Marcos realça que Jesus "anunciava a palavra" à multidão que enchia sua casa. É próprio deste evangelista o destaque maior à palavra de Jesus, que liberta e comunica a vida. Entra em cena um paralítico, carregado por quatro homens, e segue a cena pitoresca da sua descida, deitado na maca, por um buraco feito no tecto da casa. Jesus é tocado pela fé, não só do paralítico, mas também daqueles que o acompanham. O paralítico, portador de uma deficiência física, era considerado doente. E a doença, atribuída a um castigo divino, em consequência de algum pecado cometido. Esta compreensão, com respaldo em várias passagens do Antigo Testamento, era fundamentada na teologia da retribuição: o Altíssimo premeia com riqueza e saúde os justos e castiga com pobreza e doença os pecadores. No Livro de Jó, o autor faz uma tentativa de reverter esta visão. O pecado introduzido no livro dos Génesis, na narrativa de Adão e Eva no paraíso, é essencialmente um acto de desobediência a Deus. E é com esta característica radical que aparece ao longo do Antigo Testamento. Na religião de Israel, Deus é apresentado como aquele que está presente no templo de Jerusalém e se manifesta através da Lei, com suas centenas de preceitos minuciosos, sob controle da casta religiosa. A desobediência a este poder religioso passa a ser a desobediência a Deus, passa a ser pecado. E o povo humilde e oprimido era, comummente, enquadrado como pecador. Jesus, diante daquele paralítico, dá prioridade à sua libertação da condição humilhante e excludente de "pecador". E a libertação de sua paralisia segue-se como sinal exterior de sua dignidade restaurada.
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