5 de janeiro de 2007

...Conto de Natal...


...Ao terceiro dia, o homem guiava as ovelhas para o local do costume, era muito cedo, as estrelas ainda brilhavam com intensidade. O barulho do cajado a bater no chão era seco e compassado. Conforme se ia aproximando do local habitual, ia passeando os olhos grandes e pretos pelo velho estábulo. Não havia vento naquela madrugada, mas o ar era frio. Sentia o peito a queimar por dentro e o nariz dormente só pingava. O velho casaco era constantemente apertado contra o corpo pela mão livre, que ia ficando cada vez mais fria. Quando finalmente parou já o sol tinha nascido, ia estar mais um bonito dia, foi quando ouviu o choro de uma criança. Esticou o pescoço e olhou em volta. Não viu ninguém. Ficou intrigado, de onde viria aquele choro. A manhã passou.
A meio da tarde, depois de um almoço fugaz, um pouco de pão da ceia anterior, começou a ver ao longe uma nuvem de poeira. Dirigia-se na sua direcção. Não tardou nada até começar a ouvir um ritmo bem marcado de fortes passadas. A imagem começou a ficar nítida. Um homem de capa clara montado num majestoso cavalo castanho de crina branca liderava todos os outros, que alinhavam atrás dele empunhando lanças e bandeiras vermelhas. Ao ver tudo isto não se inquietou, numa outra situação já se tinha escondido atrás de um arbusto, ou corrido em pânico até à aldeia. Mas tal como tinha desconfiado, eles dirigiam-se para o velho estábulo. O homem desceu do cavalo e foi-lhe entregue uma caixa. Segurou a caixa e entrou dentro do estábulo. Começava agora a anoitecer. A curiosidade ia roendo-o por dentro. Queria saber o que se estava a passar, e o que seria assim tão importante e interessante para motivar toda aquele frenesim. Começou a agrupar as ovelhas, e encaminhou-as de volta. Começou a pensar como em toda a sua vida tinha deixado as suas acções pela metade, nunca tinha ido até ao fim, talvez por isso tivesse chegado aquela idade só com um velho casaco de pele de ovelha...
JorgeBelinha1998

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