O Jesus que Lucas apresenta aos seus leitores, desde o Presépio ao Calvário, é a manifestação e ilustração perfeita da bondade e misericórdia de Deus. O "amigo de publicanos e pecadores" não se desmente na hora da Cruz.
Ele, que "passou fazendo o bem", no momento derradeiro da sua existência terrena deixa como última palavra e testamento uma promessa de perdão a um malfeitor que agoniza a seu lado. O ladrão apela ao "reino" de Jesus, como se tivesse lido a inscrição que encima o patíbulo. E Jesus promete-lhe recebê-lo no paraíso. Num momento de desorientação geral apenas um delinquente mantém a fé em Cristo. Os inimigos triunfam, os discípulos fogem: só este condenado anónimo confessa a messianidade de Jesus, não obstante as condições em que Ele agora se encontra.
Só raramente se encontra nos Evangelhos um tal exemplo de fé. Normalmente reconhece-se a dignidade de Jesus depois de algum milagre, mas nunca em circunstâncias tão negativas.
O "bom ladrão" é uma figura real e simbólica. É o tipo do crente. Perante o Crucificado - um inocente injustamente condenado - o homem é convidado a reflectir e a aceitar o seu próprio destino, ainda que penoso e, porventura, não merecido.Modelo de crente, o ladrão sentenciado torna-se de algum modo um "catequista". Não fazendo caso do seu próprio sofrimento, ele esforça-se por fazer cair em si o colega desesperado. Para este "discípulo" que fala do alto da cruz, Jesus é o modelo para o qual todos são convidados a olhar, a começar pelos mártires que sofrem a sua mesma sorte, mas incluindo também ou sobretudo os pecadores, aqueles que sofrem merecidamente por causa das suas faltas e culpas. Em Jesus, todos encontram refúgio. Verdadeiramente grave não é a condenação ao patíbulo, mas a exclusão do reino de Deus. Jesus marca encontro com o seu interlocutor não na morada dos mortos, mas no reino da vida e dos vivos.
Estamos perante um verdadeiro "precónio pascal", anúncio da vitória sobre a morte para Jesus e para quantos nele crêem.
(Voz Portucalense/online)
1 comentário:
Um belo texto, ao catequismo do ladrão arrependido, contraponho a do ladrão que desafia: quantos de nós também não nos Lhe dirigimos assim? Sulpicando que nos salve como se tal fosse a mera realização de um capricho!
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