28 de julho de 2007

"Ensina-nos a orar"


O Evangelho deste domingo dá-nos um ensinamento claro de Jesus sobre a oração. Jesus é o homem orante. Como ele, também seus seguidores são chamados a serem homens e mulheres orantes. A oração constitui um dos elementos essenciais da vida cristã e do seguimento de Cristo.


Como outrora aos discípulos, hoje Jesus ensina-nos a oração da vida, no diálogo permanente com o Pai. Na oração, expressam-se nossas relações e preocupações fundamentais. "Quando rezarem, digam: 'Pai'...". Para Jesus, a oração do discípulo é expressão da relação filial com o Pai, do acolhimento de sua vontade e do compromisso com seu Reino; é expressão da súplica e da busca comunitária do alimento quotidiano (O pão nosso de cada dia). É expressão, também, de relações fraternas e solidárias, sabendo perdoar e acolher o perdão, jamais cedendo à tentação do mal, deixando-se seduzir pelo poder, pela corrupção, pela injustiça e pela auto-suficiência.


A oração deve ser persistente, na certeza de que Deus a atenderá. Não cabe ao orante determinar a forma de como Deus vai atendê-lo.

Ela exprime a filial confiança: o Pai atenderá quem lhe suplicar, humilde e confiantemente, o dom do Espírito Santo.

22 de julho de 2007

Marta e Maria



Este episódio situa-nos numa aldeia não identificada, em casa de duas irmãs (Marta e Maria). Estas duas irmãs são, provavelmente, as mesmas Marta e Maria, irmãs de Lázaro, referidas em Jo 11,1-40 e Jo 12,1-3. Se assim for, a acção passa-se em Betânia, uma pequena aldeia situada na encosta oriental do Monte das Oliveiras, a cerca de 3 quilómetros de Jerusalém. Continuamos, de qualquer forma, a percorrer esse “caminho de Jerusalém”, durante o qual Jesus vai revelando aos seus discípulos os projectos do Pai e os vai preparando para o testemunho do Reino.

Estamos no contexto de um banquete. Não se diz se havia muitos ou poucos convidados; o que se diz é que uma das irmãs (Marta) andava atarefada “com muito serviço” (v. 40), enquanto a outra (Maria) “sentada aos pés de Jesus, ouvia a sua Palavra” (v. 39). Marta, naturalmente, não se conformou com a situação e queixou-se a Jesus pela indiferença da irmã. A resposta de Jesus (vs. 41-42) constitui o centro do relato e dá-nos o sentido da catequese que, com este episódio, Lucas nos quer apresentar: a Palavra de Jesus deve estar acima de qualquer outro interesse.


Há, neste texto, um pormenor que é preciso pôr em relevo. Diz respeito à “posição” de Maria: “sentada aos pés de Jesus”. É a posição típica de um discípulo diante do seu mestre (cf. Lc 8,35; Act 22,3). É uma situação surpreendente, num contexto sociológico em que as mulheres tinham um estatuto de subalternidade e viam limitados alguns dos seus direitos religiosos e sociais; por isso, nenhum “rabbi” da época se dignava aceitar uma mulher no grupo dos discípulos que se sentavam aos seus pés para escutar as suas lições. Lucas (que, na sua obra, procura dizer que Jesus veio libertar e salvar os que eram oprimidos e escravizados, nomeadamente as mulheres) mostra, neste episódio, que Jesus não faz qualquer discriminação: o facto decisivo para ser seu discípulo é estar disposto a escutar a sua Palavra.


Muitas vezes, este episódio foi lido à luz da oposição entre acção e contemplação; no entanto, não é bem isso que aqui está em causa… Lucas não está, nesta catequese, a explicar que a vida contemplativa é superior à vida activa; está é a dizer que a escuta da Palavra de Jesus é o mais importante para a vida do crente, pois é o ponto de partida da caminhada da fé. Isto não significa que o “fazer coisas”, que o “servir os irmãos” não seja importante; mas significa que tudo deve partir da escuta da Palavra, pois é a escuta da Palavra que nos projecta para os outros e nos faz perceber o que Deus espera de nós.


Estamos no mundo para servir e ajudar o próximo. Até mesmo um diálogo pode promover a pessoa humana. Maria escolheu a melhor parte porque dialogava com Jesus e aprendia sobre o Caminho, a Verdade e a Vida. Quem está com Deus sabe por onde andar e como usar de seus dons. Coloquemo-nos sempre à disposição do próximo, mesmo que esta seja apenas para ouvir o irmão ou a irmã. Celebremos a unidade de todos em Cristo Jesus, criando a fraternidade cristã que vai além da raça e da cor. Que todos se sintam irmãos e irmãs em torno da mesa do Senhor!

14 de julho de 2007

O Bom Samaritano


A parábola do bom Samaritano denuncia a traição quotidiana do amor em nome de muitas e ‘sérias razões’: “não é comigo”, “não tenho tempo”… Esta traição deu-se no passado e continua no presente: «ver e passar ao lado», «seguir adiante», faz parte do nosso quotidiano!

Foi um excomungado que se mostrou sensível ao drama do ferido e fez o que era preciso: parou, não perguntou pela identidade, mas deixou que falasse o coração, e este sugeriu-lhe o comportamento acertado; ao contrário do doutor da Lei que pretendia um serviço ao próximo bem controlado.

Nos gestos do Samaritano há toda uma liturgia da misericórdia divina, uma irrupção do amor, feita de atenção, delicadeza e improvisação, porque o inesperado faz parte da vida; e, fez ali o que podia. A intuição do amor levou-o aos primeiros gestos de compaixão.


Temos de reconhecer, humildemente, que, “ocupados em coisas importantes” e “compromissos urgentes”, muitas vezes arrumamos a questão com um “não é assunto que me diga respeito” ou simplesmente, “evitamos as ocasiões”: tudo somado, não fizemos melhor que o sacerdote e o levita. Mas o exemplo do samaritano não nos dá descanso: é uma provocação permanente ao nosso egoísmo e um convite insistente ao compromisso com quem precisa de nós.
(adap. texto P. Manuel Armindo Pereira Janeiro)