6 de fevereiro de 2007

I Carta aos Coríntios



Nestes primeiros domingos do Tempo Comum, desde o Baptismo do Senhor até ao I Domingo da Quaresma, a 2ª Leitura centra-se na Primeira Epistola de S.Paulo aos Coríntios, capítulos 12, 13 e 15.

Esta carta baseia-se em 2 temas fundamentais: Um, Jesus Cristo, a sabedoria de Deus, Jesus Cristo é a Palavra definitiva de Deus; outro, a liberdade, o amor cristão, como os fundamentos da vida cristã e a divisão.

Esta epístola, caracteristicamente, uma epístola de repreensão. A doutrina nela contida é de repreensão e correcção. (1Cor.15,12) - É intensamente prática, (até o capítulo da ressurreição é usado, ali, como incentivo ao serviço) reprovando e corrigindo abusos da vida social e eclesiástica do povo; e, posto que, foi primeiramente aplicada aos crentes de Corinto, os princípios, ali expostos, a fazem apropriada e aplicável ao povo de Deus, em todos os tempos.

Os capítulos 12-14 da primeira Carta de Paulo aos Coríntios constituem uma secção consagrada ao bom uso dos “carismas”. “Carisma” é uma palavra tipicamente paulina (aparece 14 vezes nas cartas de Paulo e só uma vez no resto do Novo Testamento) que, num sentido amplo, designa qualquer graça (“kharis”) ou dom concedido por Deus, independentemente do posto que a pessoa ocupa dentro da hierarquia eclesial. O testemunho dos escritos neo-testamentários é que as primeiras comunidades cristãs conheciam de forma especial estes dons do Espírito.
Isso também acontecia, segundo parece, em Corinto.Apesar de se destinarem ao bem da comunidade, os “carismas” podiam ser mal usados. Por um lado, podiam conduzir a uma espécie de divinização do indivíduo que os possuía colocando-o, com frequência, em confronto com a comunidade; por outro lado, nem todos possuíam carismas extraordinários e era fácil, neste contexto, serem considerados “cristãos de segunda”.
Depreende-se ainda deste texto que haveria alguma discussão acerca da importância de cada “carisma” e, portanto, da posição que cada um destes “carismáticos” devia ocupar na hierarquia comunitária.Ora, a comunidade de Corinto estava preocupada com esta questão. Estamos diante de uma comunidade com graves problemas de conflitos e de desarmonias onde, facilmente, as experiências “carismáticas” eram sobrevalorizadas em benefício próprio. Criavam, pois, com frequência, individualismo e divisão no seio da comunidade.É a este problema que Paulo procura responder.
Paulo enumera diferentes tipos de “carismas”; no entanto, deixa bem claro que, apesar da diversidade, todos eles se reportam ao mesmo Deus, ao mesmo Senhor e ao mesmo Espírito.Cada um dos crentes possui o Espírito e, portanto, de diverso modo e medida, recebe “carismas”. O que é fundamental é que esses “carismas” não sejam usados de forma egoísta, mas estejam sempre ao serviço do bem comum.Não faz qualquer sentido, pois, discutir qual é o “carisma” mais importante. Também não faz sentido que os possuidores de “carismas” se considerem “iluminados” e se confrontem com o resto da comunidade. Faz ainda menos sentido considerar que há cristãos de primeira e cristãos de segunda…
É o mesmo Deus uno e trino que a todos une; a comunidade tem de ser o espelho dessa comunidade divina, da comunidade trinitária.

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