17 de abril de 2008

Depois da Ressurreição V


Instituição dos Sete Diáconos

Os sumários que vamos encontrando ao longo dos Actos dos Apóstolos, dão-nos a imagem de uma vida comunitária em perfeita harmonia. Nos primeiros cinco capítulos, apenas o episódio de Ananias e Safira ensombra a vida desta comunidade.
A partir do capítulo VI encontramos alguns episódios que perturbam essa harmonia. O primeiro dá-se no interior da comunidade (Act.6, 1-7).
Em Act.6,1 ficamos a saber que a comunidade primitiva era composta por hebreus e helenistas.
Os hebreus eram judeus da região de Jerusalém tornados cristãos, cuja língua era o aramaico (que era a língua mais falada na Palestina a época) e liam a Bíblia em hebraico. Sentiam-se muito arreigados às tradições judaicas, sobretudo relativas ao Templo, as sinagogas e às tradições religiosas. Estes judeus-cristãos, eram muito bem vistos pelo povo e algumas vezes defendidos pelos fariseus.
Os helenistas era também um número considerável de fieis que tinham vivido fora da Palestina, pertenciam à Diáspora. Falavam grego comum, o koiné, liam a Bíblia em grego e estavam menos apegados à Lei de Moisés. Alguns deles sendo de origem pagã convertidos ao judaísmo (prosélitos). São conhecidos por cristão-helenistas.
Através dos sumários ( 2,44; 4,32-34) ficamos a saber que na comunidade primitiva se praticava a entreajuda material. Em 6,1 dá-nos a conhecer uma forma concreta dessa ajuda; a assistência prestada às viúvas.
Já no Antigo Testamento encontramos referências às viúvas e órfãos, como pertencendo às pessoas economicamente e socialmente desfavorecidas. Por isso a Lei previa medidas destinadas a socorrer esta categoria de pobres. E em algumas passagens do Novo Testamento se mostra que essa preocupação está presente nas comunidades cristãs.
É provável que seja esta assistência a que se refere em 6,1b. Mas essa assistência também se deparava com algumas dificuldades práticas e disso temos conhecimento através 6,1-6, onde se fala do grupo das viúvas helenistas que era negligenciado.
Porque acontecia isto?
Talvez os hebreus em maior número e responsáveis pelo serviço de assistência, tivessem tendência em negligenciar a minoria (seria o facto da igreja primitiva cair no erro habitual das sociedades, que esquecem os direitos dos fracos e minorias, e teria seguido o rumo natural das mentalidades e das relações humanas).
Ou talvez essa diferença mostre a coexistência difícil entre duas mentalidades diferentes; os cristãos de origem judaica e os cristãos helenistas vindos da diaspóra.
Fosse qual fosse a ocorrência, uma questão prática de distribuição de assistência ou uma questão mais teológica implicando concepção e mentalidades diferentes, a comunidade primitiva teve que enfrentar também o problema do conflito e teve que enfrentar uma espécie de crise de crescimento.
O fim da crise, tal como é relatado por Lucas, testemunha o funcionamento e a relação existente no interior da comunidade.
Este relato mostra a iniciativa e a autoridade reconhecida aos Doze Apóstolos e a responsabilidade e a participação da comunidade nas tarefas e organização da vida comunitária.

4 comentários:

antonio disse...

Belíssimo texto. Mas uma pergunta: o que liam exactamente as comunidades primitivas? Os Evangelhos ainda não estavam escritos. As cartas, o Antigo testamento, Elias (dentro do AT)? E o que não liam da Bíblia que herdaram da tradição Judaica?

mafaoli disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
mafaoli disse...

Certamente que o Antigo Testamento faria parte das leituras dos primeiros cristãos (principalmente a comunidade de Jerusalém), tal como Jesus o tinha feito. Mas nos Actos dos Apóstolos, diz que os crentes eram "assíduos ao ensino dos apóstolos" o que talvez se estive-se a referir à "Didaké".
A "Didaké" o "ensino dos Apóstolos" Assim se chama um dos mais antigos escritos cristãos (finais do séc. I), que descreve a constituição e vida da Igreja primitiva e propõe logo de início aos cristãos a forma de conduta e de vida de que falou Jesus Cristo.

Fá menor disse...

Muito interessante a maneira de viver em comunidade dos primeiros cristãos.
A assistência aos orfãos e às viúvas é revelador de que eles procuravam viver com toda a seriedade os ensinamentos de Cristo.
E nós hoje, tantas vezes que só olhamos para o nosso umbigo!
Beijinhos

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