31 de outubro de 2006

A brasa solitária


Juan ia sempre aos serviços dominicais da sua congregação: mas começou a achar que o pastor dizia sempre as mesmas coisas, e parou de frequentar a igreja.
Dois meses depois, numa noite fria de Inverno, o pastor foi visitá-lo.
“Deve ter vindo para tentar convencer-me a voltar”, pensou Juan consigo mesmo. Imaginou que não podia dizer a verdadeira razão: os sermões repetitivos.
Precisava de encontrar uma desculpa, e enquanto pensava, colocou duas cadeiras diante da lareira, e começou a falar sobre o tempo.
O pastor não disse nada. Juan, depois de tentar inutilmente puxar conversa por algum tempo, também se calou. Os dois ficaram em silêncio, contemplando o fogo por quase meia hora.
Foi então que o pastor se levantou, e com a ajuda de um galho que ainda não tinha queimado, afastou uma brasa, colocando-a longe do fogo.
A brasa como não tinha suficiente calor para continuar queimando, começou a apagar-se. Juan, mais que depressa, atirou-a de volta ao centro da lareira.
- Boa-noite – disse o pastor, levantando-se para sair.
- Boa-noite e muito obrigado – respondeu Juan. - A brasa longe do fogo, por mais brilhante que seja, terminará extinguindo-se rapidamente. “O homem longe dos seus semelhantes, por mais inteligente que seja, não conseguirá conservar o seu calor e a sua chama. Voltarei à igreja no próximo domingo.”
(Crónica Paulo Coelho-JN 28/08/2004)

“O homem longe dos seus semelhantes, por mais inteligente que seja,
não conseguirá conservar o seu calor e a sua chama”

1 comentário:

Anónimo disse...

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