos pretende levar os católicos a celebrar sacramentalmente a pessoa de Jesus Cristo como "memória", "presença", "profecia".
Na Igreja primitiva, o mistério, a celebração, a pregação, a vida cristã tiveram um único centro: a Páscoa - o culto da Igreja primitiva nasceu da Páscoa e para celebrar a Páscoa. No início da vida cristã encontra-se o Domingo como única festa, com a única denominação de "Dia do Senhor". Por influência das comunidades cristãs provenientes do judaísmo, surgiu depois um "grande Domingo", como celebração anual da Páscoa.
A partir do séc. IV, com os decretos que garantiam a liberdade de culto aos cristãos, começaram-se a celebrar na Terra Santa os acontecimentos da Paixão e morte de Jesus Cristo, nos locais e às horas em que eram relatados nos Evangelhos. Nasceu assim a Semana Santa e os peregrinos estenderam este uso a todas as igrejas.
A celebração do baptismo na noite de Páscoa, já em uso no século III, e a disciplina penitencial com a reconciliação dos penitentes na manhã de Quinta-feira Santa, já no século V, fizeram nascer também o período preparatório da Páscoa, ou seja, a Quaresma, inspirada nos "quarenta dias bíblicos".
A Semana Santa apresenta-se, neste contexto, como a Semana Maior do ano litúrgico. Graças à peregrina Egéria,que viveu no final do século IV, conhecemos os rituais que envolviam estas celebrações no princípio do Cristianismo. Ela descreve em seu livro "Itinerarium" a liturgia que se desenvolveu em Jerusalém, teatro das últimas horas de vida de Jesus, e compreende o intervalo de tempo que vai do Domingo de Ramos à Páscoa.
Na Idade Média, esta semana era chamada a "semana dolorosa", porque a Paixão de Cristo era dramatizada pelo povo, pondo em destaque os aspectos do sofrimento e da compaixão. Actualmente, muitas igrejas locais dão ainda vida a essa tradição dramática, que se desenrola em procissões e representações da Paixão de Jesus.A celebração dos mistérios da Redenção, realizados por Jesus nos últimos dias da sua vida, começa pela sua entrada messiânica em Jerusalém.
O Domingo de Ramos abre solenemente a Semana Santa, com a lembrança das Palmas e da Paixão do Senhor.
Duas celebrações marcam a Quinta-feira santa: a Missa Crismal e a Missa da Ceia do Senhor. Antigamente, na manhã deste dia celebrava-se o rito da reconciliação dos penitentes, a quem tinha sido imposto o cilício em quarta-feira de cinzas. Hoje, a manhã é preenchida pela Missa Crismal, que reúne em torno do Bispo o clero da Diocese e são abençoados os óleos dos catecúmenos e dos enfermos e consagrado o Santo Óleo do Crisma. A origem da bênção dos óleos santos e do sagrado crisma é romana, embora o rito tenha marcas galicanas. Em conformidade com a tradição latina, a bênção do óleo dos doentes faz-se antes da conclusão da oração eucarística; a bênção do óleo dos catecúmenos e do crisma é dada depois da comunhão. Permite-se, todavia, por razões pastorais, cumprir todo o rito de bênção depois da liturgia da Palavra, conservando, porém, a ordem indicada no próprio rito.
Com a Missa vespertina da Ceia do Senhor tem início o Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. É comemorada a instituição dos Sacramentos da Eucaristia e da Ordem e o mandamento do Amor (o gesto do lava-pés). A simbologia do sacrifício é expressa pela separação dos dois elementos "o pão" e "o vinho". Esse evento do mistério de Jesus também se tornou manifesto no gesto do lava-pés. Depois do longo silêncio quaresmal, a liturgia canta o Glória. No final da Missa, o Santíssimo Sacramento é trasladado para um outro local, desnudando-se então os altares.
Na Sexta-feira Santa não se celebra a missa, tendo lugar a celebração da morte do Senhor, com a adoração da cruz. O silêncio, o jejum e a oração marcam este dia.A celebração da tarde é uma espécie de drama em três actos: proclamação da Palavra de Deus, apresentação e adoração da cruz, comunhão.
O Sábado Santo é dia alitúrgico: a Igreja debruça-se, no silêncio e na meditação, sobre o sepulcro do Senhor. A única celebração primitiva parece ter sido o jejum.
A Vigília Pascal é a “mãe de todas as celebrações” da Igreja. Celebra-se a Ressurreição de Cristo, a Luz que ilumina o mundo, e para transmitir esse simbolismo deve ser celebrada não antes do anoitecer e terminada antes da aurora. Cinco elementos compõem a liturgia da Vigília Pascal: a benção do fogo novo e do círio pascal; a proclamação da Páscoa, que é um canto de júbilo anunciando a Ressurreição do Senhor; a série de leituras sobre a História da Salvação; a renovação das promessas do Baptismo e, por fim, a liturgia Eucarística.
Ainda hoje continua a ser a noite por excelência do Baptismo.
Fonte Ecclesia

8 de março de 2008

Lázaro, o amigo de Jesus


A cena da ressurreição de Lázaro mostra-nos Jesus que se comove e fica perturbado com a morte do amigo (Jo 11,35). Não é pranto ruidoso, mas sereno… Jesus mostra, dessa forma, o seu afecto por Lázaro, a sua saudade do amigo ausente.

Ele – como nós – sente a dor, diante da morte física de uma pessoa amada; mas a sua dor não é desespero.

Jesus chega junto do sepulcro de Lázaro. A entrada da gruta onde Lázaro está sepultado está fechada com uma pedra (como era costume, entre os judeus). A pedra é, aqui, símbolo da morte definitiva. Separa o mundo dos vivos do mundo dos mortos, cortando qualquer relação entre um e outro. Jesus, no entanto, manda tirar essa “pedra”: para aqueles que acreditam não se trata de duas realidades sem qualquer relação.

Jesus, ao oferecer a vida plena, abate as barreiras criadas pela morte física. A morte física não afasta o homem da vida. A acção de dar vida a Lázaro representa a concretização da missão que o Pai confiou a Jesus: dar vida plena e definitiva ao homem.

A família de Betânia representa a comunidade cristã, formada por irmãos e irmãs. Todos eles conhecem Jesus, são amigos de Jesus, acolhem Jesus na sua casa e na sua vida. Essa família também faz a experiência da morte física.

Como é que deve lidar com ela?
Com o desespero de quem acha que tudo acabou?
Com a tristeza de quem acha que a morte venceu e tudo está perdido?

Não.

Ser amigo de Jesus é saber que Ele é a ressurreição e a vida.

6 de março de 2008

O Sacramento do Perdão


O Sacramento da Reconciliação nem sempre é bem compreendido, nos dias de hoje. A primeira distorção a ser corrigida é a concepção de um ritual predominantemente marcado pela tristeza, originada por uma certa humilhação mórbida e penitencial. Pelo contrário, Reconciliação é sempre fonte de paz e de alegria.

Embora todos os Sacramentos tenham a sua origem na Páscoa de Cristo, o Sacramento da Penitência configura-se a um "sopro de Ressurreição" que Jesus infundiu aos Apóstolos, ao instituí-lo na tarde daquele mesmo dia, quando apareceu no Cenáculo: “A paz esteja convosco! Assim como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós. Dizendo isso, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20,21-23).

Estas palavras de Cristo, no dia em que abandona o túmulo, mostram bem a tonalidade vivificante do Sacramento da Reconciliação. Originada na miséria do pecado e na tristeza da nossa fragilidade, germina como primeiro fruto da Redenção do Senhor, transformando-se num culto de louvor ao próprio Deus. Depois de tudo o que padeceu, e dos seus méritos infinitos, obtidos em nosso favor, Cristo oferece-nos a eliminação do pecado e de todo o mal moral que assola o homem. Daqui ressaltam a paz e a alegria que inundam todo o ambiente pascal. É o Espírito Santo, o próprio amor do Pai e do Filho, que brota da Trindade, actuando para eliminar tudo o que se lhe opõe, que é exactamente o pecado.

Evidentemente, o tema da Reconciliação envolve a tristeza do pecado, que, na concepção mais antiga da Bíblia, significa errar o alvo, desviar-se do objectivo. O objectivo não é material, mas transcendente: o caminho recto que leva aos braços do Pai, por Cristo, no amor do Espírito Santo. A conversão será sempre voltar a este caminho, direcção originária da nossa vida, para o encontro com o Deus da misericórdia.

O pecado assemelha-se a um roubo: subtrair a propriedade de alguém e assenhorear-se de algo que não lhe pertence. Somos criaturas de Deus, exclusivamente feitas para Ele, e para gozarmos n'Ele a felicidade. O sinal permanente disto é a unção baptismal, pela qual nós nos tornamos propriedade exclusiva de Deus. Como Senhor da nossa vida, todos os nossos actos devem ser direccionados para Ele. Quando nos arvoramos nos nossos próprios donos absolutos, profanamos a dignidade do nosso ser, que deveria estar submisso a Deus.

O pecado tem, ainda, uma conotação diabólica. Diá+ballo significa separar. Deus ama-nos sempre com amor infinito, que, ao mesmo tempo, se dirige a cada pessoa em particular. O que faz o pecado? Levanta uma barreira, que nos afasta de Deus, impedindo que o seu amor nos atinja. Temos um exemplo disto na história do filho pródigo, que se afastou da casa paterna, degradando-se até ao ponto de invejar o alimento dos porcos (cf. Lc 15,11ss). Esta é a situação miserável do pecador.

Uma outra objecção comum ao sacramento é a alegação de que, pouco tempo após se obter o perdão, acaba-se caindo nas mesmas faltas. Entretanto, se alguém está tão fraco, apesar de buscar a graça do Sacramento, o que seria dele se não o fizesse? Mediante a perspectiva da reincidência de uma doença, se desistíssemos de ir ao médico e de tomar os medicamentos prescritos, acabaríamos morrendo. Assim como o banho é exigência permanente para a nossa higiene corporal, e a visita ao médico é imprescindível à nossa saúde, assim é o Sacramento da Reconciliação, verdadeiro banho que purifica a alma e nos preserva da morte espiritual. Que seria de nós sem o poder de Deus que nos transforma e nos fortalece no combate contra a tentação?

A atitude fundamental para receber o Sacramento da Reconciliação é a humildade, da qual encontramos diversos exemplos na Sagrada Escritura. David, recriminado pelo profeta, confessou: "Pequei contra Javé!" (2 Sm 12,13). “Compadecei-Vos de mim, ó Deus, pela vossa bondade, pela vossa grande misericórdia, apagai os meus pecados. Lavai-me de toda a iniquidade e purificai-me de todas as faltas. Porque eu reconheço os meus pecados e tenho sempre diante de mim as minhas culpas. Pequei contra Vós, só contra Vós, e fiz o mal diante dos vossos olhos”. (Sl 50 [51],3-6).

Zaqueu, homem rico e de posição social elevada, teve a humildade de subir a uma árvore para ver Jesus passar (cf. Lc 19,2-10). Quem de nós teria essa coragem? O publicano no templo, "mantendo-se à distância, não ousava sequer levantar os olhos para o céu, mas batia no peito, dizendo: 'Meu Deus, tende piedade de mim, pecador!'" (Lc 18,13). Ou, ainda, Pedro: "Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador" (Lc 5,8). São Dimas, que nós chamamos de "bom ladrão", porque se converteu à última hora, reconheceu: "Quanto a nós, é de justiça; estamos pagando pelos nossos actos; mas ele não fez nenhum mal" (Lc 23,41).

Muitos são os motivos que temos para pedir perdão a Deus, mas só podemos fazê-lo porque temos fé. Este dom, que o próprio Deus nos concedeu, leva-nos a reconhecer a sua divindade, cuja glória queremos restituir ao nosso próprio ser, restaurando em nós o brilho da sua Beleza, a magnificência da mais elevada obra do Criador: o ser humano.

Pela fé, ousamos aproximar-nos de Deus, tocando a sua misericórdia bem de perto, pois só Ele nos pode perdoar. Aí se aplicam, de modo quase palpável, os frutos da Redenção. Todo aquele sangue vertido, desde o Horto das Oliveiras, até às últimas gotas que saíram do Coração traspassado, é derramado sobre as sombras e a miséria do pecado. E assim se transforma e se purifica completamente o ser humano.

O nosso encontro com Jesus Salvador, na Reconciliação, é um momento muito especial. Vamos até Ele doentes psicológica, corporal e, até, espiritualmente. Jesus é o divino Médico: “não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os que estão doentes. Não foram os justos, mas os pecadores, que Eu vim chamar ao arrependimento.” (Lc 5,31). Ovelhas tresmalhadas, perdidas nas colinas da vida, aparentemente tão distantes de Deus, Ele busca-nos como Bom Pastor, pois nada está longe da sua misericórdia (cf. Lc 15,4-7).

Este torna-se, então, um encontro com o grande Amigo, Jesus Cristo: "Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; chamei-vos amigos, porque tudo o que ouvi de Meu Pai vo-lo dei a conhecer" (Jo 15,15). Ele manifestou esta amizade no momento da instituição da Eucaristia e, definitivamente, no alto da cruz. É esta relação de amizade que nós buscamos reatar no Sacramento da Reconciliação.

A vida é um caminhar, ao longo do qual, necessariamente, nos sujamos. Andamos por estradas poeirentas, caímos em poças de lama, realidades ignóbeis, que nos levam, ao fim de contas, à miséria. A nossa veste baptismal fica conspurcada pelo contacto com tantas ocorrências negativas. Por isso, é que tanto precisamos deste encontro com Cristo que, pela Reconciliação, nos faz lavar as nossas vestes originais.

Profetizando sobre as fontes da salvação, Isaías diz que nós nos acercamos de uma torrente, da qual sorvemos a água que nos purifica e mata a sede (cf. Is 12,3). E nós devemos aspergi-la, também, sobre o ambiente e as pessoas que nos cercam, a comunidade à qual pertencemos, e os lugares por onde estivermos. A graça de Deus tem o poder de destruir o que há de sombrio na nossa vida, iluminando tudo pelo seu amor. Esta é a beleza do acto da Reconciliação.


(Conf. carta CARDEAL D. EUSÉBIO OSCAR SCHEID )

1 de março de 2008

O cego de nascença


...O homem, cego de nascença, nunca viu nada nem ninguém. No momento em que adquiriu a vista, manifestaram-se-lhe, pela primeira vez, como novidade absoluta, as coisas todas que nós vemos cada dia. Até agora orientava-se com o auxílio do tacto, talvez com ajuda da bengala branca, como os cegos nos nossos tempos, ou talvez fosse ajudado por algum cão-guia. Tais ajudas, todavia, permitiam-lhe unicamente mover-se com dificuldade, arrastando a vida no apertado círculo dos objectos. Que sentiu ao adquirir a vista? Como iria viver agora? Como devia interpretar ver-se agora liberto? Liberto, porque via!
E por fim: que sentimentos alimentava perante Aquele que, nesse dia memorável, estendeu lodo sobre as suas pálpebras e lhe mandou que fosse lavar-se à piscina de Siloé? Que havia de pensar d'Ele?
Aconteceu depois que ainda por alguns dias, Cristo continuou a ser para ele um desconhecido. Não o vira quando Ele lhe untou os olhos com o lodo; só o ouvia dizer: «vai, lava-te na piscina de Siloé». Depois quando do seu encontro com Jesus, realizado só após algum tempo, travou-se esta conversa: «Tu crês no Filho do Homem?...»; «Quem é Ele, Senhor, para que n'Ele creia?»...; «Tu já O viste; é Ele que fala contigo». Respondeu: «Creio Senhor».
O dom da vista atingia não só o sentido do corpo, mas penetrou até ao íntimo da alma. ...