8 de julho de 2008

A tradição do "Jubileu" no Antigo Testamento


“Ano de graça do Senhor”
É necessário partir da perspectiva do Antigo Testamento para compreender melhor a mensagem de Jesus e o que nos quis dizer ao referir-se ao “ano de graça do Senhor”.
É Jesus que nos diz: “Investigai as Escrituras, são elas que dão testemunho a meu favor” (Jo.5,39) e exemplificou como é necessário explicar os factos e as palavras por Ele protagonizados indo «à Lei de Moisés, aos profetas e aos salmos» (Lc.24,46 ; 24,27).
Nas palavras de Jesus que anunciam o «ano da graça do Senhor» (Lc.4, 16-21) podemos entender como que um convite para aprofundar o sentido que possui o Jubileu bíblico que conhecemos pelo Antigo Testamento. A isto também nos convida a Carta Apostólica Tertio Millennio Adveniente quando nos diz: «..torna-se compreensível o uso dos jubileus que começou no Antigo Testamento e continua na história da Igreja» (TMA11) e ainda: «as palavras e as obras de Jesus são por isso o cumprimento de toda a tradição dos jubileus do Antigo Testamento»(TMA 12)
Vamos, então, procurar descobrir o Jubileu bíblico e o seu significado na tradição do Antigo Testamento.

­Ano sabático
Falemos em primeiro lugar do «ano sabático» e depois do «ano jubilar», o Jubileu propriamente dito, para o qual passaram os principais valores do «ano sabático»

É sabido que o jubileu era um tempo dedicado de modo particular a Deus. Tinha lugar de sete em sete anos, segundo a Lei de Moisés: o sétimo era o “ano sabático”, durante o qual se deixava descansar a terra, eram libertados os escravos e se perdoava todas as dívidas. E tudo deveria ser feito em honra de Deus. Nos livros do Êxodo (23, 10-11), do Levítico (25, 1-28) e do Deuteronómio (15,1-18) encontramos as prescrições pormenorizadas para o cumprimento do «ano sabático».
O ano sabático servia para lembrar àquele povo que o Senhor velava para que os bens da terra estivessem bem distribuídos entre os filhos de Israel, tal como o Senhor tinha ordenado à entrada da terra prometida. (Jos.13).
Na origem deste ano sabático está o próprio Sábado, a principal instituição religiosa hebraica.
O Sábado está relacionado com a criação do mundo, é com o Sábado que termina o hino a Deus criador (Gn. 2,1-3), toda a obra que Deus havia feito é abençoada e santificada no sétimo dia, é consagrada a Deus na oração de um povo que se reúne neste dia, para louvar o Criador de todas as coisas.
Recordemos o terceiro mandamento da lei de Deus. “Lembra-te do dia de Sábado, para o santificar... o sétimo é o Sábado consagrado ao Senhor”(Ex.20,8-10)
“O sétimo dia é de descanso completo, consagrado ao Senhor”(Ex.31,17)
“O Senhor teu Deus te mandou guardar o dia de Sábado” (Dt.5,15)
Mas a esta interpretação meramente legalista do Sábado, foi-lhe dada uma dimensão libertadora por Jesus.
“O Sábado foi feito para o homem e não o homem para o Sábado” (Mc.2,27)
“é permitido no Sábado fazer o bem em vez do mal, salvar uma vida em vez de destruí-la” (cf.Mc.3,4)
“prefiro a misericórdia ao sacrifício.. o Filho do Homem até do Sábado é Senhor” (Mt.12,7-8)
Jesus dá um sentido humano ao Sábado, alivia a pessoa de um peso desumano e liberta o Sábado de embaraços e acrescentos que o impedem de ser um dia do serviço fraterno e do louvor ao Senhor da Criação.
Assim a autentica liberdade do homem para amar a Deus, permite-lhe tomar consciência da sua condição humana, como ser criado por Deus “à Sua imagem e semelhança”.
Nós cristãos deveremos reconhecer que não temos dado grande atenção a este dia santificado por Deus e destinado a prestar-lhe culto na Antiga Aliança.
Para o Domingo cristão passaram as prerrogativas do Sábado hebreu, mas necessitamos de conhecer melhor o alcance do Sábado hebreu para valorizar os nossos tempos festivos e, em concreto, o Jubileu.

Ano sabático
Um ano sabático não é senão um ano inteiro dotado das prescrições do Sábado e vivido como ele. O ano sabático era celebrado em cada sétimo ano, contando os anos como se contavam os dias da semana.

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