A Quaresma é tempo de amar os irmãos. O jejum e abstinência devem ser colocados numa linha de solidariedade activa e efectiva.
A espiritualidade da Quaresma é apresentada pela Igreja como um caminho para a Páscoa e mistério Pascal de Cristo e exprime-se no exercício das obras de caridade, no perdão, na oração, no jejum, principalmente no jejum do pecado. A ascese quaresmal é um exercício adequado para redescobrir o caminho para ser discípulo de Jesus Cristo, porque o Senhor não se conhece senão participando na sua vida, não de fora, mas por dentro. “quem quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt. 16, 24).
A ascese cristã consiste numa total disponibilidade interior ao Deus vivo que não nos pede tanto a oferta de coisas, mas antes de tudo a nossa própria pessoa e um coração contrito. Para muitos cristãos, o que hoje perturba o recolhimento quaresmal não é tanto o privar-se de certos alimentos, doces e tabaco, quanto as imagens, as palavras, os espectáculos e tantas coisas que a sociedade de consumo oferece, mas que dificultam a conversão a Deus.
O jejum e abstinência em quarta-feira de Cinzas e sexta-feira Santa, assim como a abstinência nas sextas-feiras, continuam a vigorar na disciplina e espiritualidade da Quaresma.
Orar é participar na oração de Cristo; o jejum e a esmola são formas de caridade porque a Quaresma é o tempo forte de actos de amor para com os irmãos, tanto os que estão perto como longe. Não há verdadeira conversão a Deus sem conversão ao amor fraterno (1 Jo. 4, 20).
A renúncia a que o cristão é chamado na Quaresma, tanto através do jejum, como da esmola, é uma exigência da fé que se torna activa no amor pelos irmãos, é um sinal de justiça e caridade.
O jejum (abstinência) é uma disciplina espiritual que, aliada à oração, nos ajuda a subjugar o nosso desejo insaciável tornando-nos conscientes da nossa abundância e permitindo-nos experimentar satisfação e contentamento em Deus. Através dele, Deus livra-nos da frenética corrida da acumulação egoísta abrindo-nos para as necessidades do nossos semelhantes. Aqui já não importa o que falta ao outro: paz, comida, dinheiro, alegria, liberdade, afecto, salvação… Se eu tenho em abundância, posso repartir para que o meu irmão tenha, ao menos, o mínimo necessário.
É este amor concreto enraizado em Deus que confere à abstinência de comida – ou de qualquer outra coisa – um sentido religioso. Se faltar este elemento, o jejum não será nada mais do que meramente uma experiência de privação.
1 comentário:
gostei muito deste texto ..
que nesta quaresma o senhor nos mostre o verdadeiro sentido do jejum e abstinençia ..
abraço fraterno ..
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