3 de janeiro de 2007

Conto de Natal



Já se sentia o sol a enfraquecer, o céu ia ficando vermelho. Com o fim do dia chegava a escuridão e o frio. Uma brisa leve e gélida levantou-se, passou-lhe pela face, entranhando-se nos longos e espessos pêlos da barba grisalha. Chegou a altura de reunir o rebanho. Pegou no cajado seco e torcido com as suas mãos rudes e ásperas. Mãos quadradas, de dedos grossos, com cicatrizes aqui e ali, que mostravam muitos ofícios e muitas profissões. Fazia muito frio naquela altura do ano. Com a mão, num gesto curto, apertou o velho casaco de pele de ovelha contra o corpo. Com o cajado guiou uma ovelha mais pequena para grupo. Trabalhava de sol a sol a troco de um naco de pão, um pouco de vinho e uma cama dura para passar a noite. Não tinha nada.
Enquanto guiava o rebanho até à casa do proprietário, reparou que algo de estranho se passava num estábulo abandonado, perdido no meio do campo. Parou. Viu então um homem com vestes púrpuras e um turbante da mesma cor montado num elegante cavalo preto. Outros o seguiam, segurando palmas e tocando flautas. O homem do cavalo, que levava uma caixa nas mãos, entrou dentro do estábulo, que estava iluminado por uma luz trémula. A noite tinha entretanto caído. Mas ele não podia perder mais tempo. As ovelhas tinham de ser guardadas sem demora.
Não pensou no que faria um homem assim, aparentemente, tão rico num estábulo quase a cair. Pensou antes na sua riqueza, como devia ser rico para ter tantos servos e tão nobre cavalo. Olhou para o chão e pensou como era triste chegar aquela idade e só ter um velho casaco de pele de ovelha...

JAB 1998

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