4 de janeiro de 2007

...Conto de Natal...


...No dia seguinte, de novo sentado numa pedra a guardar as ovelhas, pensava ainda na noite anterior. Tinha escolhido aquele sítio para se sentar pois dali conseguia ver o estábulo. Não havia sinais do homem do cavalo, já devia ter ido embora. Tinha uma pedra na mão, que rolava entre os dedos. Volta e meia lá tinha de chamar por alguma ovelha que tentava afastar-se mais. Os seus pensamentos iam longe, pensava na sua vida e nas voltas que ela já tinha dado.
Lembrava-se que quando era criança queria ser alguém importante. Alguém que fizesse a diferença. Agora já era tarde, estava velho e cansado. O seu tempo já tinha passado. De súbito foi acordado por um barulho que vinha de lá longe. Pareciam tambores. Levantou-se, olhou em todas as direcções e não viu ninguém. O sol já estava a avermelhar. Começou a chamar as ovelhas, que também estavam alarmadas com o barulho dos tambores que ia ficando cada vez mais forte. Reuniu as ovelhas todas, e encaminhou-as de regresso a casa. Agora já se via de onde vinha o barulho dos tambores.
Tal como no dia anterior, um homem montado num camelo, esguio e vestido com um manto de pele de tigre, tomava a direcção do velho estábulo. Atrás dele seguiam homens com tambores e à sua frente iam dançarinas. Este desceu do camelo. Calaram-se os tambores e pararam as dançarinas. O homem parecia muito alto e de cor escura, levava também uma caixa para dentro do estábulo. A curiosidade estava-o a roer, mas o frio apertava e as ovelhas queixavam-se com o medo que o escuro lhes provocava. Teve de prosseguir caminho. Enquanto caminhava lamentava-se de novo como era triste chegar aquela idade e só ter um velho casaco de pele de ovelha...

JorgeBelinha 1998

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