21 de janeiro de 2008

Tempo Comum



O tempo chamado “comum” (durante o ano ou “per annum”) não tem nome nem características próprias, não celebra um aspecto particular do mistério de Cristo, mas esse mesmo mistério de Jesus Cristo na sua globalidade, especialmente nos domingos.
Compreende as semanas entre o Baptismo de Jesus até à Quaresma, do Pentecostes até ao Advento: um total de 33 ou 34 semanas.
Um tempo, portanto, não feito precisamente de semanas, também se as semanas se repetem, mas muito mais assinalado por domingos que marcam as semanas.
Todo domingo é indicado com um número progressivo e possui formulários próprios, não transferíveis a outros domingos, quando for substituído por outra solenidade. “O domingo aparece, portanto”, como ensina a Constituição litúrgica SC 106, “festa primordial, fundamento e núcleo de todo a ano litúrgico”.
“A Igreja celebra o mistério pascal todos os oito dias, no dia que bem se denomina dia do Senhor ou domingo. Neste dia devem os fiéis reunir-se para participarem na Eucaristia e ouvirem a palavra de Deus, e assim recordarem a Paixão, Ressurreição e glória do Senhor Jesus e darem graças a Deus que os regenerou para uma esperança viva pela Ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos.” (SC106)
Reunir-se em assembleia para ouvir a palavra de Deus e participar da acção de graças, fazendo memória da morte e da ressurreição de Cristo e da nossa regeneração baptismal: eis o sentido do domingo que caracteriza o tempo comum. Um tempo nada pobre em relação aos outros que focalizam um aspecto particular, tempo rico do mistério pascal de Cristo, lembrado e vivido junto com a comunidade dos crentes nEle.
O tempo comum começa com a segunda-feira após a festa do Baptismo do Senhor (primeiro domingo após a Epifania) e vai prolongando-se até à Quarta-feira de Cinzas: interrompe-se com a Quaresma, para depois recomeçar após o Pentecostes.
Com o terceiro domingo inicia a leitura quase contínua dos Evangelhos (no ano A, o Evangelho de Mateus): esta leitura segue o desenrolar da vida e do ensino do Senhor Jesus. Assim consegue-se uma certa harmonia entre cada Evangelho e o desenvolvimento do ano litúrgico. As leituras do Antigo Testamento são escolhidas em relação aos textos evangélicos, também para demonstrar a unidade entre os dois Testamentos: a relação entre as duas leituras é indicada pelos títulos colocados antes de toda leitura.
Para a segunda-leitura é apresentada a leitura quase contínua da primeira carta de São Paulo aos Coríntios, distribuída no ciclo trienal.

O início da leitura do Evangelho de Mateus é ocasião para conhecer não só este livro (o primeiro dos quatro que nos dá a conhecer a “boa nova” de Jesus), mas também a origem, a formação e a finalidade pelas quais foram escritos os “Evangelhos”, testemunhos privilegiados da fé da Igreja apostólica.

A mesma sugestão vale para a primeira carta de São Paulo aos Coríntios, da qual são lidos nestes domingos os primeiros capítulos.

II Domingo do Tempo Comum
“EIS O CORDEIRO DE DEUS”
Textos: 1ª Leitura – Isaías 49, 3.5-6
Salmo responsorial – 39(40)
2ª Leitura – 1 Coríntios 1, 1-3
Evangelho – João 1, 29-34

João aponta o caminho para seguir Cristo.
Como no domingo anterior do baptismo de Cristo às margens do Jordão, também neste domingo o protagonista é João Baptista. Mas suas palavras secas e proféticas são como flechas apontadas para uma outra meta: Jesus Cristo. De facto nas suas frases percebemos que se destaca um retrato do Cristo: ele é aquela que apaga o pecado da incredulidade e de ódio do mundo, é aquele que nos precede no tempo porque é eterno como Deus, é a suprema presença divina na carne do homem porque nele está o Espírito Santo, ele é por excelência o Filho de Deus.

Nós, porém, escolhemos neste “catecismo” joanino dois símbolos que brilham no texto evangélico que hoje lemos. O primeiro é aquele, tão amado pela arte cristã e pela piedade popular: o cordeiro. Precisamos, porém, por um instante, de nos libertar das nossas representações que associam o cordeiro só à mansidão, à imagem da vítima. Na linguagem da Bíblia as referências são mais complexas e carregadas de significado.

O primeiro símbolo é fácil e nos leva até aquela noite egípcia quando Israel em marcha para a liberdade celebrara a Páscoa do cordeiro. Aquele animal, cujos ossos não deviam ser quebrados, tornava-se o sinal de um dom grandioso, o da liberdade política e espiritual, exterior e interior. Exactamente por isso, para o evangelista João, Jesus foi condenado à morte ao meio dia da vigília da Páscoa (19, 14), exactamente na hora em que os sacerdotes iniciavam a sacrificar os cordeiros no Templo para a festa da Páscoa. E é também por isso que João nos apresenta o Cristo atingido pela lança no peito e com os ossos não quebrados como cordeiro da Páscoa perfeita, a quem “nenhum osso foi quebrado” (19, 36).
Mas existe outro elemento bíblico, desta vez mais delicado e mais messiânico. No famoso quarto canto do Servo de Javé, esta figura misteriosa do Servo é apresentada enquanto é levada para a paixão e a morte: sobre ele são carregados os pecados dos homens, seus irmãos. Eis que ele vai caminhando para seu destino com serena aceitação: “Era como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha muda, diante de seus tosquiadores” (Is 53, 7). Com toda probabilidade – se for verdadeira uma interessante hipótese levantada por alguns estudiosos – o João Baptista, falando em aramaico, teria utilizado a palavra talya, que significa ao mesmo tempo “cordeiro” e “servo” de Deus. Cristo é, portanto, aquele que se oferece livremente a si mesmo, para tirar do mundo o pecado e levar a Deus todos os seus irmãos na carne.
Apresenta-se, assim, um terceiro elemento, aquele do cordeiro presente também no Apocalipse: no judaísmo do tempo, de facto, imaginava-se que no final da história um cordeiro vitorioso teria destruído as potências do mal, do pecado e da injustiça. O Cristo é por excelência aquele que liberta de toda escravidão, é aquele que perdoa.

Um segundo símbolo, a pomba. Para os evangelistas ela é o símbolo do Espírito Santo. Mas existe outro aspecto que os evangelistas querem lembrar: a pomba é no profeta Oséia, no Salmo 63 e no Cântico dos Cânticos o brasão de Israel. Nesta perspectiva, podemos afirmar que ao redor de Cristo, mergulhado nas águas do Jordão, reúne-se também o Israel de Deus, isto é, a comunidade dos crentes que dele recebem o Espírito de Deus. O cordeiro do perdão dos pecados e a pomba da Igreja se encontram em Jesus Cristo.

Sem comentários:

Enviar um comentário